Ficha do Proponente
Proponente
- Marcele Sales Alves Gomes (UERJ)
Minicurrículo
- Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atualmente, é mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sendo bolsista CAPES.
Ficha do Trabalho
Título
- Herança do ensaio literário no filme-ensaio
Formato
- Remoto
Resumo
- A partir de reflexões sobre o ensaio literário e o filme-ensaio, o intuito deste trabalho é compreender como a herança da literatura têm forma na realização de filmes ensaístas. O ensaio literário possui diversas características que são vistas, também, no cinema, apesar de não existir uma única forma de fazer o filme-ensaio. Além da pesquisa bibliográfica, foi realizada uma análise fílmica de Carta da Sibéria (1957), a fim de analisar elementos do ensaio no filme.
Resumo expandido
- A literatura, em sua forma atemporal, se apresenta como herança em diversos aspectos culturais que conhecemos. O filme-ensaio é mais do que uma produção cinematográfica ordinária, pois ele apresenta elementos ensaísticos que possuem um legado da própria literatura, colocando o ensaio literário em perspectiva para a construção dos filmes ensaístas.
Elaborar um ensaio não é apenas escrever de forma fluída, mas oferecer uma reflexão sobre um determinado tema. Por isso, se vê a importância da compreensão de como as narrativas do filme-ensaio são construídas com influências do ensaio literário. O objetivo é investigar a herança que essa forma de literatura deixou para a construção de filmes e, a partir de ideias de Aumont e Marie (2013), realizar uma análise fílmica de Carta da Sibéria (1957), de Chris Marker, para a compreensão de como a escrita literária adotada pelo realizador se mistura com imagens e sons, formando um filme-ensaio contemplativo.
A escolha deste filme para a análise possui duas justificativas. A primeira está diretamente relacionada a importância da figura de Chris Marker para o filme-ensaio e a segunda justificativa evidencia as importantes características dessa produção, como a linguagem adotada no filme, em conjunto com outros elementos importantes dessa obra, como as imagens e vídeos proporcionados pelo realizador.
A herança do ensaio literário é observada, em Carta da Sibéria (1957), na história epistolar, contada em primeira pessoa. Marcado pela voz em off, a carta é percebida logo no início do filme: “Estou te escrevendo esta carta de uma terra distante. Seu nome é Sibéria”. Narrada em formato de um diário de um viajante, a história apresenta, de maneira subjetiva, as experiências e relatos do realizador sobre um lugar perdido e como ele se encontra. Apesar de em alguns momentos a escrita se assemelhar a uma poesia, a narração está em formato de prosa, sendo essa uma das características que descreve o ensaio literário, de acordo com Bense (2018).
A imagem é uma peça importante para fornecer determinadas emoções (BELLOUR, 1997), pois a estrutura visual é tão importante quanto a textual, mostrando a importante relação entre fala e imagem que constrói o filme-ensaio (CORRIGAN, 2015). O filme, portanto, é uma mistura de texto (narrativa) com imagens e vídeos, produzidas pelo próprio realizador. Na contribuição cinematográfica, o filme apresenta as imagens como uma mistura entre o real e o ficcional, proporcionando emoção à história, porém, mantendo a narração, com a voz em off, como elemento principal, enquanto as imagens (foto, vídeo ou animações) e efeitos sonoros complementam a experiência do realizador.
Weinrichter (2007) descreve que as noções de filme-ensaio são diversas e, muitas vezes, não são colocados em uma categoria única. O autor ainda acrescenta que a noção de filme-ensaio conhecida hoje provém a partir dos anos oitenta, justamente a partir de alguns filmes de Godard, Marker e Farocki. No entanto, o filme-ensaio não pode ser considerado apenas um documentário, pois a sua principal característica está no caráter experimental, como vemos no filme Carta da Sibéria (1957), no qual a experiência do realizador aborda assuntos reais e serve o propósito de discutir as suas próprias ideias. A visão sobre os acontecimentos e descrições apresentadas no filme é do próprio Chris Marker.
Realizar ensaios, seja na literatura ou no cinema, são singulares, por serem marcados pela subjetividade, pois o ensaio é feito para causar emoções em quem está assistindo, não é idealizado como uma escrita fechada, e sim, como algo variável e baseado em experiência (ADORNO, 2003). Dessa maneira, Carta da Sibéria (1957) mostra acontecimentos que trabalham com interpretações do passado, apresentado conflitos de uma terra distante. Esse sentimento conflitante é apresentado em uma combinação entre imagem e palavra, permitindo que o espectador possa ter suas interpretações sobre os acontecimentos da Sibéria.
Bibliografia
- ADORNO, Theodore. “O ensaio como forma”, In Notas de literatura I. São Paulo: Duas
Cidades/Editora 34, 2003.
AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Texto & Grafia, 2013.
BELLOUR, Raymond. Entre-imagens: foto, cinema, vídeo. Tradução de Luciana A. Penna. Campinas, SP: Papirus, 1997.
BENSE, Max. O ensaio e sua prosa. In PIRES, Paulo Roberto (org). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia serrote. São Paulo: IMS, 2018.
CORRIGAN, Timothy. O filme ensaio: desde Montaigne e depois de Marker. Campinas, SP: Papirus, 2015.
CORRIGAN, Timothy. Essayism and contemporary film narrative. In PAPAZIAN, Elizabeth A.; EADES, Caroline (orgs). The Essay Film: dialogue, politics, utopia. London & New York: Wallflower Press, 2016.
WEINRICHTER, Antonio. Un concepto fugitivo: notas sobre el film-ensayo. In La forma que piensa: tentativas en torno al cine-ensayo. Festival Internacional de Cine Documental de Navarra, 2007.