Ficha do Proponente
Proponente
- Irislane Mendes Pereira (UNICAMP)
Minicurrículo
- Doutoranda em Multimeios pela Unicamp, mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), especialista em Semiótica psicanalítica-Clínica da Cultura, pela mesma universidade e graduação em Desenho Industrial – Programação Visual pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Docente nos cursos técnicos de Produção em Áudio e Vídeo e Multimídia na Etec Jornalista Roberto Marinho, ministrou aulas no curso de Design da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema coletivo e decolonial na produção audiovisual das bordas
Seminário
- Cinemas pós-coloniais e periféricos
Formato
- Presencial
Resumo
- O que falar do cinema de borda, das margens, da quebrada, de garagem ou periférico? Muitos adjetivos para classificar um cinema que transcorre, avança e perfura as estruturas identitárias, contaminando todo um “centro”. Lançados em 2019, os curtas-metragens Bonde (Gleba do Pêssego) e Perifericú (Maloka Filmes), com direção coletiva, formada por realizadores LGBTs vindos das regiões periféricas da cidade de São Paulo, mostram-se como possibilidade de um cinema de representatividade e decolonial.
Resumo expandido
- O que falar do cinema de borda, das margens, da quebrada, de garagem ou periférico? São muitos os adjetivos para classificar um cinema pungente e criativo que vem ressignificando e contaminando todo um “centro”. Nesse cenário, se faz necessário a atualização e o entendimento desses conceitos constituintes de discursos acerca dessa produção específica, cada vez mais presente no audiovisual brasileiro.
Angela Prysthon (2005: 443) propõe uma leitura de cinema periférico a partir da abordagem dos filmes mainstream do cinema nacional contemporâneo que “vem reelaborando insistentemente o problema do periférico, tematizando as ‘margens’ do Brasil das mais diversas formas […]”. Para Milton Santos (2006: 212), as margens se fundem ao centro para formar, a partir da leitura da metáfora de Pascal, “o universo visto como uma esfera infinita, cujo centro está em toda parte[…]”. E, retornando à Prysthon (2005: 443): “De repente, as margens passam a centro e o centro a margem, numa celebração catártica das diferenças em desfile.”
Ao escolher tratar como Cinema das bordas, tomo emprestada a definição proposta pela pesquisadora e professora Jerusa Pires Ferreira (2010: 11), como forma de solucionar “nomenclaturas como o de margens e marginalidades ou cultura periférica”. Acrescento à escolha a definição de Diana Junkes (2020: 21) quanto às bordas que se referem “à consideração de espaços não-canônicos e os traz para o centro da observação; portanto, chancela o que é tido como periférico, marginal, se quisermos, excêntrico.”
Lançados em 2019, os curtas-metragens Bonde (produção do Coletivo Gleba do Pêssego) e Perifericú (produção do Coletivo Maloka Filmes) tiveram destaque e projeção em mostras e festivais nacionais e internacionais. Com direção coletiva, formada por realizadores LGBTs vindos das regiões periféricas da cidade de São Paulo, jovens com formação em cursos livres ou cursos técnicos em cinema, desafiam e modificam a produção audiovisual brasileira. Mostram-se como possibilidade de um cinema de representatividade, um cinema decolonial construído dentro da multiplicidade de vozes e urgências, que passam por questões de gênero, de corpos marginalizados, das negritudes; propondo a discussão sobre temas considerados ainda tabus que questionam padrões e agregam as minorias.
Ao colocar identidades diversas nas telas em diálogo com a contemporaneidade, juntamente com acesso às novas tecnologias e linguagens, o que nos chega é uma produção inventiva, original e que, em certa medida, atualiza e reescreve o conceito “Cinema Periférico de Bordas” tratado por Bernadette Lyra (2016: 47). Não mais visto de forma precária na técnica, em decorrência ao orçamento baixíssimo, não mais visto como uma apropriação imitativa e fragmentária de gêneros e sim, se distanciando dos marcadores pertencentes a determinadas regiões culturais ou geográficas do Brasil, tornando-a mais universal. O que essa produção nos possibilita é um olhar atento e crítico a respeito de uma realidade que nos circunscreve e nos coloca no centro e nas bordas.
Se “o decolonial antevê e deseja”, segundo Michelle Sales e Pablo Assumpção (2019: 2), a coletividade coloca esse projeto em prática. Pois é esse cinema que atravessa, transcorre, avança e perfura as estruturas identitárias da cidade de São Paulo, através da produção coletiva e decolonial, que estará presente no Cinema das bordas. Para Stuart Hall, “Estamos nos limites extremos, nas ‘bordas’ do mundo metropolitano – sempre ao sul de El Norte de alguém mais.” (HALL, 1996: 71)
Bibliografia
- FERREIRA, Jerusa Pires. Cultura das bordas: Edição, comunicação e leitura. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2010.
HALL, Stuart. Identidade Cultural e Diáspora. Tradução de Regina Helena Fróes e Leonardo Fróes. Revista do Patrimônio, IPHAN, Brasília, nº 24, p. 68-75, 1996
JUNKES, Diana. Entretecer bordas, ultrapassar o signo: Uma leitura de Jerusa Pires Ferreira e Haroldo de Campos. In Cultura de bordas: do passado ao presente [recurso eletrônico] Org. Lucia Santaella. São Paulo: Educ, p. 15-26, 2020.
LYRA, Bernadette. A Experiência periférica das bordas no cinema. TOMA UNO, v. 1, p. 47-59, 2016.
PRYSTHON, Angela. Imagens periféricas: entre a hipérbole freak e a voz do subalterno. Actas do III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – V. III. p.441-449, 2005.
SALES. Michelle; ASSUMPÇÃO, Pablo. Dossiê Estéticas Especulativas Decolonias: Brasil,África, Portugal. Revista Vazantes. v. 3(1), 1-4, 2019
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4. ed. São Paulo: EDUSP, 2006