Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Adil Giovanni Lepri (UFF)

Minicurrículo

    É doutor pelo Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense e Mestre em Comunicação pela mesma instituição. É pesquisador do Nex – Núcleo de Estudos do Excesso nas Narrativas Audiovisuais onde desenvolve pesquisas na área de cinema, particularmente no campo do audiovisual nos sites de redes sociais. Trabalha como editor e motion designer em projetos documentais, institucionais, educativos, de divulgação científica e entretenimento.

Ficha do Trabalho

Título

    A suavização de Boulos através do audiovisual em seu canal no YouTube

Formato

    Remoto

Resumo

    Este trabalho conjuga métodos de raspagem de dados, visualização imagética massiva e análise fílmica para investigar a produção audiovisual de campanha do candidato a prefeitura de SP em 2020 Guilherme Boulos. A partir do levantamento das miniaturas dos vídeos e da análise fílmica de dois exemplos se demonstra que a linguagem audiovisual é articulada de maneira a atuar na chave na comicidade, trazendo leveza para um candidato que frequentemente é qualificado pelos adversários como “radical”.

Resumo expandido

    Este trabalho analisa o canal de Guilherme Boulos no YouTube durante as eleições para a prefeitura de São Paulo em 2020. No âmbito do campo de estudos do cinema e audiovisual, a pergunta central que deseja se responder é: no contexto do YouTube, como a linguagem audiovisual é relevante frente ao imperativo algorítmico que em grande medida rege a plataforma? Para este fim se conjugam os métodos de raspagem de dados, visualização imagética massiva e análise fílmica de inspiração neoformalista.
    Com a utilização da ferramenta de raspagem de dados YouTube Data Tools (RIEDER, 2015) foram coletadas informações de 269 vídeos publicados no canal Guilherme Boulos entre agosto e outubro de 2020. A partir do mosaico de imagens formado seguindo o método de Manovich (2017), chamam atenção dois aspectos. Em primeiro lugar a maior parte das miniaturas traz o rosto de uma pessoa, majoritariamente o próprio Boulos, em seguida foi utilizado o software Image Sorter para agrupar as miniaturas automaticamente por similaridade de cor. O resultado desta organização traz dois grandes emaranhados, um de cor predominantemente roxa com detalhes amarelos e outro com fundos amarelos e detalhes pretos, as duas cores principais da campanha. Entre os dois estão miniaturas desviantes, que fogem ao padrão de rostos e sobretudo à paleta de cores.
    No período analisado foram identificados apenas 5 vídeos com mais de 100 mil visualizações, sendo 3 trechos de Boulos na mídia tradicional – entrevista no programa de Datena, ao vivo na Band News e na sabatina do Estadão – e 2 de um conteúdo nativo: seu programa recorrente “Café com Boulos”, que segue no ar. É interessante perceber que os 2 “Café com Boulos” são sobre fake news e jornalismo, temas “quentes” daquela eleição, sugerindo que os ciclos de atenção são de fato elementos importantes na popularidade de vídeos na plataforma, como apontam Rieder et al (2017).
    A partir deste levantamento, se formou um corpus reduzido e direcionado para uma análise fílmica de inspiração neoformalista (THOMPSOM, 1988) consistindo nos dois vídeos de conteúdo “nativo” presentes entre os 5 vídeos com mais de 100 mil visualizações no canal: a saber; o vídeo “#CaféComBoulos | As Fake News sobre Boulos”, postado em 4 de outubro de 2020 e o vídeo “#CaféComBoulos | O Jornalismo que Bolsonaro gosta”, postado em 30 de agosto de 2020. Os dois vídeos analisados possuem um tom que transita na chave na comicidade e trabalha a figura de Boulos como um personagem ameno na política, longe do esteriótipo “raivoso” de “invasor” que seus adversários tentavam lhe atribuir. Essa escolha parece ser absolutamente estratégica, buscando desmistificar e desfazer a imagem de militante “perigoso” do candidato. Os dois exemplos destacados começam com quebras de expectativa e humor e seguem dialogando com formatos típicos do YouTube enquanto plataforma, como o vlog – onde uma pessoa faz uma espécie de “conversa” com seus espectadores – e o vídeo de reação – onde o youtuber traz elementos externos e “reage” a eles, em geral de forma cômica. Para usar um termo do vocabulário neoformalista, a “dominante” nos vídeos em questão parece ser a utilização da montagem e fotografia no sentido de criar intimidade com Boulos e trazer leveza para uma figura que teve sua imagem atribuída de maneira incessante ao radicalismo.
    Os dois exemplos analisados parecem querer se “encaixar” de maneira exemplar no contexto audiovisual do conteúdo nativo do YouTube, com uso frequente de jump cuts, interação com audiência e engajamento direto com o espectador, pelo olhar direto a câmera e pela valorização das affordances sociais (LEWIS et al, 2020) da plataforma. Boulos e sua equipe parecem compreender que os formatos “nativos” do YouTube tendem a se dar melhor no mercado algorítmico e se aproveitam destes aspectos para estabelecer vínculo com possíveis eleitores, mas sobretudo para buscar formar uma comunidade em torno do canal, elementos fundamental para o sucesso na plataforma.

Bibliografia

    LEWIS, Rebecca et al. “We Dissect Stupidity and Respond to It”: Response Videos and Networked Harassment on YouTube. SocArXiv. November 1. doi:10.31235/osf.io/veqyj, 2020.
    MANOVICH, Lev. Automating aesthetics: Artificial intelligence and image culture. Flash Art International, v. 316, p. 1-10, 2017.
    RIEDER, Bernhard. YouTube Data Tools (Version 1.22) [Software], 2015. Disponível em: https://tools.digitalmethods.net/netvizz/youtube/. Acesso em 27 de out. de 2021.
    RIEDER, Bernhard; MATAMOROS-FERNÁNDEZ, Ariadna; COROMINA, Òscar. From ranking algorithms to ‘ranking cultures’ Investigating the modulation of visibility in YouTube search results. Convergence, v. 24, n. 1, p. 50-68, 2018.
    THOMPSON, Kristin. Breaking the glass armor: Neoformalist film analysis. Princeton University Press, 1988.