Ficha do Proponente
Proponente
- andrea de arruda ferraz (UFPE – PPGCOM)
Minicurrículo
- Andrea de Arruda Ferraz (Dea Ferraz) é pesquisadora e realizadora pernambucana, atuando na área do audiovisual há 20 anos. Em sua trajetória destacam-se os longas “Câmara de Espelhos” (2016), “Modo de Produção” (2017), “Mateus” (2018) e AGORA (2020), filmes exibidos e premiados em festivais nacionais e latino americanos. Atualmente, trabalha na hibridização das linguagens do teatro e do cinema, com o Coletivo Gambiarra; e pesquisa corpo, gesto e imagem, em seu doutorado na UFPE.
Ficha do Trabalho
Título
- Tecendo corpo, imagem e gesto em tempos de ruínas
Mesa
- Corpo, gesto e política no audiovisual contemporâneo
Formato
- Presencial
Resumo
- Partindo da criação e produção do longa-metragem AGORA (2020), o presente estudo atravessa noções de imagem, corpo e gesto, para pensar a hiper-exposição das imagens e seu consequente esvaziamento. Diante das visibilidades máximas de que nos fala Marie-José Mondzain, qual o gesto possível das imagens? Costurando linhas entre teoria e prática iniciamos uma reflexão sobre quais imagens nos libertam e quais nos aprisionam.
Resumo expandido
- Partindo da criação e produção do filme “AGORA” (2020), lançado no Olhar de Cinema de Curitiba e exibido em diversos festivais, compartilhamos uma pesquisa atravessada pelas noções de corpo, gesto e imagem. Teoria e prática entrelaçadas, como uma tessitura, para compor esse estudo que se pergunta: do que uma imagem é capaz? Qual o gesto possível da imagem? Podemos pensar numa imagem-corpo? Numa imagem tentacular? Numa imagem gesto? Uma imagem-corpo como proposta fabular para pensar novos tempos?
Aqui, pesquisa e filme nascem de uma angústia contemporânea: a hiper-exposição imagética, anestesiante, que vivemos. Em “Sociedade do Espetáculo”, Guy Debord nos explica que uma sociedade do espetáculo não é apenas aquela invadida por imagens mas, sobretudo, aquela na qual a vida real é tão pobre e fragmentária que aos indivíduos só cabe contemplar e consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes faz falta em sua existência. Se algum dia a imagem se constituiu a partir de uma ideia de verdade, hoje, se transformou em instrumento de adormecimento, nos afastando de quem somos para sonharmos com o que não somos. Seu estatuto precisa ser repensado, porque pensar sobre o gesto possível das imagens, nos tempos atuais, é pensar quem somos, o que nos constitui enquanto sociedade e enquanto sujeito. Filme e estudo movidos pela urgência desses tempos, nascendo da mesma angústia e construindo caminhos de compartilhamento e troca entre a escrita e a imagem; a oralidade e o corpo; o sujeito e seu objeto.
Uma cartografia do processo criativo de um filme, que nos leva a pensar sobre quais imagens queremos produzir e quais imagens precisamos combater. Unir prática e teoria como caminho para a produção de pensamento, não mais a partir do distanciamento formal sujeito-objeto, mas, pelo contrário, percebendo-se em contato com o “objeto”, deixando-se atravessar por ele e o atravessando de volta. “No lugar de o que é isto que vejo? Um como eu estou compondo com isto que vejo?” (BEDIN, 2014. p.70.) A pesquisa reflete sobre o processo de dirigir e montar do filme AGORA (2020), lançando luz sobre dilemas enfrentados e escolhas feitas em diversas etapas da produção, bem como uma reflexão acerca do poder das imagens.
O filme em questão, a partir de um dispositivo muito simples, convida 13 artistas a se lançarem numa caixa, onde performam suas dores, memórias e sentimentos, na experiência do tempo presente, acionando na imagem a possibilidade de uma imersão e uma sensorialidade que nos convida a ver não só com os olhos, mas com o corpo inteiro. É sobre esse gesto na/da imagem que o estudo discorre como busca a ser empreendida. A imagem como instrumento de encontro com nossos corpos e existências, nos acordando da anestesia do espetáculo, porque precisamos, urgentemente, voltar a ‘estar-no-mundo’, e o corpo é um caminho para essa reconexão com quem somos, aqui e agora. Tecendo uma costura entre os pensamentos de Agamben (2018) sobre o gesto como potencia do corpo em devir; a imagem encarnada de Mondzain (2009); o corpo sem órgãos de Artaud (2020); o corpo chthónico de Haraway (2019), entre outres; o estudo se coloca o desfio de pensar a imagem como gesto possível do presente, resgatada desse aprisionamento anestesiante, fazendo-nos cada vez mais pensar sobre quais imagens nos libertam e quais nos aprisionam. Teoria e prática como instâncias aliadas na construção de uma busca sobre a imagem e seu gesto em devir, sua potência.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. Notas sobre o gesto. Artefilosofia, n.4, Ouro Preto, jan. 2008, p. 9-16.
ARTAUD, Antonin. Para acabar com o juízo de Deus e outros escritos. Tradução: Olivier Dravet Xavier. Belo Horizonte: Moinhos, 2020.
DELEUZE, Gilles; GUATARRI, Félix. Mil Platôs, vol.3. Tradução: Aurélio Guerra Neto, Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão e Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34 Ltda., 1996.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens, apesar de tudo. Tradução: Vanessa Brito e João Pedro Cachopo. KKYM: Lisboa. 2012.
HARAWAY, Donna. Seguir con el problema – hacer parentesco en el Chthuluceno. Tradução: Helen Torres. Bilbao: Edición Consonni, 2019
MARTINS, Leda Maria. Performances do Tempo Espiralar, poéticas do corpo-tela. Cobogó: Rio de Janeiro. 2021
MONDZAIN, José-Marie. A imagem pode matar? Tradução: Suzana Mouzinho. Nova Vega Editora: Lisboa. 2a edição. 2017
SARR, Felwine. Afrotopia. Tradução: Sebastião Nascimento. N-1 Edições: São Paulo. 2019.