Ficha do Proponente
Proponente
- Denilson Lopes Silva (UFRJ)
Minicurrículo
- Professor titular da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador do CNPq e da FAPERJ, autor de Mário Peixoto antes e de pois de Limite (20121), Afetos, Experiências e Encontros com Filmes Brasileiros Contemporâneos (2016), No Coração do Mundo: Paisagens Transculturais (2012); A Delicadeza: Estética, Experiência e Paisagens (2007); O Homem que Amava Rapazes e Outros Ensaios (2002); Nós os Mortos: Melancolia e Neo-Barroco (1999).
Ficha do Trabalho
Título
- Festas no cinema, cinema como festa
Seminário
- Cinema Comparado
Formato
- Presencial
Resumo
- Por que só pensar o passado a partir do trauma e da ferida? Penso em uma constelação diversa de filmes como “Maria Antonieta” (Sofia Coppola, 2006), “As Regras do Jogo” (Jean Renoir, 1939), “Os brincos da Madame de…” (Max Ophüls, 1953), “O grande Gatsby” (Baz Luhrmann, 2013), “Cabaret” (Bob Fosse, 1972), “A doce vida” (Federico Fellini, 1960), “Studio 54” (Mark Christopher, 1998), entre outros. Esta viagem é a partir das festas no cinema, de um cinema de festas.
Resumo expandido
- Dentro da proposta do encontro da SOCINE desse ano do cinema inventar novos futuros, tentarei considerar o cinema não só como linguagem ou tecnologia mas como forrma de criar modos de vida. Se para alguns é o momento das urgências, dos embates diários pela sobrevivências, o momento da indignação, da insurgência diante do intoleráveil, gostaria de me perguntar com que passado posso caminhar. Talvez fosse uma fuga inicial à proliferação dos clichês políticos do presente ampliados pelas redes sociais. Ao invés dos passados afro-ameríndios, decoloniais, me dirijo a outros espectros que talvez ainda nos assombrem, no centro mesmo da modernidade eurocêntrica a que pertencemos e não. Por que só pensar o passado a partir do trauma e da ferida, dos genocídios, das guerras e das ditaduras?
Então, diante da catástrofe passada e presente, da maior dor, do maior cansaço, permitam-me olhar aqueles que dançam diante do fim do mundo, numa genealogia da Modernidade como também momento do frívolo, das festas, mesmo quando tudo parece dizer não, o momento histórico, a correção política, as boas razões. Aquilo que emerge não só como um desejo inesperado, um rompante de alegria, mas algo que simplesmente acontece ao entrar e ouvir crescendo aquela música que não se conhece ou que se reconhece, que pode fazer de um lugar desconhecido o seu corpo, um prazer de mil toques mesmo que esteja dançando sozinho na multidão. Esta fala quer revisitar algumas festas em filmes, evocar a experiência do encontro não tanto por aqueles que sempre recearam a violência e a irracionalidade das multidões, sempre sob a sombra das imagens da ordem ou da morte, mas também e apesar da morte, evocar o êxtase do encontro dos corpos, evocar a expectativa do encontro e o que resta quando a festa acaba. Longe das imagens de inversão social, me interessa algo mais banal, mas não menos inapreensível.
Será que só podemos falar sobre a festa quando não estamos mais nela? Como lembrança, memória ou desejo, antecipação? Na ausência de festas presentes nos últimos dois anos é que fiz essa viagem particular por festas na história, nas interfaces das linguagens, como forma de viver e de encenar os textos que serão trazidos a partir dessas (re)lembranças. Nesse sentido, penso a festa não em uma dimensão estritamente antropológica, mas como forma de encenação e experiência das sensações que a arte pode trazer, reavivar e possibilitar. No momento em que ainda o desejável é o isolamento, como pensar a festa a não ser como uma viagem por lembranças e sensações do passado? Talvez nesse desejo de evocar possamos reviver e nos preparar para outros momentos e formas de estar juntos
Penso em uma constelação diversa de filmes que encenam diferentes momentos históricos nessa busca pela festa, pelo frívolo (Barbosa), pelo mundo do ornamental (Galt) e da teatralidade ao invés de um realismo social e engajado, do desejo ética de documentar. Penso em “Maria Antonieta” (Sofia Coppola, 2006), “As Regras do Jogo” (Jean Renoir, 1939), “Os brincos da Madame de…” (Max Ophüls, 1953), “O grande Gatsby” (Baz Luhrmann, 2013), “Cabaret” (Bob Fosse, 1972), “Flaming Creatures” (Jack Smith, 1963), “A doce vida” (Federico Fellini, 1960), “Studio 54” (Mark Christopher, 1998), entre outros. Esta viagem é para aqueles que não têm ido a festas, mas gostariam de voltar a ir, uma viagem a partir das festas no cinema, de um cinema de festas e para além. No que talvez seja o fim da pandemia, aqui vão essas estórias. Esse é o convite do passado para o presente e talvez para algum futuro.
Bibliografia
- BAUDRILLARD, Jean. A transparência do mal: ensaios sobre fenômenos extremos. Campinas: Papirus, 1992. (9-19)
BARBOSA, André Antônio. Nostalgia e melancolia nos cinemas de Philippe Garrel e Sofia Copola. (Dissertação – Mestrado em Comunicação). Programa de Pós-Graduação em Comunicação – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, 2013
BARBOSA, André Antônio. Constelações da frivolidade no cinema brasileiro contemporâneo. (Tese de Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro, 2017.
GALT, Rosalind . Pretty: Film and the Decorative Image. New York: Columbia university press, 2011.
LOPES, Denilson. Afetos, Relações e Encontros com Filmes Brasileiros Contemporâneos. São Paulo: Hucitec, 2016. (113-128).
MAFFESOLI, Michel. A sombra de Dionísio: contribuição a uma sociologia da orgia. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.
PRYSTHON, Angela. Utopias da Frivolidade. Recife: Cesárea, 2014.