Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Giovanni Rei Ribeiro Ojeda (UFSCar)

Minicurrículo

    Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (PPGIS – UFSCar). Possui graduação como Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Rádio e Televisão, pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Já atuou como realizador audiovisual independente, assessor de imprensa, videomaker e roteirista, tendo quatro obras de curta-metragem selecionadas em festivais nacionais, internacionais e mostras de exibição pública.

Ficha do Trabalho

Título

    A intermidialidade pela narrativa geográfica de Amarelo manga (2003)

Formato

    Presencial

Resumo

    Essa comunicação traz uma breve visão sobre a geração Árido Movie e a sua relação com os espaços urbanos de Recife. Para isso, iremos analisar Amarelo manga (2003) através dos estudos da intermidialidade e das passagens intermidiáticas. O objetivo é identificar de que modo o filme, de largo apelo sonoro, estético e literário, traça um caminho entre o mundo real e ficcional por meio das suas múltiplas histórias paralelas interconectadas – responsáveis pela composição de uma narrativa geográfica.

Resumo expandido

    É possível dizer que toda mídia existente incorpora algo da mídia anterior. Para estabelecer o seu próprio meio de apresentação, uma obra se apropria e transmuta recursos técnicos e linguísticos de outras, sucessivamente. Essa interação é parte do que se trata os estudos da intermidialidade, termo aplicado por Dick Higgins (1966) para definir obras que pareciam estar “entre mídias”, no seu mais amplo sentido pela comunicação, arte e cultura. São espaços de interseção entre zonas comuns e incomuns, onde as mídias dialogam e interferem entre si, ultrapassando suas fronteiras e conectando o real e o intermidiático (PETHÖ, 2018).

    Ao aparato da sétima arte, essa movimentação entre limiares pode ser vista com muita clareza, uma vez que o seu imbricamento com as demais mídias é inerente à sua existência, desde a sua origem traduzindo elementos da pintura, literatura, do teatro e tantos mais. No que se refere ao cinema brasileiro, e especificamente ao cinema pernambucano, uma extensa investigação sobre isso pode ser feita por meio do Árido Movie, título de uma geração de realizadores recifenses associados a uma espécie de vertente cinematográfica da agitação cultural Manguebeat.

    Dentre as obras mais importantes desses cineastas, destaca-se Amarelo manga (2003), filme dirigido por Cláudio Assis e escrito por Hilton Lacerda, cujos alicerces são apresentados ainda em Texas Hotel (1999), curta-metragem antecessor que pode ser percebido como um estudo de construção e linguagem ao longa-metragem que viria a seguir. Ambientado em uma Recife lúgubre e voraz, o filme apresenta as tramas de cinco personagens protagonistas e as suas relações moribundas de desejos, onde seus caminhos são entrecruzados pelas esquinas da cidade decadente ao longo de um único dia.

    Além do reconhecimento internacional, louvor crítico e ser um dos grandes expoentes do Árido Movie, Amarelo manga é articulado aqui justamente por conta da sua estruturação de múltiplas histórias interconectadas. Isso porque tal característica é diretamente responsável pela construção de uma narrativa que é, em suma, geográfica. Ao alocar os bairros de Recife como pano de fundo ao enredo, os espaçamentos entre as personagens da obra confeccionam um retrato fiel das figuras e dos locais postos em tela. Constrói-se assim, portanto, a imagem de uma cidade não ficcional que sustenta com firmeza a premissa de que “o ser humano é estômago e sexo” (Amarelo manga, 2003).

    No intuito de compreender e ampliar ainda mais esses sentidos, será tomado como base desta comunicação o conceito de passagens intermidiáticas, trabalhado por Lúcia Nagib (2020) para delimitar “filmes que incorporam outras obras em andamento como canal para a realidade histórica e política”. Entre a literatura recifense, as músicas do Manguebeat e a estética do novo cinema pernambucano, o que se evoca aqui é um conflito entre o mundo real e a ficção propriamente dita, retratando as figuras e os espaços regionais de Pernambuco de modo quase documental.

    O interesse dessa comunicação é, portanto, não somente discutir as combinações midiáticas e artísticas pelas produções do Árido Movie, mas principalmente situar e pensar de que modo a estrutura narrativa delimitada por Amarelo manga estabelece um caminho de passagem à materialidade política da obra. Uma espécie de “artivismo intermidiático” (NAGIB, 2020) que concilia representação cinematográfica e realidade histórica.

    Deste modo, o trabalho aqui proposto pretende discutir de que maneira as passagens intermidiáticas se colocam diretamente na organização narrativa de Amarelo manga. Assim, será possível esquadrinhar a forma com que a construção geográfica do seu enredo é posicionada como elemento de intermédio entre arte e não arte, examinando se esse sentido pode ser elevado pela formatação da narrativa interconectada de suas múltiplas personagens protagonistas – cujas identidades fragmentadas são emolduradas pela cidade e somente através dela podem ser compreendidas.

Bibliografia

    AMARELO Manga. Direção: Cláudio Assis. BRASIL: Riofilme, 2003. 1 DVD (103 min).
    CLÜVER, C. Intermidialidade. Pós: Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 8-23, nov, 2011.
    COSTA, M. H. A cidade como cinema existencial. Revista de Urbanismo e Arquitetura, [S. l.], v. 7, n. 2, 2008.
    HIGGINS, D. Intermedia. The something else newsletter. Something Else Press: New York, vol. 1, nº. 1. fev, 1966.
    SAMUEL, P. Sobre intermidialidade: cinema, maracatus, tatuagem e pós-tropicalismos. Contracampo, Niteroi, v. 38, n. 02, p. 147-160, ago/nov, 2019.
    MENDONÇA, L. F. M. Do mangue para o mundo: o local e o global na produção e recepção da música popular brasileira. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Unicamp Campinas, 2004.
    NAGIB, L. Realist Cinema as World Cinema: Non-cinema, Intermedial Passages, Total Cinema. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2020.
    PETHÖ, Á. Approaches to studying intermediality in contemporary cinema. Acta Universitatis Sapientiae, Film and Media Studies, v. 15, p. 165-187, 2018.