Ficha do Proponente
Proponente
- Mônica Mourão Pereira (UFRN)
Minicurrículo
- Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (2004), mestrado (2009) e doutorado (2016) em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é professora do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Neste ano de 2022, lança sua primeira produção audiovisual, sobre memórias das eleições presidenciais de 2018.
Ficha do Trabalho
Título
- O cinema como dispositivo de produção de memória
Mesa
- O cinema como dispositivo de produção de memória
Formato
- Presencial
Resumo
- Será analisado o documentário “Um domingo para nunca mais” (2022), que ouve mulheres militantes sobre como se lembram do resultado das eleições presidenciais de 2018. O documentário foi montado a partir de imagens dos lugares onde aconteceram as narrativas captadas em áudio, sem compromisso realista na forma de mostrá-los. Algumas imagens são aceleradas e borradas, para dar um tom de sonho (ou pesadelo) à narrativa, presente nas memórias compartilhadas pelas entrevistadas.
Resumo expandido
- As bandeiras defendidas pelo então candidato Jair Bolsonaro, em 2018, eram contrárias aos direitos humanos e às políticas de incentivo à cultura. Durante décadas de atividade parlamentar, ele já enunciava falas contra as populações minoritárias. O medo, a angústia e a tensão tomaram conta de boa parte das pessoas destes grupos, em especial aquelas com atividades militantes. Como, porém, se poderia contar a história desses sentimentos?
Desde 2018, essa pergunta me levou a ter algumas ideias para fomentar e registrar narrativas que dessem conta da subjetividade de sujeitos impactados com a tensão deste momento político. Depois de algumas tentativas frustradas, em 2021, ao ingressar como docente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), passei a realizar um projeto de extensão que, devido às condições sanitárias da pandemia do novo coronavírus, foi feito a distância. O projeto “Pra frente é que se anda” consiste num programa de rádio/podcast jornalístico de entrevistas com pessoas que defendem direitos humanos no Brasil, buscando trazer tanto um histórico de atuação quanto perspectivas de futuro.
Entre as perguntas referentes ao passado, incluímos a mesma para todas as pessoas entrevistadas: como você lembra do resultado das eleições presidenciais de 2018? Onde você estava, com quem estava e como se sentiu? Entrevistamos, ao longo de 2021, doze defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil, sendo três homens e nove mulheres. Entre elas, seis deram respostas que resolvemos utilizar para criar outro produto, um documentário curta-metragem, que também inclui um relato meu. É este documentário – “Um domingo para nunca mais”, realizado por mim e por Hadija Chalupe – que será analisado nesta comunicação.
O documentário foi montado a partir de imagens onde os acontecimentos contados em áudio aconteceram, sem compromisso realista na forma de mostrá-los. O tempo da gravação era evidentemente um tempo diferente daquele dos acontecimentos, com alguns transeuntes usando máscaras devido à pandemia da Covid-19. Além disso, algumas imagens são aceleradas e borradas, para dar um tom de sonho (ou pesadelo) à narrativa. A proposta é dialogar com as ideias de medo e angústia compartilhadas pelas entrevistadas; uma forma de evidenciar o absurdo que foi vivido e parece não ser real.
Nas respostas dadas à pergunta que fizemos sobre como lembram do resultado das eleições, o modo pessoal se mistura ao modo político, algo esperado de quem tem atuação militante. A ideia de organizar os relatos em modos se baseia no trabalho de Alessandro Portelli. Segundo ele, os entrevistados conferem “coerência às suas histórias aderindo a um (relativamente) consistente princípio ou ‘modo’ de seleção: a esfera da política; a vida da comunidade; e experiências pessoais” (Portelli, 1991, p. 21).
Já a partir de Michael Pollak encontramos uma chave para identificar tais modos nas narrativas. Ao falar sobre como abordou as memórias de políticos, ele afirmou que foi observada “a importância do pronome pessoal que as pessoas usam para falar de si” (Pollak, 1992, p. 14), o que no caso do Brasil seria especialmente “eu” ou “a gente” (o “nós”, mais formal, é pouco utilizado oralmente). O primeiro marca experiências narradas no modo pessoal, enquanto o segundo, no coletivo/político.
Defendemos que a proposta do documentário se aplica à noção de “moral entrepreneurs”, que Elizabeth Jelin (2002) toma emprestada de Howard Becker. Os empreendimentos de memória são comumente construídos nos universos acadêmico e artístico e, no caso das memórias sobre a eleição de Jair Bolsonaro à presidência da república, ainda faltam produções sobre o tema que possam elaborar este trauma coletivo e construir outros futuros a partir disso.
Bibliografia
- JELIN, Elizabeth. Los trabajos de la memoria. Madrid: Siglo XX de España Editores, 2002.
POLLAK, Michael. “Memória e identidade social”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.
PORTELLI, Alessandro. The death of Luigi Trastulli and other stories. New York: State University of New York, 1991.