Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcelo Rodrigo Mingoti Müller (Unifor)

Minicurrículo

    Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/ USP(2016). Formado pelo Curso Regular da EICTV (Cuba, 2001) e na Graduação em Cinema e Vídeo da ECA/USP (2003). Professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza e do curso regular e maestria em roteiro da EICTV (Cuba). Diretor de “Eu te Levo” (2017). Co-roteirista de “Infância Clandestina” (Benjamin Ávila, 2012), “O Outro Lado do Paraíso” (André Ristum, 2014), entre outros longa-metragens e séries.

Ficha do Trabalho

Título

    Estilo em Realidade Virtual Cinemática: do tableau à decupagem

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho procura identificar padrões de estilo cinematográfico nos filmes realizados em Realidade Virtual Cinemática, principalmente o uso da encenação em profundidade e da decupagem analítica. A abordagem poética parte da história do estilo cinematográfico para definir um repertório de opções estilísticas e narrativas, além de explorar as consequências de características específicas da realidade virtual cinemática, como a sensação de presença proporcionada ao espectador.

Resumo expandido

    Faz menos de uma década que, enquanto realizava o curta-metragem de animação em realidade virtual Henry (Dau, 2015), o produtor Maxwell Planck percebeu que a compreensão do espectador sobre a montagem funcionava de forma diferente em um ambiente imersivo que em um filme tradicional. Segundo ele, a sequência proposta para abrir o filme, composta por planos rápidos com pequenas elipses entre si para sintetizar a preparação da festa do protagonista do filme, seria contraditória com a sensação de presença do espectador, proporcionada pela realidade virtual (Planck, 2018). Como solução, os realizadores optaram por fazer todo o curta-metragem em um único plano sequência, posicionando a câmera em um local privilegiado no centro do cenário da casa do personagem. Assim, o espectador acompanha os personagens que se movimentam ao redor dele, numa reelaboração imersiva da encenação em profundidade intensamente explorada no cinema. O mesmo esquema de encenação foi adotado em muitos filmes de realidade virtual cinemática realizados no período de 2015 até 2018, como Help (Lin, 2015), Invasion (Darnell, 2016), The Invisible Man (Keijzer, 2016), Crow The Legend (Darnell, 2018), entre outros. Para analisar as opções de estilo destes filmes, iremos compará-los à encenação em profundidade no cinema, passando pelo tableau de Feuillade (Bordwell 2008 I) à discussão sobre o plano sequência por Bazin em seu paradigmático artigo A Evolução da Linguagem Cinematográfica (1991).
    Mesmo que o plano sequência pareça ter se tornado a opção hegemônica nos primeiros anos de produção, é importante notar que o repertório de opções de estilo em realidade virtual cinemática não se limita a essa forma. Há um processo intenso de experimentação, de tentativa e erro, que aponta para outras soluções de estilo, como em _Hello (Capitaine, Klughertz, 2021), cuja divisão em planos obedece à lógica da decupagem analítica. Neste filme, uma sequência de cortes rápidos com elipses de tempo mostra que, em determinados casos, o modelo pretendido e descartado por Planck ao realizar Henry pode funcionar perfeitamente sem provocar confusão no espectador. O filme também apresenta soluções de decupagem que remetem ao padrão de campo/ contracampo do cinema tradicional. Neste filme, a estratégia principal parece ser a utilização de mecanismos de condução do olhar do espectador, que podem ser analisados a partir do inventário de estratégias de direção da atenção em realidade virtual cinemática em Rothe (2019).
    Tal e qual o processo de experimentação e construção de repertório realizado pelos cineastas entre os anos de 1910 e 1920 (Bordwell, 1997, p. 12), os realizadores de filmes em realidade virtual cinemática também parecem estar ocupados em explorar as possibilidades do meio e definir seu próprio repertório de opções estilísticas e narrativas. Para os cineastas que aprenderam a contar histórias com a base teórica e prática do cinema, parte importante desta tarefa está em compreender as repercussões nas suas opções de estilo de questões específicas da realidade virtual cinemática, como imersão e sensação de presença, mas também as possibilidades do espectador de interagir com a narrativa e com o ambiente (Matter 2017, Haga 2021, Dooley 2017, entre outros). Por isso, este trabalho procura identificar e discutir padrões e tendências da encenação em profundidade e a decupagem nos filmes de realidade virtual cinemática, com o objetivo de entender melhor o repertório e as opções de estilo apresentadas aos realizadores até este momento. Nossa perspectiva é a das poéticas e considera que a construção de um filme é baseada em um processo de decisões (Gibbs, 2006), que levam em conta não apenas os padrões e as normas estabelecidas (Bordwell, 2008 II), mas também o contexto em que as obras são produzidas (Bordwell, 1997), e as relações entre uma grande quantidade de elementos em uma complexa rede de criação (Salles, 2006).

Bibliografia

    BAZIN, A. O Cinema. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991
    BORDWELL, D. Figuras Traçadas na Luz. Campinas: Papiros, 2008 I
    __. On The History of Film Style. Harvard University Press: 1997
    __. Poetics of Cinema. New York: Routledge/ Taylor & Francis, 2008 II. E-book
    DOOLEY, K. Storytelling with virtual reality in 360-degrees: a new screen grammar. Studies in Australasian Cinema. 2017
    GIBBS, J. Filmmakers’ Choices. IN: Close-UP 01. London: Wallflower: 2006
    HAGA, O. Film Style In Cinematic Vr. Animation Studies, 2021
    MATEER, J. (2017). Directing for Cinematic Virtual Reality: how traditional film director’s craft applies to immersive environments and notions of presence. Journal of Media Practice
    PLANCK, M. VR Is More than an Empathy Machine; It’s a Memory Machine. Medium. 2018
    ROTHE S, Buschek D, Hußmann H. Guidance in Cinematic Virtual Reality. Multimodal Technologies and Interaction. 2019; 3(1):19.
    SALLES, C. Redes de Criação. São Paulo: Horizonte, 2006