Ficha do Proponente
Proponente
- Samantha Ribeiro de Oliveira (PUC Rio)
Minicurrículo
- Doutoranda e Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade do Departamento de Letras da PUC-Rio, Samantha Ribeiro de Oliveira é graduada em Comunicação Social, com habilitação em Cinema, pela Universidade Federal Fluminense. Possui experiência profissional na área de Comunicação, com ênfase em Cinema, Rádio e Televisão, e atualmente atua como analista de comunicação pública, produtora executiva, editora e roteirista na Rádio MEC.
Ficha do Trabalho
Título
- Desmontando Imagens, Recriando Imaginários
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta comunicação pretende tecer uma rede de cruzamentos entre os filmes “Looking for Langston” (1989), do vídeo-artista britânico Isaac Julien, e “Até o fim” (2019), de Glenda Nicácio e Ary Rosa, realizadores da Rosza Filmes, produtora sediada no Recôncavo da Bahia, tendo como fio condutor a ideia de contra estratégia para subversão do processo de representação, proposto por Stuart Hall no texto “O espetáculo do Outro”, em que o autor se debruça fundamentalmente sobre a questão do estereótipo.
Resumo expandido
- Esta comunicação pretende tecer uma rede de cruzamentos entre os filmes “Looking for Langston” (1989), do vídeo-artista britânico Isaac Julien, e “Até o fim” (2019), de Glenda Nicácio e Ary Rosa, realizadores da Rosza Filmes, egressos do curso de cinema da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, tendo como fio condutor a ideia de contra estratégia para subversão do processo de representação, proposto por Stuart Hall no texto “O espetáculo do Outro”, em que o autor se debruça fundamentalmente sobre a questão do estereótipo. (HALL, 2016, p. 211).
“Looking for Langston” é uma recriação lírica do ambiente íntimo e privado de Langston Hughes, poeta, ativista social, romancista, dramaturgo e ensaísta nascido nos EUA em 1902 e morto em 1967. Ele e seus amigos, artistas e escritores negros, fizeram parte do movimento conhecido como o “renascimento do Harlem”, durante a década de 1920. Dirigido por Isaac Julien, quando ainda era membro do “Sankofa Film and Video Collective”, o média-metragem foi rodado em 1989, no auge da epidemia da AIDS, e é considerado um marco do “New Queer Cinema”, pela exploração, em sua expressão artística, da natureza do desejo e da reciprocidade do olhar homoafetivo. O filme também é uma obra fulcral para os estudos afro-americanos, ininterruptamente discutido em universidades, faculdades e escolas de arte do mundo todo e, notadamente, nos EUA, há mais 30 anos.
Um fotograma do filme “Looking for Langston” é utilizado por Stuart Hall como exemplo de contestação do regime racializado de representação, uma espécie de contranarrativa que pretende desmontar as imagens a partir de seu interior, por dentro do processo mesmo da representação. O fotograma em questão mostra um homem negro nu, de costas sendo observado por outro homem negro elegantemente vestido, de smoking e gravata borboleta, em um descampado. Hall serve-se, então, desta imagem para postular sobre a possibilidade de, “através do olhar representação”, fazer o estereótipo trabalhar contra si mesmo.
Homônimo da canção de Arnaldo Antunes e Cézar Mendes, o baiano “Até o fim” é uma narrativa negra, que põe em cena corpos de mulheres exuberantes, donas da sua própria história. O filme conta a história de quatro irmãs que se reencontram depois de muitos anos, em torno do agravamento do estado de saúde do pai, cujo desenlace é esperado a qualquer momento. Cada uma das personagens, ao entrar em cena, atualiza e reconfigura o papel das demais. Reunidas no restaurante da irmã mais velha, Geralda, a única que jamais abandonou sua cidade natal, Rose, Bel e Vilmar conversam sobre suas vidas com uma intimidade reveladora, que se desdobra em assuntos secretos, polêmicos e muito dolorosos, abordados de forma poética e delicada.
São, desta forma, a inversão do estereótipo, da tentativa de fixar o sentido historicamente dado à mulher negra no imaginário brasileiro. O ritmo, as nuances, as cores, os sons, toda a energia do filme vem do Recôncavo Baiano e aponta para as possibilidades de recriação da imagem do Negro na cinematografia nacional. Trauma e senso de comunidade se entrelaçam, com o uso potente e maduro da imaginação como ferramenta que conduz autores e personagens na direção da ampliação das fronteiras de suas experiências, pessoais e coletivas. “Até o fim” atinge em cheio a emoção do espectador e convoca à reflexão sobre a produção da auto-imagem do Negro, pela via do afeto, na qual “o amor e a união emergem como uma tarefa política”, tanto para reparar a história individual e coletiva de perda e isolamento, quanto para imaginar novos futuros. (KILOMBA, 2019, p. 221-222)
Bibliografia
- GLISSANT, Édouard. Poética da relação. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
GRAMSCI, Antonio; Obras escolhidas; Martins Fontes; São Paulo, 1978.
HALL, Stuart; org. Arthur Ituaçu; Cultura e representação; Apicuri e PUC-Rio; Rio de Janeio, 2016.
HALL, Stuart; org. Sovik, Liv; Da diáspora; Editora UFMG; Belo Horizonte, 2018.
KILOMBA, Grada; Memórias da plantação – episódios de racismo cotidiano; Cobogó; Rio de Janeiro, 2019.
MBEMBE, Achille; Crítica da Razão Negra; N-1; São Paulo, 2018.
Sítios (último acesso em 27 de maio de 2022)
https://www.ces.uc.pt/publicacoes/opiniao/bss/196.php
https://letterboxd.com/dudavalente/film/ate-o-fim/
https://www.isaacjulien.com/projects/looking-for-langston/
http://userpage.fu-berlin.de/~wilker/harlem/smokelilies.htm
http://history.com/topics/roaring-twenties/harlem-renaissance