Ficha do Proponente
Proponente
- Gisella Cardoso Franco (UFF)
Minicurrículo
- Gisella Cardoso é mestranda em Cinema no PPGCine e bacharel em Comunicação pela UFF. Gerente de produção na H2O Films, foi curadora de mostras como Paulo José – 40 anos de cinema, Olhares Neo-realistas, Cinema Indiano Contemporâneo e Clint Eastwood- Clássico e Implacável. De 2009 à 2013 foi Coordenadora de Difusão e Acesso da SEC-RJ, sendo responsável pela gerência do Cinema Para Todos. Faz a produção e coordenação de conteúdo do O País do Cinema, que está na 6ª temporada no Canal Brasil.
Ficha do Trabalho
Título
- A condição desviante e decolonial do programa Imagens em Movimento
Formato
- Presencial
Resumo
- O projeto Imagens em Movimento parece se conectar com uma postura decolonial que assume a condição desviante de se estar na escola e dialoga com o desejo de caminhos alternativos para que jovens dêem outras respostas ao mundo e possam gerir diferentes formas de habitar. Refletir sobre como o programa coloca em prática uma ruptura em relação ao clássico modelo de prática educacional, trazendo uma postura que assume fragilidades e incertezas, mas que proporciona encontros, afetos e descobertas.
Resumo expandido
- Através da pesquisa e contato que venho tendo com o Programa Imagens em Movimento, que promove oficinas de filmes em escolas da rede pública no Rio de Janeiro, sinto que posso dizer que a realização do projeto e dos seus filmes apontam para outros desejos e formas de se estar na escola, de se estar no mundo e do fazer parte de territórios marcados pela desigualdade que a maioria das crianças e jovens habitam. Parece haver um desejo de fugir do tema da violência e da criminalidade que são vividos e retratados em diversos filmes da história do nosso cinema e que se passam no espaço da favela ou do subúrbio, assim como uma vontade de escapar da morte e das faltas de diferentes ordens que fazem parte de seus cotidianos. Os filmes parecem querer desviar desse anti mundo que os oprime, refletindo vontades de mostrar relações, amores, encontros, conquistas e afetos que os atravessam de várias formas, passando inclusive por temas mais complexos que giram em torno de uma investigação sobre suas memórias e antepassados, falando do universo particular desses jovens, de suas subjetividades, de quem eles são para além dos lugares que hoje eles habitam.
Pensar a potência da imagem dentro da sala de aula, que pode ser instauradora de experimentações que criamos com nós mesmos, com os outros e com o mundo, intimamente ligada aos processos individuais mas também coletivos como os processos de entendimento do mundo e dos outros, de tudo aquilo que não é diretamente vivido pelos sujeitos, evocando a alteridade que é condição própria do cinema.
Mostrar e falar do que os filmes realizados nas oficinas revelam a partir de um olhar mais atento às imagens. Mostrar os ônibus cheios, vazios, caóticos e quebrados. As ruínas, imperfeições e elementos caóticos que fazem parte das paisagens. As portas de banheiro rabiscadas. O mundo e o desejo de mundo se inscrevendo e se revelando, em portas e muros que projetam sonhos, resistências e apelos. Câmeras de filmar que observam e que capturam o que é possível na paisagem, que implicam os corpos dos alunos no processo criativo, inventando outros mundos possíveis, outras realidades mostradas; outras histórias e sujeitos, que amam, desejam, lutam e mobilizam. Mas que acima de tudo se relacionam e se afetam.
Pensar como a realização do projeto Imagens em Movimento e seus filmes estão conectados com um gesto e uma postura decolonial que assume a condição desviante de se estar na escola e que dialoga com o desejo de percurso de caminhos alternativos de jovens que estão dando outras respostas ao mundo e gerindo diferentes formas de habitar (mesmo com a ponte direta que o programa faz com a obra do francês Alain Bergala e com o programa Cinema Cem Anos de Juventude). Nossa proposta é refletir sobre como a realização do programa traduz um movimento decolonial que coloca em prática uma ruptura em relação ao clássico modelo de prática educacional, trazendo uma postura viva, que assume fragilidades, imperfeições, dúvidas, incertezas e que, acima de tudo, expressa uma busca capaz de instigar e transformar positivamente a ideia de aprendizado e do se estar na escola, com todo o componente de troca e descoberta que naturalmente essa experiência possui.
Nos propomos ainda relacionar as ideias do programa e uma fazer uma breve analise de uma seleção de curtas realizados pelos alunos aos olhos das reflexões de Luiz Rufino em “Vence Demanda, Educação e Descolonização”. Rufino encara a educação como força de batalha e cura, espaço pulsante que possibilita outros encontros, afetos e investigações, e que envolve sensações de implicação, de amor, de fúria, de cumplicidade e de rebeldia. Para o autor, “a educação como ato de descolonização convoca o oprimido como uma espécie de xamanismo – um mergulho profundo em si, nas suas ambivalências, fraturas, fraquezas e forças – e para um desaguar em dizeres múltiplos que transcendem a escassez da métrica dominante e confluam em uma comunidade de sentidos plural que inscreva a liberdade”.
Bibliografia
- BERGALA, Alain: A Hipótese-Cinema. Pequeno Tratado de Transmissão do Cinema Dentro e Fora da Escola. Rio de Janeiro: Booklink – Cineadlise-Fe/UFRJ, 2008.
FRESQUET, Adriana: “Cinema e Educação. Reflexões e Experiências com Professores e Estudantes de Educação Básica, Dentro e “Fora” Da Escola”. Autêntica, 2013.
RUFINO, Luiz: “Vence Demanda – educação e descolonização”. 1. ed – Rio de Janeiro: Mórula, 2021.
HOOKS, bell: “Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade”
EXTRA: Site do programa Imagens em Movimento: https://imagensemmovimento.com.br/