Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Samantha Ribeiro de Oliveira (PUC Rio)

Minicurrículo

    Doutoranda e Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade do Departamento de Letras da PUC-Rio, Samantha Ribeiro de Oliveira é graduada em Comunicação Social, com habilitação em Cinema, pela Universidade Federal Fluminense. Possui experiência profissional na área de Comunicação, com ênfase em Cinema, Rádio e Televisão, e atualmente atua como analista de comunicação pública, produtora executiva, editora e roteirista na Rádio MEC.

Ficha do Trabalho

Título

    Desmontando Imagens, Recriando Imaginários

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação pretende tecer uma rede de cruzamentos entre os filmes “Looking for Langston” (1989), do vídeo-artista britânico Isaac Julien, e “Até o fim” (2019), de Glenda Nicácio e Ary Rosa, realizadores da Rosza Filmes, produtora sediada no Recôncavo da Bahia, tendo como fio condutor a ideia de contra estratégia para subversão do processo de representação, proposto por Stuart Hall no texto “O espetáculo do Outro”, em que o autor se debruça fundamentalmente sobre a questão do estereótipo.

Resumo expandido

    Esta comunicação pretende tecer uma rede de cruzamentos entre os filmes “Looking for Langston” (1989), do vídeo-artista britânico Isaac Julien, e “Até o fim” (2019), de Glenda Nicácio e Ary Rosa, realizadores da Rosza Filmes, egressos do curso de cinema da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, tendo como fio condutor a ideia de contra estratégia para subversão do processo de representação, proposto por Stuart Hall no texto “O espetáculo do Outro”, em que o autor se debruça fundamentalmente sobre a questão do estereótipo. (HALL, 2016, p. 211).
    “Looking for Langston” é uma recriação lírica do ambiente íntimo e privado de Langston Hughes, poeta, ativista social, romancista, dramaturgo e ensaísta nascido nos EUA em 1902 e morto em 1967. Ele e seus amigos, artistas e escritores negros, fizeram parte do movimento conhecido como o “renascimento do Harlem”, durante a década de 1920. Dirigido por Isaac Julien, quando ainda era membro do “Sankofa Film and Video Collective”, o média-metragem foi rodado em 1989, no auge da epidemia da AIDS, e é considerado um marco do “New Queer Cinema”, pela exploração, em sua expressão artística, da natureza do desejo e da reciprocidade do olhar homoafetivo. O filme também é uma obra fulcral para os estudos afro-americanos, ininterruptamente discutido em universidades, faculdades e escolas de arte do mundo todo e, notadamente, nos EUA, há mais 30 anos.
    Um fotograma do filme “Looking for Langston” é utilizado por Stuart Hall como exemplo de contestação do regime racializado de representação, uma espécie de contranarrativa que pretende desmontar as imagens a partir de seu interior, por dentro do processo mesmo da representação. O fotograma em questão mostra um homem negro nu, de costas sendo observado por outro homem negro elegantemente vestido, de smoking e gravata borboleta, em um descampado. Hall serve-se, então, desta imagem para postular sobre a possibilidade de, “através do olhar representação”, fazer o estereótipo trabalhar contra si mesmo.
    Homônimo da canção de Arnaldo Antunes e Cézar Mendes, o baiano “Até o fim” é uma narrativa negra, que põe em cena corpos de mulheres exuberantes, donas da sua própria história. O filme conta a história de quatro irmãs que se reencontram depois de muitos anos, em torno do agravamento do estado de saúde do pai, cujo desenlace é esperado a qualquer momento. Cada uma das personagens, ao entrar em cena, atualiza e reconfigura o papel das demais. Reunidas no restaurante da irmã mais velha, Geralda, a única que jamais abandonou sua cidade natal, Rose, Bel e Vilmar conversam sobre suas vidas com uma intimidade reveladora, que se desdobra em assuntos secretos, polêmicos e muito dolorosos, abordados de forma poética e delicada.
    São, desta forma, a inversão do estereótipo, da tentativa de fixar o sentido historicamente dado à mulher negra no imaginário brasileiro. O ritmo, as nuances, as cores, os sons, toda a energia do filme vem do Recôncavo Baiano e aponta para as possibilidades de recriação da imagem do Negro na cinematografia nacional. Trauma e senso de comunidade se entrelaçam, com o uso potente e maduro da imaginação como ferramenta que conduz autores e personagens na direção da ampliação das fronteiras de suas experiências, pessoais e coletivas. “Até o fim” atinge em cheio a emoção do espectador e convoca à reflexão sobre a produção da auto-imagem do Negro, pela via do afeto, na qual “o amor e a união emergem como uma tarefa política”, tanto para reparar a história individual e coletiva de perda e isolamento, quanto para imaginar novos futuros. (KILOMBA, 2019, p. 221-222)

Bibliografia

    GLISSANT, Édouard. Poética da relação. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
    GRAMSCI, Antonio; Obras escolhidas; Martins Fontes; São Paulo, 1978.
    HALL, Stuart; org. Arthur Ituaçu; Cultura e representação; Apicuri e PUC-Rio; Rio de Janeio, 2016.
    HALL, Stuart; org. Sovik, Liv; Da diáspora; Editora UFMG; Belo Horizonte, 2018.
    KILOMBA, Grada; Memórias da plantação – episódios de racismo cotidiano; Cobogó; Rio de Janeiro, 2019.
    MBEMBE, Achille; Crítica da Razão Negra; N-1; São Paulo, 2018.

    Sítios (último acesso em 27 de maio de 2022)
    https://www.ces.uc.pt/publicacoes/opiniao/bss/196.php
    https://letterboxd.com/dudavalente/film/ate-o-fim/
    https://www.isaacjulien.com/projects/looking-for-langston/
    http://userpage.fu-berlin.de/~wilker/harlem/smokelilies.htm
    http://history.com/topics/roaring-twenties/harlem-renaissance