Ficha do Proponente
Proponente
- Lucas Soares de Souza (UTP)
Minicurrículo
- Doutorando em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, vinculado à Linha de Pesquisa Estudos de Cinema e Audiovisual, com orientação da Profa. Dra. Sandra Fischer. Pesquisador do GP TELAS: cinema, televisão, streaming e experiência estética. Mestre em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná. Licenciado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Claretiano e Bacharel em Estética e Teoria do Teatro pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Ficha do Trabalho
Título
- O HUMOR E O TRÁGICO NA TRILOGIA DOS VIVOS, DE ROY ANDERSSON
Formato
- Presencial
Resumo
- A presente comunicação investiga os tensionamentos entre o humor e o trágico na “Trilogia dos Vivos”, do cineasta sueco Roy Andersson. Em diálogo com a psicanálise e com uma contextualização histórica e conceitual da tragédia e da comédia, analisamos fragmentos selecionados dos filmes pensando em como o diretor constrói o humor a partir de temáticas como o erro, a angústia, a crise existencial e relacional na contemporaneidade.
Resumo expandido
- O historiador francês Georges Minois, em “História do Riso e do Escárnio”, constata: “O riso e a morte fazem boa mistura. É suficiente olhar um crânio para se convencer: nada pode roubar-lhe o eterno sorriso.” (2003, p. 29). Esse tensionamento entre o riso e a morte apontado pelo autor é um aspecto que se demonstra de forma intrínseca na poética fílmica do cineasta sueco Roy Andersson. A presente investigação constitui o recorte de uma pesquisa em construção, cujo objeto de análise é a “Trilogia dos Vivos”, dirigida por Andersson. Os filmes que a compõem são: “Canções do segundo andar” (2000), ”Vocês, os vivos“ (2007) e “Um pombo sentou num banco refletindo sobre a existência” (2014). Percebemos que as narrativas fílmicas em questão se desdobram a partir do erro e da tragicidade, enquanto elementos estruturais da condição existencial humana. Não obstante a densidade das temáticas abordadas ali por Andersson, é presente uma tonalidade de humor em suas imagens visuais, sonoras e simbólicas. O humor (vinculado ao escárnio, ao sarcasmo e à angústia) atravessa a experiência estética do espectador, seja de forma latente ou pela manifestação do riso. Porém, esse riso nos parece menos vinculado ao princípio do prazer do que a uma espécie de campo de tensionamento com a angústia suscitada pelos filmes, por meio dos processos de projeção e identificação. A pergunta norteadora do problema de pesquisa é: como Roy Andersson, elaborando poeticamente as intersecções entre a tragédia e a comédia, produz humor? No presente trabalho, são analisadas cinco cenas selecionadas dos filmes que compõem o objeto, buscando identificar como as imagens visuais e sonoras tecem sentidos e simbologias que estruturam a construção do humor por intermédio da reatualização dos tensionamentos entre o trágico e o cômico. É feita breve contextualização histórica e conceitual das concepções de tragédia e comédia, amparada no trabalho historiográfico de Minois (2003) sobre o riso, e na “Poética” (2015), de Aristóteles, obra em que o autor disserta detalhadamente acerca das tragédias gregas do período clássico. Ainda que a parte da obra dedicada a pensar a comédia tenha desaparecido quase completamente no curso dos séculos, é possível identificar pontos de conceitualização, elaborados pelo autor, destas duas perspectivas e seus desdobramentos na arte e nas dinâmicas sociais. Nosso embasamento teórico dialoga também com a psicanálise, principalmente no que concerne ao pensamento de Sigmund Freud acerca do humor. A investigação analisa a maneira como Andersson reatualiza e problematiza simbolicamente a dicotomia tragicômica, propondo imagens críticas acerca da crise existencial e relacional na contemporaneidade. A metodologia da investigação parte das análises das cenas selecionadas, buscando identificar as teias simbólicas entre suas imagens e as teorias dos autores com quais dialogamos.
Bibliografia
- ARISTÓTELES. Poética. Edição bilíngue grego-português. Tradução de Paulo Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2015.
BERGSON, Henri. O riso. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
FREUD, Sigmund. O chiste e sua relação com o inconsciente. In.: Obras completas, volume 7. Tradução de Fernando Costa Mattos e Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
FREUD, Sigmund. O Humor. In.: Obras Completas, volume 17. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
KUPERMANN, Daniel. Ousar rir. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. KUPERMANN, Daniel; SLAVUTSKY, Abrão. (orgs.). Seria trágico… se não fosse
cômico: humor e psicanálise. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
MINOIS, George. História do riso e do escárnio. São Paulo: Editora UNESP, 2003.