Ficha do Proponente
Proponente
- Luís Alberto Rocha Melo (UFJF)
Minicurrículo
- Luís Alberto Rocha Melo é professor do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes e Design da UFJF. Coordenador do Grupo de Pesquisa Historiografia Audiovisual. Dirigiu, entre outros trabalhos, o longa “Um homem e seu pecado” (2016) e o curta “5 X Sérgio” (2020). É um dos autores do livro em dois volumes “Nova história do cinema brasileiro”, organizado por Fernão Pessoa Ramos e Sheila Schvarzman (São Paulo: SESC, 2018).
Ficha do Trabalho
Título
- Trajetórias de uma história lacunar: o caso de “Reminiscências”
Seminário
- Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação objetiva examinar a trajetória de reconhecimento e de institucionalização de “Reminiscências” (Aristides Junqueira, 1909) na historiografia do cinema brasileiro. O nosso foco de atenção volta-se para duas obras audiovisuais que se interessaram por esses registros familiares e pela figura de Aristides: a série de TV “90 anos de cinema: uma aventura brasileira” (Metavídeo, 1988), e o longa documental “Até onde pode chegar um filme de família” (Rodolfo Junqueira Fonseca, 2018).
Resumo expandido
- Quatro meses após o incêndio que devastou grande parte do acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em julho de 1978, o número 31 da revista Filme Cultura publicou uma reportagem chamando a atenção para o risco iminente de desaparecimento da memória cinematográfica nacional. Dentre os filmes mais antigos que foram localizados e restaurados ainda nos anos 1970, dois deles ganham destaque, através dos depoimentos de Alex Viany e Cosme Alves Netto: “Os óculos do Vovô” (Francisco Santos, 1913) e “Reminiscências” (Aristides Junqueira, 1909). A reportagem reitera os lugares ocupados por esses títulos: o primeiro pertence à “área da ficção”; o segundo é um “documentário”. “Os óculos do Vovô” foi rapidamente reconhecido e festejado por pesquisadores como ilustre representante do campo ficcional, sobretudo porque evidenciava, já em 1913, pleno domínio da decupagem e da encenação cinematográficas, pondo à prova a tese corrente de que tudo quanto se fazia no país, naquele período, seria apenas uma tosca tentativa de imitação do modelo estrangeiro, quase sempre fracassada. O reconhecimento institucional de “Os óculos do Vovô” parece ter se dado em linha reta. Não há dúvidas nem quanto à sua importância e significação, nem quanto ao lugar que ele merece ocupar em termos históricos e artísticos: trata-se do filme de ficção mais antigo até hoje preservado.
Comparativamente, a trajetória de reconhecimento e de institucionalização de “Reminiscências” parece ser bem mais truncada e lacunar, a começar pelo fato de que sua identificação ao campo do documentário não pode ser aceita sem discussões: contemporaneamente, os textos se referem ao filme de Aristides como um “filme de família”, o que o colocaria em uma outra categoria genérica ainda menos definida, a dos “registros” cinematográficos. Há muitas outras contradições a serem observadas: embora seja tratado como “um filme”, “Reminiscências” é composto de vários fragmentos de filmes; apenas uma parte foi realizada em 1909, as demais são registros pertencentes aos anos 1920 (mas não se sabe as datas exatas); a “autoria” das imagens é atribuída a Aristides Junqueira, mas ele está em quadro em vários momentos. Apesar de todas essas inconsistências históricas que o cercam, “Reminiscências” vem ocupando, paulatinamente, um lugar cada vez mais “nobre” na historiografia do cinema no Brasil. Chama a atenção, hoje, a ausência de “Reminiscências” nos principais livros de história do cinema brasileiro publicados nos anos 1980-90, embora o filme já estivesse restaurado desde os anos 1970. Contudo, na “Enciclopédia do cinema brasileiro”, publicada em 2000, no livro “Pioneiros do cinema em Minas Gerais”, de 2008, na coletânea “Viagem ao cinema silencioso do Brasil”, de 2011, e na recente “Nova história do cinema brasileiro”, publicada em dois volumes em 2018, para ficarmos apenas em alguns exemplos mais evidentes, verifica-se uma crescente valorização desses registros familiares felizmente preservados.
O objetivo da presente proposta de comunicação é examinar, de forma introdutória e panorâmica, essa longa trajetória de reconhecimento e de institucionalização de “Reminiscências”, pondo o foco não propriamente nos textos historiográficos, mas em duas obras audiovisuais que se interessaram por esses registros e pela figura de Aristides: a série de TV “90 anos de cinema: uma aventura brasileira”, da Metavídeo, que foi ao ar em 1988, e o longa-metragem “Até onde pode chegar um filme de família” (Rodolfo Junqueira Fonseca, 2018), que investiga não apenas a história de “Reminiscências”, mas da própria família Junqueira, da qual o realizador faz parte. Em relação à série, cabe observar seu pioneirismo ao destacar e valorizar “Reminiscências”, antes mesmo que isso ocorresse nos textos de história do cinema brasileiro; quanto ao filme de Fonseca, talvez possa ser considerado o primeiro estudo em profundidade sobre as imagens deixadas por Aristides, algo apenas tangenciado por alguns textos recentes.
Bibliografia
- BRANDÃO, Vera. “Importância e urgência da conservação de filmes”. Filme Cultura, n. 31, Rio de Janeiro: nov 1978, p. 65-77.
GOMES, Paulo Augusto. Pioneiros do cinema em Minas Gerais. Belo Horizonte: Crisálida, 2008.
PIZOQUERO, Lucilene. “Representação da mulher em três filmes do período silencioso brasileiro”. In: PAIVA, Samuel; SCHVARZMAN, Sheila (org). Viagem ao cinema silencioso do Brasil. Rio de Janeiro: Azougue, 2011, p. 140-150.
RAMOS, Fernão P. “Documentário mudo”. In: RAMOS, Fernão; MIRANDA, Luiz Felipe (org). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000, p. 177-180.
SCHVARZMAN, Sheila. “O cinema silencioso em Minas Gerais (1907-1930)”. In: RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila (org). Nova história do cinema brasileiro, vol 1. São Paulo: Ed. SESC, 2018, p. 125-172.
SOUZA, José Inácio de Melo. “Os primórdios do cinema no Brasil”. In: RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila (org). Nova história do cinema brasileiro, vol 1. São Paulo: Ed. SESC, 2018, p. 17-51.