Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Luís Fellipe dos Santos (UERJ)

Minicurrículo

    Graduado em Letras – Português e Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com certificado de excelência acadêmica “Cum Laude”. Atualmente, é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sendo bolsista CAPES.

Ficha do Trabalho

Título

    A construção do narrador na trilogia do luto, de Cristiano Burlan

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho versará sobre a construção do narrador que surge na trilogia de Burlan ao longo dos três filmes em questão, que tratam sobre a morte do seu pai, do seu irmão e de sua mãe, sobre a maneira com que esse narrador vai aparecendo e sendo construído. Tentará se compreender a maneira com que esse narrador vai se constituindo enquanto personagem e pessoa, lembrando do conceito Pessoa-Personagem de Bernardet, e vai se ficcionalizando em sua própria vida.

Resumo expandido

    Este trabalho é fruto da pesquisa que desenvolvo em meu Mestrado e que está em andamento. O trabalho partirá da noção de ensaísmo dentro do campo do cinema documental, que têm se mostrado frutífero, embora não se tenha um acordo generalizado sobre o que pode ser um ensaio cinematográfico. A noção de ensaio usada no campo cinematográfico parte da literatura e se concretiza a partir de reflexões feitas, como escreve Michel de Montaigne, que conferiu ao ensaio algumas das suas principais características, como a reflexividade e a ausência de regras. Seria o espaço em que um pensamento não iria se dobrar a um discurso pronto.
    Weinrichter (2007, p.51) diz que “A mais profunda lei formal do ensaio é a heresia”. Dessa forma, deve-se subverter o que é tratado como certo e verdade a ser seguida. Não há uma definição exata para classificar o que seria um filme ensaístico. Seguindo essa linha de raciocínio, Weinrichter (2007), ao tentar pensar em definição de filme ensaio, diz que:
    Digamos que uma obra cinematográfica se torne um ensaio quando não propõe uma mera representação do mundo histórico, mas uma reflexão sobre si mesmo, privilegia a subjetividade do pensamento, tem uma voz reconhecível e acaba criando a sua própria forma. (WEINRICHTER, 2007, p.51)
    Com isso, podemos entender que esta forma seria advinda da ideia de ir contra a maneira clássica de se fazer documentários. Como pontua Lins (2007), “são filmes em que essa “forma” surge como máquina de pensamento, meio de uma reflexão sobre imagem e o cinema, que imprime rupturas, resgata continuidades, traduz experiências” (LINS, 2007, p.9).
    Ao estabelecer uma leitura sobre alguns documentários ensaísticos, algo interessante a se notar é o conceito trazido por Jean-Claude Bernardet, ao começar a questionar esse narrador, em “Novos Rumos do documentário brasileiro?”, que foi resgatado por Lins e Mesquita (2008), no qual o autor, ao analisar filmes do tipo documentários de busca, 33 e Um passaporte Húngaro, cunha o termo “pessoa-personagem”, ao se questionar sobre como aparecem os realizadores nessas obras.
    Para ele, não seriam apenas filmes que usam a primeira pessoa, e sim filmes em que o cineasta se mescla com um personagem que é o protagonista. Como pontuou o crítico: “Essas pessoas-personagens obedecem a uma construção dramática. Os personagens têm objetivos, enfrentam obstáculos, alcançam seus objetivos ou não, exatamente como nos filmes de ficção.”
    Dessa forma, as obras que constituem a corpora da pesquisa são os documentários ensaísticos: Construção (2004), Elegia de um crime (2018) e Mataram meu irmão (2013), de Cristiano Burlan. Em Mataram meu irmão (2013) e Elegia de um crime (2018), filmes que fazem parte da chamada Trilogia do luto, acompanhamos as histórias que perpassaram a vida do realizador, o assassinato de seu irmão e o assassinato de sua mãe, ambos em momentos diferentes. Em Mataram meu irmão (2013), o realizador aparece e narra eventualmente, Em Elegia de um crime (2018), o realizador se “põe” mais inteiro no filme, fazendo-se presente, envolvendo-se ainda mais na trama. Já em Construção (2004), primeiro filme de projeção do realizador no cenário audiovisual brasileiro, somos apresentados a um filme de cunho mais observativo, em que só há uma única fala do realizador.
    Essas escolhas foram feitas a fim de se gerar dados que contribuam para o entendimento do narrador. Assim, pretende-se entender a relação estética e literária existente e que configura a construção desse narrador. Dessa forma, é viável que se estabeleça uma análise cuja ideia principal é entender a utilização desse conceito nas práticas de cinema contemporâneo, entendendo as transformações de uso dos recursos estilísticos que dizem respeito ao narrador como reflexo das demandas sociais, buscando entender o papel das artes e como se apresentam dentro dessa lógica.

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. O narrador, considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Obras Escolhidas I:. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996. p. 197-221.
    BERNARDET, Jean-Claude. Documentários de busca: 33 e Um passaporte Húngaro. In: Maria Dora Mourão & Amir Labaki (orgs.). O cinema do Real. São Paulo, Cosac Naify, 2005.p. 143-156.
    CORRIGAN, Timothy. O filme-ensaio –. Campinas: Editora Papirus, 2015. 223 p.
    LINS, Consuelo. O ensaio no documentário e a questão da narração em off. In: FREIRE FILHO, João, HERSCHMANN, Micael (Orgs.) Novos rumos da cultura da mídia:. Rio de Janeiro, Mauad, 2007. p. 143-157.
    LOPATE, Phillip. Mostrar y Decir –. Barcelona: Alba Editorial, 2017. 272 p.
    SIBILIA, Paula. O show do Eu –. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2016.
    TAYLOR, Charles. As fontes do Self:. São Paulo: Edições Loyola, 1997.
    WEINRICHTER, Antonio (Org.). La forma que piensa:. Pamplona: Governo de Navarra, 2007. 215 p.