Ficha do Proponente
Proponente
- Luís Eduardo Candeia (Udesc)
Minicurrículo
- Luís Eduardo Candeia é Arquiteto e Urbanista, formado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), onde foi pesquisador de iniciação científica no projeto “Corpo Espacial do Cinema: uma cartografia social das antigas salas de cinema de rua de Santa Catarina”, (2016-2019). Atualmente é mestrando do Programa de Pós-graduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental (PPGPlan/Udesc), aprofundando as investigações sobre as salas de cinema de rua no Estado.
Coautor
- Renata Rogowski Pozzo (UDESC)
Ficha do Trabalho
Título
- A ruralidade nos cinemas de rua do oeste de Santa Catarina
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Formato
- Presencial
Resumo
- A expansão dos cinemas em Santa Catarina é análoga à formação das diferentes regiões. Assim, chegam tardiamente no Oeste, território sob o qual ocorrem diversos conflitos ao longo do fim do século XIX e início do XX, e, quando finalmente são implantados, expressam uma dinâmica paradoxal entre o artefato moderno caracterizado pelo cinema, e o mundo rural em que este se insere. Desta forma, pretende-se discutir esta relação entre moderno e rural, permeando o desenvolvimento da região no século XX.
Resumo expandido
- Os primeiros espaços de exibição cinematográfica aparecem em Santa Catarina na primeira década do século XX, e até os anos 1920 expandem-se por toda vertente litorânea, ocupando sociedades recreativas, salões de hotéis etc. A partir daí, começam a se estruturar as grandes e modernas salas nesta porção do território e também no planalto serrano, com destaque para a marcante presença de cinemas nas cidades de Criciúma, Araranguá e Laguna, no sul; Florianópolis, no litoral central; Blumenau, Brusque e Itajaí, no vale do Itajaí; Joinville, no nordeste e; Lages, no planalto. Este movimento gradual de expansão do parque exibidor é então interrompido, quando se alcança o Oeste1.
A parte ocidental do território catarinense atravessa, entre fins do século XIX e início do XX, diversas transformações sociais e econômicas. É justamente por conta de um rol de conflitos, como a Guerra do Contestado, que o cinema alcança a região tardiamente, e, quando o faz, não segue os moldes das suntuosas salas Ecléticas e Art déco encontradas ao leste. Aqui, são assimiladas pelo mundo rural em que se inserem. Como exemplo, tem-se o Cine Farroupilha, localizado na atual cidade de Capinzal1.
Este cinema, o primeiro de que se tem registro na região, foi inaugurado em 1929 e ficava em uma edificação de 3 andares em madeira de Araucária. O térreo era a residência do proprietário e a bilheteria, o segundo andar alocava a sala de exibição, e o porão abrigava aves para abate. A edificação demarca tanto o ciclo econômico madeireiro, por conta do material do imóvel, quanto o ciclo agropecuário, que se perpetua até a atualidade, pois na cidade existe a filial de uma multinacional de abate de aves. Além disso, observa-se que Rio Capinzal era uma das estações da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande, o que contribuiu para o crescimento econômico da vila, bem como seu intercâmbio cultural com cidades maiores, e possivelmente, com a implantação pioneira do cinema. A falta de energia elétrica no incipiente núcleo urbano não foi suficiente para impedir nem o funcionamento da sala, que contava com um gerador, e nem o afã do público em ver as imagens em movimento, pois relata-se que este encontrava seu caminho para as sessões noturnas com o uso de lanternas (PELIZZARO, 2012).
Esta é uma, dentre as 50 salas de cinema de rua encontradas ao longo do século XX na região Oeste. Elas empreendem, cada uma à sua maneira, a tentativa de mimetizar as linguagens arquitetônicas vistas nas cidades litorâneas, de reproduzir a prática do footing e das relações sociais envoltas em urbanidade e cosmopolitismo geradas pela sétima arte, salientando a ânsia em serem também partícipes deste emergente mundo moderno, em cenários urbanos onde a única atividade noturna até então eram os cultos religiosos. Mas, ao mesmo tempo, estes espaços inserem-se em uma sociedade rural, de base econômica agrícola e agroindustrial, onde os espectadores apropriam-se da sala com a colocação de pregos na parede para pendurarem seus chapéus, ao assistirem películas que retratam um cotidiano tão rural quanto os seus, sentados em cadeiras de madeira e palha. Relata-se, que tinham preferência por filmes de Mazzaropi e de Teixeirinha, ambos os quais frequentemente têm no mundo rural seu palco, e que eram divulgados por cartazes pintados à mão, fixados nas fachadas1.
Estas características são capazes de expressar a relação paradoxal entre a modernidade da sétima arte, e o mundo rural em que ela se insere. Assim, pretende-se analisar esta dialética peculiar, discutindo-se como a modernidade representada pela sala influenciou o seu contexto rural, e, paralelamente, como este contexto foi capaz de alterar as dinâmicas modernas e cosmopolitas, propostas pelos cinemas. Por fim, procura-se assimilar que, ao serem tomados como expressão cultural dos habitantes, demarcando os diversos ciclos econômicos da região, estes espaços podem traçar um panorama do desenvolvimento com base em uma ótica diferenciada: a da cultura.
Bibliografia
- 1 Dados baseados nos levantamentos efetuados pelo projeto de pesquisa “Corpo Espacial do Cinema: uma cartografia social das antigas salas de cinema de rua de Santa Catarina”, desenvolvido entre os anos 2016 e 2019 junto ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Santa Catarina, sob orientação da Prof. Renata Rogowski Pozzo.
PELLIZZARO, Reinaldo Assis. Contos do Morro da Preguiça. Balneário Camboriú: Edpel, 2012. Disponível em: issuu.com/churrasquim/docs/livro…contos_com_capa_branca_02_12_12. Acesso em 14 out. 2021.