Ficha do Proponente
Proponente
- Alisson Gutemberg (Sem Vínculo)
Minicurrículo
- Alisson Gutemberg é Doutor em Ciências Sociais pelo PPGCS / UFRN, Mestre em
Comunicação e Culturas Midiáticas pelo PPGC / UFPB e Graduado em Comunicação
Social /Jornalismo pela UFRB. É, ainda, idealizador do Cinema com Teoria;
plataforma digital de educação e formação em artes.
Coautor
- Alexandre Rossato Augusti (UNIPAMPA)
Ficha do Trabalho
Título
- As marcas do cinema noir em Acossado
Formato
- Presencial
Resumo
- Na presente proposta, concentramo-nos na primeira das três fases que compõem a obra de Godard: o período da Nouvelle Vague, marcado pela defesa de um cinema de autor e pela construção de filmes narrativos, com apropriação de características de um cinema de gênero, mas ancorado pela ruptura com os códigos de linguagem que estruturam esses gêneros. Interessa-nos demonstrar como, em Acossado (1960), Godard se apropriou de códigos do noir, e, ao mesmo tempo construiu uma mise-en-scène singular
Resumo expandido
- Lançado em 1960, Acossado é o longa de estreia de Godard. O filme é baseado em uma história publicada nos jornais franceses durante os anos de 1950 e teve o seu argumento escrito por Truffaut, que, ainda no início da Nouvelle Vague, por uma baixa quantia financeira, o cedeu para Godard (MARIE, 2011). Permitindo, assim, a sua
estreia como diretor. O filme é dividido em três partes simétricas. A parte um – que inicia quando Michel (Jean-Paul Belmondo) rouba um carro e termina com o cair da noite, já em Paris, com o mesmo Michel dormindo sozinho no quarto de um hotel – contém seis sequências (as sequências marcam o desenrolar de uma ação), vinte e seis minutos e trinta segundos. Além disso, é composta por cento e cinquenta e um planos. E, nessa
primeira parte, prevalecem os planos curtos com cortes secos e rápidos. Já a parte dois – que tem início com o retorno de Patrícia (Jean Seberg) para o hotel e término quando os personagens abandonam o quarto – tem uma única sequência, vinte e quatro minutos, e menos de setenta planos. Nela, diferentemente do que ocorre na primeira parte, prevalecem planos mais longos. Por fim, a parte três – que se concentra na perseguição policial e no seu desfecho – contém sete sequências, pouco mais de trinta minutos e duzentos e onze planos. Mais uma vez, como na primeira parte, prevalecem os planos curtos com cortes secos e rápidos (MARIE, 2011).
Acossado conta com uma mise-en-scène bastante singular, e isso é exposto logo nos primeiros minutos do filme. A obra inicia com Michel roubando um carro e fugindo em direção a Paris. No meio do caminho ele ainda assassina um policial. Essa primeira sequência dura mais ou menos três minutos e quarenta segundos. Conta ainda com quarenta e um planos. Logo, desde o princípio, percebe-se a prevalência dos planos curtos. Por exemplo, o primeiro plano, um dos mais longos, tem cerca de dezoito segundos. Por sua vez, a montagem da sequência alterna planos muito próximos de Michel e breves planos da estrada ao passo em que privilegia os saltos e o uso de faux raccord. E esses elementos, os saltos e as descontinuidades de movimento, caracterizam
a obra de Godard e a tornam singular (MARIE, 2011). Além disso, é importante citar a intermidialidade como uma característica presente em Acossado. O filme teve como premissa uma cobertura jornalística, e Godard, em diversos momentos, busca manter uma estética de reportagem. Para tal, segundo Marie (2011), todo aparato técnico pesado foi excluído, pois, para dar dinamicidade às filmagens, algo próprio da cobertura jornalística, foram privilegiadas as câmeras portáteis. E essas câmeras permitiram que diversas cenas fossem rodadas sem que as pessoas percebessem. Em algumas tomadas na Champs-Élysées, por exemplo, Raoul Coutard, o operador de câmera, filmava os atores no meio da multidão emulando uma estética de reportagem televisiva. E é justamente nessa forma, nessa materialidade singular, que Godard constrói uma narrativa que dialoga com as premissas do cinema noir. No que diz respeito mais especificamente aos elementos necessários para compor um filme do gênero, destacam-se, por exemplo: 1) um crime com a perspectiva dos criminosos às vezes superando a da polícia; 2) uma visão invertida das tradicionais fontes de autoridade acentuando a abordagem da corrupção policial; 3) alianças e lealdades instáveis; 4) a femme fatale; 5) violência bruta; 6) motivação e mudanças em complôs bizarros; 7) um crime perfeito; 8) o pesadelo fatalista; 9) o peso do passado; 10) amor em fuga; 11) a violência masculina; 12) o detetive particular; e, por fim, 13) perversidade e corrupção (BORDE; CHAUMETON, 1958; SILVER, URSINI, 2004). E é exatamente a presença desses elementos que buscaremos analisar na trama de Acossado. Como orientação metodológica, aponta-se a análise fílmica, destacando-se as obras: A análise do filme, de Jacques Aumont e Michel Marie (2009); e Ensaio sobre a análise fílmica, de Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété (2009).
Bibliografia
- AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. 1. ed. Lisboa: Texto e
Grafia, 2009.
BORDE, Raymond; CHAUMETON, Etienne. Panorama del cine negro. Buenos
Aires: Ediciones Losange, 1958.
COUTINHO, Mário Alves. Jean-Luc Godard: de Acossado a Imagem e Palavra. São
Paulo: Editora Tipografia Musical, 2020.
MARIE, Michel. A Nouvelle Vague e Godard. Campinas: Papirus, 2011.
SILVER, Alain.; URSINI, James. Film noir. Colônia: Taschen, 2004.
VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. 6. ed.
Campinas: Papirus, 2009