Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Priscila Ferreira Gomes (Unicamp)

Minicurrículo

    Atriz, musicista e pesquisadora. Possui graduação em Interdisciplinar em Artes pela Universidade Federal da Bahia (2017). Tem experiência na área de Artes, desenvolveu trabalhos no âmbito do teatro, música, dança e produções audiovisuais (curta metragem, publicidade). Entre 2015 e 2017 participou do Miradas, grupo de pesquisa do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT) da UFBA, orientada pela Profa. Dra. Linda Rubim. Mestranda em Multimeios, UNICAMP, orientação Luiza Lusvarghi.

Ficha do Trabalho

Título

    O protagonismo feminino no filme Carlota Joaquina de Carla Camurati.

Formato

    Presencial

Resumo

    A investigação do protagonismo das mulheres, a partir da análise do filme histórico Carlota Joaquina, a Princesa do Brazil (Carla Camurati, 1995), possibilita compreender como a nova forma de fazer cinema no Brasil se relaciona com a construção estética feminina, estabelecendo um percurso histórico da presença da mulher no cinema nacional, sob a ótica das Epistemologias Feministas. O ideal é oferecer os meios para um novo pensamento crítico através da força das potências estéticas femininas.

Resumo expandido

    A obra Carlota Joaquina, princesa do Brazil, Carla Camurati (1995), marcou o processo do cinema de Retomada, sendo o primeiro sucesso de público da década de 1990, com participação em 40 festivais e cerca de 1,5 milhão de espectadores. Tal conquista pode ser justificada não apenas através do conteúdo do filme, mas também, pela iniciativa de captação de recursos e distribuição do produto pelas mãos da própria diretora, pesquisadora e co-autora do roteiro, Carla Camurati.
    Revisar o “Carlota” é uma forma de recuperar a existência e resgatar a memória cultural do país em relação ao cinema brasileiro feito por mulheres. Analisar como a representatividade e a representação podem se relacionar em prol de um cinema feminista, levando em consideração o sucesso obtido pela diretora Carla Camurati, que trouxe o tema nacionalista por uma perspectiva histórica, expondo a forma como ela constrói o seu discurso e o significado que dá à sua personagem principal, proporcionando a construção da imagem feminina fora dos moldes narrativos tradicionais. Qual a diferença ao colocar, por exemplo, uma personagem histórica, Carlota Joaquina, como protagonista sob a ótica de uma mulher, diretora, roteirista, contando a história do seu país?
    É perceptível a lacuna significativa no que se diz respeito à invisibilidade histórica que
    é dada às mulheres no cinema, e um dos principais objetivos da teoria feminista do cinema é o de
    desconstrução dos fundamentos que direcionam diferentes possibilidades de interpretação dos
    filmes, como também estabelecer um percurso histórico da presença da mulher no cinema. Reagir
    ao poder centralizador masculino, é um jeito de subverter as marcas ideológicas nas quais sustenta se historicamente o cinema nacional.
    O cinema brasileiro passou, e ainda passa, por transformações quanto à linguagem e à
    temática. Há uma constante busca de uma estética própria na história da cinematografia nacional,
    que identifique a brasilidade de um país tão diverso. A partir da observação desse padrão no
    comportamento do cinema brasileiro, fitando o trabalho de Carla Camurati com o “Carlota”, que
    surgiu essa necessidade de analisar, durante o Cinema de Retomada, a mudança no
    estilo de narrativa, as imagens cinematográficas (onde a figura feminina se relaciona com cenário,
    plano, luz, figurino), as imagens representativas femininas projetadas na tela. Importante observar
    também, até que ponto a abordagem da temática feminina pode comover e transformar a
    representatividade da mulher de cinema para suas espectadoras e para uma nova forma de contar
    a história do cinema nacional.
    Durante muito tempo, o estereótipo criado para representar a mulher no cinema, sejam
    as personagens, ou a técnica, obedeceu a vínculos, simbologias e regras impostas pela sociedade
    brasileira no seu contexto social e cultural misógino. Vista disso, ao longo da história as mulheres
    tiveram que suprimir a própria singularidade para poder participar de um local que, a priori, não é
    direcionado a ela.
    É através da representação do feminino, antes recusada, que o cinema de autoria
    feminina encontra uma forma de criar espaços para a sua execução se tornar possível. Ao passo
    que a sociedade muda, as formas de representação das experiências femininas vão ganhando mais
    extensão. É nesse processo de escrita de sua história, associada à memória e ao não apagamento
    de suas conquistas, que a representação da mulher, de forma verossímil no cinema, ganhou espaço.
    Mas ainda há muito que se edificar.
    O objetivo é contribuir para o fortalecimento da luta para demarcar o espaço feminino num ambiente ainda frequentemente hostil e dominado por homens. Lançando luz às cineastas, às experiências das atrizes, e ao diálogo com o público feminino, para que possamos diminuir essas trajetórias obscurecidas, até aqui quase completamente apagadas na historiografia do cinema brasileiro.

Bibliografia

    CALLIGARIS, Contardo; HOMEM, Maria. Coisa de Menina?: Uma conversa sobre gênero,
    sexualidade, maternidade e feminismo. Campinas: Editora Papirus, 2019.
    HOLLANDA, Heloísa Buarque de, Karla Holanda e Marina Cavalcanti Tedesco (orgs.);
    Feminino e Plural: Mulheres no Cinema Brasileiro, Campinas: Papirus, 2017.
    HOOKS, Bell. O olhar opositivo – a espectadora negra. In: ALMEIDA, Carol Fora de quadro:
    sobre que imagens precisamos falar? Disponível em: Acesso em: 26 nov. 2020.
    LAURETIS, Teresa de. A tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.).
    Tendências.
    LUSVARGHI, Luiza; SILVA, Camila Vieira da. Mulheres atrás das câmeras. As cineastas
    brasileiras de 1930 a 2018. São Paulo: Estação Liberdade, 2019.
    NAGIB, Lúcia. Além da diferença: a mulher no Cinema de Retomada. Belo Horizonte: Devires,
    V. 9, N. 1, P 14-19, JAN/JUN/2012.
    RUBIM, Linda. Miradas: gênero, cultura e mídia. Salvador: EDUFBA, 2014