Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho (UFRJ)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ, é professor do programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde-UFRJ, onde coordena o Laboratório de Vídeo Educativo, e colaborador no programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da UFF. É coordenador do Grupo de Pesquisa em Recepção Audiovisual em Educação em Ciências e Saúde. Pesquisa principalmente sobre cinema educativo, documentário e recepção audiovisual.

Coautor

    Luciana Ferrari Espíndola Cabral (CEFET-RJ)

Ficha do Trabalho

Título

    Agenciamentos-escolares-audiovisuais em meio a avanços neoliberais

Seminário

    Cinema e Educação

Formato

    Presencial

Resumo

    Com o recrudescimento do projeto neoliberal na educação, discutimos aqui perspectivas para o audiovisual no ensino. Analisamos a despotencialização e a captura da agência de professores produtores de videoaulas. Discutimos ainda experiências de produção audiovisual que se apresentam como agenciamentos coletivos entre professores e alunos como vias de ação a serem trabalhadas na exterioridade do neoliberalismo, para uma educação pelo desenvolvimento da liberdade e da criticidade.

Resumo expandido

    Em um cenário de recrudescimento do projeto neoliberal na educação, discutimos aqui perspectivas para o audiovisual no ensino. A crescente onda de produção e comercialização de videoaulas tem se mostrado afim à perspectiva neoliberal de educação. Uma educação virtualizada por meio de videoaulas, de aparência democrática, tem se apresentado como solução para a educação por supostamente disponibilizar conhecimento de forma acessível a todos e eliminar os problemas causados pela formação do professor, tais como a falta de domínio dos conteúdos e de criatividade para “inovar”. Mas, essa escola virtualizada minimizaria o convívio social e se inviabilizaria como espaço de construção coletiva.

    Em uma perspectiva orientada por conceitos de Deleuze & Guatarri (1997), analisamos aqui a despotencialização da agência dos professores como produtores de materiais audiovisuais para uma educação pelo desenvolvimento da liberdade e da criticidade. Neste sentido, a captura da agência dos professores produtores de videoaulas parece articulada pelo próprio sistema educacional e pela concepção de educação que o sustenta e o justifica perante seus atores. As finalidades para que as videoaulas e os canais educativos de vídeo têm sido concebidos e mais frequentemente usados estão, segundo Silva et al. (2019), em sintonia com o que é solicitado pelos exames, currículos, rotinas escolares. De fato, para estes fins, os canais podem representar estratégia eficiente de preparação, já que são construídos de forma a viabilizar compreensão e memorização rápida, direta e objetiva do conteúdo, e permitirem a repetição e a retomada em qualquer ponto.

    Em sentido oposto, discutimos experiências de produção audiovisual que se apresentam como agenciamentos coletivos entre professores e alunos. Se por um lado a perspectiva neoliberal se apodera da potência criadora do trabalho docente, canalizando-a para os objetivos da performatividade capitalista, por outro restam vias de ação a serem trabalhadas na exterioridade do neoliberalismo. Nessa perspectiva destacam-se potências da produção audiovisual na escola, tais como a expressão das subjetividades, a emergência das diferenças, a agregação de forças em torno de projetos comuns, ou ainda as reconstruções curriculares por meio de artefatos e de culturas exteriores à escola. Cabral et al. (2021) apresentam como um vídeo e uma horta produzidos por alunos em uma escola pública, no contexto do ensino de Biologia, em um projeto de Horta Escolar, criam um agenciamento vídeo/horta que não para de produzir conhecimento e significação. Esse agenciamento não é resultado da repetição de um método de ensino, nem da reprodução de conteúdos fixos pré-estabelecidos. Em vez disso, o agenciamento vídeo/horta se prolonga no agenciamento vídeo/horta/diferença, uma vez que se conecta com a produção de outros agenciamentos vetorizados para fora da escola, relacionando-se a necessidades, impasses, desejos. Entre os prolongamentos desses agenciamentos estão os novos horizontes profissionais e acadêmicos dos alunos, as intervenções ambientais nas comunidades ou no cotidiano dos estudantes, e a virtualização da experiência a outras escolas, estudantes e professores por meio de redes sociais e websites. Este agenciamento se difere daquele produzido pela relação videoaula/ensino/exames, já que nesta o lugar reconhecido aos canais de vídeo educativos é sustentado pela aplicação de um método de ensino que não para de retroalimentar o próprio sistema educacional, seus objetivos e parâmetros.

    À despotencialização da escola como espaço social e da agência de professores e alunos como produtores audiovisuais se opõem os projetos e ações orientados para o desenvolvimento de práticas de significação audiovisual. Permanece como desafio analisar as interconexões desses processos e de suas agências e os limites de suas respostas, em um momento histórico de contínuo aprofundamento do dissenso público.

Bibliografia

    BALL, S. J. Educação Global S. A.: novas redes políticas e o imaginário neoliberal. Tradução de Janete Bridon. Ponta Grossa: UEPG, 2014. 270p.

    DELEUZE, G. e GUATARRI, F. Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia – Vol. 5.São Paulo: Ed. 34, 1997.

    CABRAL, L. F. E; SILVA, L. A. M; REZENDE FILHO, L. A. C; PASTOR JUNIOR, A. A. Estudo da produção e da recepção de um vídeo sobre uma horta escolar por alunos do ensino médio. In: XI Congreso Internacional sobre Investigación en la Didáctica de las Ciencias, 2021, Lisboa. Actas electrónicas del XI Congreso Internacional en Investigación en Didáctica de las Ciencias 2021, 2021. p. 2251-2254.

    SILVA, M. S.; REZENDE FILHO, L. A. C.; SA, M. B.; SOUSA, A. L. N. Aprendendo Biologia por um canal de vídeo aulas: percepção de estudantes da área da Saúde sobre suas vantagens e desvantagens. In: XII ENPEC – Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2019, Natal. Atas do XII ENPEC. Rio de Janeiro: ABRAPEC, 2019. v. 1. p. 1-9.