Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Butcher (ESPM-RJ)
Minicurrículo
- Professor do curso de cinema e audiovisual da ESPM-Rio. Em 2019, defendeu a tese “Hollywood e o mercado de cinema no Brasil: princípios de uma hegemonia” (UFF). É um dos curadores da Mostra CineBH e integra a equipe do encontro de coprodução Brasil CineMundi. Desde 2017 é mentor do Talent Press do Festival de Berlim e coordenador do Talent Press Rio, realizado no âmbito do Festival do Rio. Assina a coluna Janela Crítica, no Valor Econômico.
Ficha do Trabalho
Título
- A corrente do streaming: questionamentos e reflexões em fluxo
Mesa
- A corrente do streaming: questionamentos e reflexões em fluxo
Formato
- Presencial
Resumo
- O “streaming” representa mais uma etapa no longo processo de digitalização da ampla e complexa cadeia do audiovisual e traz as mudanças mais profundas na produção, circulação e recepção das obras. Nesse contexto, faz-se urgente refletir sobre a organização do setor, que atravessa um momento de mudança de paradigma, redistribuição de poderes e capitais e fortes disputas por reorganizações de hegemonias. A sessão se propõe, então, a ampliar o debate no fluxo desse processo cheio de ambivalências.
Resumo expandido
- O significado mais comum de “stream” é corrente, fluxo. Voltar à origem da palavra “streaming” pode ajudar a compreender melhor essa forma relativamente nova de reprodução de imagens e sons que tem provocado transformações profundas na organização da cadeia industrial e nos hábitos da apreciação e do consumo do audiovisual.
A especificidade do fluxo do streaming está no fato de ser resultado de um processo de digitalização em que a obra é traduzida em linguagem binária e pode ser acessada por um dispositivo em rede. O termo, no entanto, passou a ser usado para definir um fenômeno político, cultural e econômico mais amplo e ainda em desenvolvimento, exigindo da academia uma reflexão mais profunda e debates que dêem conta dessa complexidade.
Buonanno (2019) apresenta duas tendências nos estudos sobre serialidade, modelo mais discutido no streaming: a continuidade negada, “que defende uma ruptura radical entre as formas televisuais contemporâneas e as anteriores”; e a ruptura ignorada, uma suposta “cegueira da academia ao fim da serialidade, provocado pelas novas práticas de recepção”. Cada uma das tendências seria uma expressão desse atual fascínio que também se aplica ao streaming e como indica, ao mesmo tempo, uma preocupação da academia com a legitimidade cultural, muitas vezes associada ao novo, e uma escassa perspectiva histórica que enfatiza mais ganhos e incrementos ligados a inovações tecnológicas do que perdas.
A sessão propõe debater o streaming dentro de um contexto maior do audiovisual a partir do diálogo entre os trabalhos dos três pesquisadores proponentes e suas diferentes perspectivas: Pedro Butcher aborda os possíveis paralelos entre os esforços de constituição de hegemonias de Hollywood e do atual mercado global; Pedro Curi propõe uma discussão sobre as diversas formas de mediação que se estabelecem na recepção das diferentes audiências de streaming; e Lia Bahia reflete sobre a imposição agressiva do modelo de produção dos serviços de streaming e no espaço audiovisual brasileiro e suas incidências políticas, econômicas e simbólicas, como detalhado abaixo:
Projeto hegemônico em Hollywood e no streaming: paralelos/divergências, Pedro Butcher
Um relatório do fundo de coprodução “Film i Vast” (Eskilsson, 2022) chama atenção para o fato de que o setor audiovisual segue estruturado sobre paradigmas que vêm sofrendo fortes abalos pelo processo de digitalização. O relatório observa, porém, que “a ideologia do ‘novo mundo’ guarda fortes semelhanças com a ideologia comercial que dominou o modus operandi da indústria cinematográfica americana”. É possível afirmar que o streaming se faz valer de estratégias semelhantes às do sistema de estúdios hollywoodiano? Quais seriam as aproximações possíveis entre esses dois tempos históricos?
Usuário ou espectador: recepção audiovisual em tempos de streaming, Pedro Curi
O aumento da oferta de conteúdos – ou mesmo plataformas – de streaming tem exigido do público um esforço de escolha cada vez maior. A transmissão para grandes públicos definidos por critérios demográficos de identidade e antigos sistemas de recomendação dão lugar aos algoritmos e à promessa da internet de uma personalização do conteúdo feita especialmente para as necessidades do “usuário”. De que forma as práticas de mediação entre espectadores se adaptam nesse contexto?
Um estudo exploratório sobre modelo de produção do streaming no Brasil, Lia Bahia
Ainda sem regulação no país, o streaming traz novos desafios para os agentes do setor e para a geopolítica do conhecimento. A proposta é analisar os tensionamentos gerados pela imposição de um agressivo modelo de produção do streaming no audiovisual brasileiro e como este molda determinadas convenções éticas e estéticas. Entre os principais desafios está a necessidade de repensar o papel, o foco e a relevância da regulação e do fomento público audiovisual no Brasil, a partir de uma agenda decolonial e de atenção à estrutura opressora do tripé do poder, saber e ser.
Bibliografia
- BUONANNO, Milly. Serialidade: continuidade e rupture no ambiente midiático e cultural contemporâneo. In: Matrizes, São Paulo, v. 13, n. 3, p. 37-58, 2019.
BUTCHER, Pedro. Hollywood e o mercado de cinema brasileiro: princípio(s) de uma hegemonia (tese), UFF, 2019.
ESKILSSON, Tomas. Public Film Funding at A Crossroads, 2022.
FREY, Mattias. Netflix Recommends: algorithms, filme choice, and the History of Taste. University of California Press, 2021.
GAUDREAULT, André e MARION, Philippe. O fim do cinema: uma mídia em crise na era digital. Campinas; Papirus, 2016.
MEIMARIDIS, M., MAZUR, D. & RIOS, D. (2021). De São Paulo a Seúl: las estrategias de Netflix en los mercados periféricos. Comunicación y Sociedad, e8038.
THOMPSON, Kristin. Exporting Entertainment: America in the World Film Market, 1985.
VASEY, Ruth. The World According to Hollywood: 1918-1939. Madison: The University of Wisconsin Press, 1997.