Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Julia Gonçalves Declié Fagioli (UFJF)

Minicurrículo

    Pesquisadora, professora e curadora. Mestra e doutora pela UFMG. Atuou como professora substituta no curso de Comunicação Social da UFMG em 2012/2013 e novamente em 2019. Coordenou e o Dossiê: Documentário e Cinema de Arquivos da Revista Devires – Cinema e Humanidades. Realizou trabalhos de curadoria junto ao forumdoc.bh e ao FestCurtas BH. Atualmente realiza pesquisa de pós-doutorado no PPGCOM UFJF.

Ficha do Trabalho

Título

    Retomada dos arquivos no exílio: imagens do movimento operário chileno

Seminário

    Outros Filmes

Formato

    Presencial

Resumo

    Tomando como pressuposta a ideia de que a montagem dos arquivos, em uma reelaboração da militância, poderia contribuir para um processo de entendimento da história, propomos aproximar dois filmes chilenos do período do exílio: Los puños frente al cañon (Lubbert e Ancelovici, 1975), e a terceira parte da trilogia A batalha do Chile – O poder popular (Guzmán, 1979). Com isso, buscamos compreender como os aspectos formais dos filmes dão a ver a maneira como são afetados por seu contexto.

Resumo expandido

    Tomando como pressuposta a ideia de que a montagem dos arquivos, em uma reelaboração da militância, poderia contribuir para um processo de entendimento da história, propomos aproximar dois filmes de realizadores chilenos, do período do exílio: Los puños frente al cañon (Orlando Lubbert e Gastón Ancelovici, 1975), e a terceira parte da trilogia A batalha do Chile – O poder popular (Patrício Guzmán, 1979). Com isso, buscamos compreender como os aspectos formais dos filmes dão a ver a maneira como são atravessados por seus contextos.
    Na América Latina, o cinema militante e engajado trata de temas comuns a seu povo, tal como o colonialismo e o subdesenvolvimento. Nesse sentido, José Carlos Avellar retoma uma caracterização de Glauber Rocha sobre o cinema do continente ao afirmar que o problema comum da América Latina é a miséria e isso demanda um cinema didático, revolucionário e sem fronteira de línguas. O Chile tem uma vasta produção documental do período em que a maior parte dos artistas foram exilados, após o golpe militar de 1973. Jacqueline Mouesca afirma que uma lápide caiu sobre a vida cultural chilena. A autora relata que, naqueles dias, foram realizados registros que dariam a volta ao mundo: eram soldados queimando livros. Em visita à Chile Films queimaram também toda película encontrada que contivesse “material progressista e esquerdista”, segundo um funcionário da instituição. Várias obras passaram muitos anos sem possibilidade de exibição no país, o que tem como consequência uma falta de conhecimento da realidade que buscaram retratar.
    Mouesca chama atenção para o fato de que o exílio não os emudeceu, pelo contrário, teve um efeito fecundante: os anos de 1973 a 1983, foram os mais produtivos do cinema chileno, com 178 filmes, ao todo. Foi um momento em que artistas chilenos puderam refletir sobre seu país, pois “o exílio cria um tempo e espaço diferentes. Altera uma certa memória imediata do evento, mas faz com que se compreenda melhor as grandes características da experiência em sua duração” (ABARZÚA apud MOUESCA, 1988, p. 140).
    Realizado em 1975 e exibido no mesmo ano no Festival Internacional de Cinema de Berlim, Los puños frente al cañon (Orlando Lubbert e Gastón Ancelovici) permaneceu obscuro durante muitos anos, tendo estreado oficialmente no Chile apenas em 2010, ainda que tenha circulado clandestinamente nos anos 1980. Somente em 2020 foi disponibilizado em amplo acesso pela Cineteca Universidad del Chile. De maneira geral, o filme conta a história do surgimento e desenvolvimento do movimento operário chileno desde o fim do século XIX até os anos 1930. Foi iniciado no Chile em 1968 e finalizado na Alemanha, no período em que os realizadores estavam exilados.
    Já A batalha do Chile é uma trilogia que narra, segundo o próprio diretor, o passo a passo de uma revolução na América Latina, desde o fim da Unidade Popular até o golpe militar de 1973. O processo, que durou sete anos, resultou em três filmes: Insurreição da burguesia (1975), O golpe de estado (1976), e, por último, O Poder popular (1979), que nos interessa mais de perto, e mostra não os grandes acontecimentos políticos, mas aquilo que está à margem, como as ocupações de fábricas e a organização do movimento camponês. A realização de tais filmes se iniciou no Chile, foi retomada na França e finalizada em Cuba, com o apoio do ICAIC.
    Trata-se de filmes que lançam olhares a dois momentos diferentes, porém, fundamentais do movimento operário chileno, marcados pela característica comum que é a realização durante o exílio. As imagens e a montagem, assim, acabam se tornando ferramentas de reconexão com seu país e sua história, ainda que atravessadas por um sentimento de melancolia. Há, ainda, uma dimensão processual presente nos dois filmes, pois o exílio gera um grande efeito na vida pessoal dos realizadores, tornando filme e vida inseparáveis. Portanto há um espírito militante, um desejo de reelaboração, que se realizam nos filmes.

Bibliografia

    AVELLAR, José Carlos. A ponte clandestina: Birri, Glauber, Solanas, Getino, García Espinosa, Sanjinés, Alea – Teorias de cinema na América Latina. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora 34/Edusp, 1995.
    BENJAMIN, Walter. N: Teoria do conhecimento, teoria do progresso. In: Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
    ESPINOSA, Denisse; LUBBERT, Orlando. Cineteca de la U. de Chile libera película clandestina de Orlando Lübbert sobre el movimiento obrero chileno. In: DiarioUchile, publicada em 7 de setembro de 2020.
    GUZMÁN, Patrício. Lo que debo a Chris Marker. Texto escrito em 2 de agosto de 2012.
    MOUESCA, Jacqueline. Plano secuencia de la memoria de Chile: veinticinco anos de cine chileno. Madri: Eds. del Litoral, 1988.
    PICK, Zuzana M. La imagen cinematografica y la representacion de la realidad. Reflexión histórica y crítica sobre el cine documental en Chile. In: Literatura chilena: creación y crítica. Los Angeles: Ediciones de la Frontera, Ano 8, n. 27, jan-mar de 1984.