Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriela Rizo Ferreira (Catu Rizo) (UNESPAR)
Minicurrículo
- Gabriela Rizo (Catu Rizo) é professora de Direção de Fotografia da Faculdade de Artes do Paraná, a UNESPAR. Cineasta e fotógrafa com bacharel em Cinema e Audiovisual e mestra pelo programa de Cultura e Territorialidades, ambos pela UFF. Ela integra o coletivo de mulheres e pessoas transgênero do Departamento de Fotografia do Brasil (DAFB). Faz parte do movimento Baixada Filma. É realizadora dos filmes “Com o terceiro olho na terra da profanação” (2017) e “A terra das muitas águas” (2020).
Ficha do Trabalho
Título
- BaixadaCine: o cinema inventando territórios
Seminário
- Cinemas pós-coloniais e periféricos
Formato
- Presencial
Resumo
- Nesta proposta pretende-se adensar uma reflexão sobre a experiência de cinema que se constrói na Baixada Fluminense. A análise terá como foco a atuação do coletivo BaixadaCine, que articula formação, produção e exibição como um modo operante imbricado em seu fazer audiovisual. Compreendendo que o cinema pode ser uma experiência comunitária com potencial de reinvenção de imaginários, nos interessa interrogar como as narrativas periféricas rearticulam conceitos, como: periferia, centro e memória.
Resumo expandido
- Nesta proposta pretendo adensar uma reflexão sobre a experiência de cinema e audiovisual que se constrói na Baixada Fluminense. A análise terá como foco a atuação do coletivo BaixadaCine, que articula formação, produção e exibição como um tripé e um modo operante intrínseco e imbricado em seu fazer audiovisual. Compreendendo que o cinema pode ser uma experiência artística, tecnológica e comunitária com potencial de reinvenção de imaginários, me interessa interrogar como as narrativas cinematográficas periféricas rearticulam conceitos, como: periferia, centro e memória.
A BaixadaCine é um coletivo criado em 2016 na cidade de Belford Roxo, a única cidade do país com mais de 500 mil habitantes sem nenhuma sala de cinema, segundo a ANCINE (2019). A paixão pelo cinema foi o catalisador para a criação do coletivo que nasce com o intuito não só de realizar filmes independentes, mas também de criar espaços de formação e exibição cinematográfica na cidade. Neste caminho estético-político proposto pelo coletivo, qualquer câmera pode ser uma câmera de cinema, qualquer território pode vir a tornar-se cenário cinematográfico. Qualquer pessoa pode ser um ator. Qualquer parede pode ser uma tela de cinema. O ruído na imagem, o ruído no som é construção, escolha e condição material da realização. A performance, a metalinguagem, o afeto, o diálogo com outras mídias se imbricam em um cinema que extrapola a tela e o próprio dispositivo da sala escura. A luz em movimento opera nos espaços que se mantiveram na opacidade do imaginário estético hegemônico brasileiro, não para torná-lo transparente e sim para novos gestos de fabulação e invenção.
A Baixada Fluminense é conceituada como um território periférico que carrega o estigma e o estereótipo da história única (ADICHIE, 2009), a violência em si do apagamento de sua multiplicidade. Sendo o cinema baixadense um espaço de invenção que disputa com os regimes de verdade que cristalizam de forma negativa o imaginário sobre a região. A produção baixadense vem se articulando nos últimos anos com bastante consistência. Em 2018, foi lançado o Manifesto Baixada Filma que demanda a territorialização dos recursos públicos no Estado do Rio de Janeiro para o setor audiovisual. Há um histórico importante a se destacar, visto que foi na Baixada Fluminense que surgiu e permaneceu por dezesseis anos a maior experiência de tv comunitária da América Latina, a TV Maxambomba. Experiência que também primava pelo tripé da formação, produção e exibição audiovisual nas praças públicas da Baixada. A Maxambomba, assim como a TV Olho e os cineclubes da região foram e ainda são uma verdadeira escola e fonte de inspiração para as novas gerações de realizadores da região.
Esta proposta de comunicação é fruto da minha dissertação e atuação, enquanto professora e pesquisadora-cineasta, que se interessa nas relações entre cinema e cidade e na potência transformadora de expansão e criação de imaginários. A relação com a cidade pelo o cinema se dá em um microcosmo cotidiano em que modos de produção horizontais e colaborativos são experienciados e a construção dos filmes fortalecem o sentimento de pertencimento daqueles que participam de sua feitura e exibição. Os filmes e os modos de produção baixadense criam um espaço-tempo de fabulação da memória e de invenção de futuros para o território.
Bibliografia
- ADICHIE, Chimamanda. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
BHABHA, H. O local da cultura. BH: UFMG, 2007.
DUTRA, R. da S. História da TV Olho: a primeira TV de rua do Brasil. Rio de Janeiro: UERJ, 2016. Dissertação.
ENNE, Ana Lúcia.” Identidades como dramas sociais: descortinando cenários da relação entre mídia, memória e representações acerca da Baixada Fluminense”. In: RIBEIRO, Ana Paula Goulart; FERREIRA, Lúcia Maria Alves. Mídia e memória: a produção de sentidos nos meios de comunicação. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
HALL, Stuart. Representation: Cultural Representations and Signifying Practices. Londres: Sage, 1997
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
MBEMBE, Achille. On the postcolony (studies on the history of society and culture). University of California Press, 2001.
SANTOS, M. Território e sociedade – Entrevista com Milton Santos. São Paulo. Editora Fundação Perseu Abramo. 2000.