Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Eduardo Tulio Baggio (Unespar)

Minicurrículo

    Professor do curso de Cinema e Audiovisual e do Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo da Unespar. Colíder do grupo de pesquisa Cinecriare (Unespar/CNPq). Membro do ST Teoria de Cineastas da Socine e do GT Teoria dos Cineastas da AIM. Um dos organizadores dos livros Teoria dos Cineastas (Vols.1, 2 e 3) e do livro Cineastas do Paraná: Primeiros Tempos. Autor do livro Documentário: filmes para salas de cinema com janelas. Entre seus filmes destacam-se A Alma do Gesto (2020) e João & Maria (2016).

Ficha do Trabalho

Título

    Conceito de Cineasta: identificação, atividades e processo de criação

Seminário

    Teoria de Cineastas

Formato

    Presencial

Resumo

    A proposta dessa comunicação é aprofundar esses três pontos distintivos do conceito de cineasta em relação ao conceito de autor. Pretendo trazer aportes para o conceito de cineasta com base em três princípios: cineasta enquanto pessoa com atividade criativa na feitura de filmes; cineasta como parte de equipes ou grupos que fazem filmes em processos coletivos; e cineastas enquanto pessoas que ao fazerem filmes tecem obras a partir de contextos e relações dialógicas inerentes à vida em sociedade.

Resumo expandido

    Nos últimos anos, alternadamente com abordagens específicas de cineastas, tenho trabalhado com o debate sobre o conceito de cineasta na Teoria de Cineastas. Identifico dois passos nessa caminhada que considero razoavelmente executados. O primeiro foi um levantamento amplo das definições do conceito de autor a partir de pensamentos anteriores à Política dos Autores, durante a Política dos Autores e posteriores à Política dos Autores em paralelo com a Teoria do Autor e as críticas a esta. O segundo desses passos foi a busca de identificação de distinções entre o conceito de autor, baseado na Política dos Autores e na Teoria do Autor, e o conceito de cineasta, baseado especialmente na Teoria de Cineastas, mas também com aportes da Crítica de Processo.
    Com esse segundo passo, cheguei a algumas distinções entre os dois conceitos, especialmente três:
    1) Para a noção de autor, existe a ênfase na individualidade vinculada a obra fílmica, como visto na afirmação de Germaine Dulac: “todo trabalho cinematográfico que tenha valor em sua sensibilidade e poder deve ser o resultado de uma única vontade.” (T.N.) (DULAC, 1921:position 475), ou na célebre frase de Alexandre Astruc: “O autor escreve com a câmera como o escritor escreve com a caneta.” (ASTRUC, 2012 [1948]:3); Já para a noção de cineasta, as várias individualidades, em trabalho coletivo e dialógico, produzem a tessitura que leva à obra fílmica, visto que cineastas são todas as “pessoas envolvidas na produção de um filme que tenham atividades criativas.” (BAGGIO, GRAÇA e PENAFRIA, 2015:25). Assim, em alguma medida, a Teoria de Cineastas subverte o aforismo de Giraudoux, que disse que “não há obra, há apenas autores” (T.N.) (GIRAUDOUX apud TRUFFAUT, 1955:47), pois propõe que há obra (singular), porém com autores (plural).
    2) Segundo André Bazin, a partir de uma consideração de Jacques Rivette, a noção de autor deve partir de “escolher o fator pessoal na criação artística como padrão de referência (…)” (BAZIN, 1957:4). Em outras palavras, autor emerge da “distinta personalidade do diretor” (SARRIS, 1962:132-133), que, assim, ganha traços de genialidade dignos de semideuses. De outro lado, para a noção de cineasta o processo de criação artística é entendido como tessitura a partir de aportes variados de individualidades envolvidas na feitura do filme. Ou seja, trata-se de compreender o processo de criação como redes de criação, com inúmeras linhas e pontos de contato entre elas: “Essa visão do processo de criação nos coloca em pleno campo relacional, sem vocação para o isolamento de seus componentes, exigindo, portanto, permanente atenção a contextualizações e, ativação das relações que o mantêm como sistema complexo.” (SALLES, 2008:22).
    3) Para a noção de autor, “o significado interior” (Sarris, 1962:132-133), ou seja, algo que é absolutamente pessoal, novamente individual, é que surge como fator motivador para os filmes. Já para a Teoria de Cineastas os filmes são motivados contextualmente. Ou seja, as atividades de cineastas contribui para que certas marcas contextuais identifiquem certos filmes para além das marcas individuais. Nesse sentido, é fundamental termos em conta o que já foi profundamente debatido via Estudos Culturais quanto à perspectiva contextualista, inclusive em pesquisas em cinema.
    Isso dito, a proposta dessa comunicação é aprofundar esses três pontos distintivos do conceito de cineasta em relação ao conceito de autor, mas com foco majoritário no primeiro, tendo o segundo apenas como baliza histórico-conceitual. Assim, em suma, pretendo trazer novos aportes para o conceito de cineasta com base em três princípios: cineasta enquanto pessoa com atividade criativa na feitura de filmes; cineasta como parte de equipes ou grupos que fazem filmes em processos coletivos; e cineastas enquanto pessoas que ao fazerem filmes tecem obras a partir de contextos e relações dialógicas inerentes à vida em sociedade.

Bibliografia

    Astruc, A. (2012[1948]). Nascimento de uma Nova Vanguarda: A Caméra-Stylo. Revista Foco.
    Bazin, A. (1957). La Politique des Auteurs. translation is from The French New Wave, edited by Ginette Vincendeau and Peter Graham. Paris: Cahiers du Cinéma, nº 70, April.
    Dulac, G. (1921), At D. W. Griffith’s, in Hillairet, P. (col). (2018), Germaine Dulac: Writings On Cinema (1919-1937), Paris: Paris Expérimental.
    Epstein, J. (1928), On Certain Characteristics of Photogénie, in Keller, S. and Paul, J. N. (ed). (2012), Jean Epstein: Critical Essays and New Translations, Amsterdam: Amsterdam University Press.
    Salles, C. A. (2008), Redes da criação: a construção da obra de arte, São Paulo: Horizonte.
    Sarris, A. (1962), Notes on the auteur theory in 1962, in Sitney, P. A. (ed.). (2000), Film culture reader, 121-135, Washington DC: Cooper Square Press.
    Truffaut, F. (1955), Ali Baba e a “Política dos Autores”, in Cahiers du Cinéma, nº 44, 45-47, Paris, (February, 1955).