Ficha do Proponente
Proponente
- Rodrigo Carreiro (UFPE)
Minicurrículo
- Rodrigo Carreiro é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e do Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco, onde cursou Mestrado e Doutorado em Comunicação (Cinema). É bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 2. Fez estágio pós-doutoral na Universidade Federal Fluminense (RJ), em 2018-2019. Pesquisa principalmente sobre sound design e gêneros fílmicos populares, especialmente horror e thriller.
Coautor
- Laura Loguercio Cánepa (UAM)
Ficha do Trabalho
Título
- Sensorialidade, vazio e fantástico no horror nórdico contemporâneo
Mesa
- Estudos do horror contemporâneo
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho analisa três longas de horror nórdico (o sueco Border, de 2018; o islandês Lamb, de 2021; o norueguês The Innocents, de 2021), destacando a inserção de elementos do imaginário fantástico na construção de paisagens audiovisuais que priorizam atmosferas de contemplação e vazio. Os filmes formulam um recorte relevante da forma como o gênero horror articula ideias, valores e tensões sociais, explorando toda a superfície sensória do corpo do espectador.
Resumo expandido
- A comunicação está voltada à análise de três longas-metragens de horror nórdico, produzidos nos últimos cinco anos: um sueco (Border, Ali Abbasi, 2018), um islandês (Lamb, Valdimar Jóhannsson, 2021) e um norueguês (The Innocents, Eskil Vogt, 2021). Gostaríamos de refletir, a partir da análise desses filmes, uma tendência do cinema contemporâneo que se caracteriza pela inserção generosa de elementos do imaginário fantástico e/ou insólito na construção de paisagens audiovisuais que priorizam uma atmosfera de contemplação e vazio.
Os filmes analisados apresentam certos padrões estilísticos, narrativos e perceptivos, com roteiros abertos e de tramas rarefeitas, mais interessadas em explorar texturas sensórias, o que gera insegurança perceptual (ELSAESSER, 2009) – uma desconfiança permanente sobre múltiplos aspectos do filme, indo da instância narradora ao comportamento dos personagens. Elsaesser associa essa insegurança com uma nova modalidade de realismo, no qual a própria percepção se torna difusa e imprecisa, o que ocasionaria uma insegurança do olhar. Esta seria, então, uma das razões para que o espectador entrasse em um estado de predisposição à experiência sensória, se permitindo imergir na diegese e destacando a experiência sensível.
Assim, consideramos que a experiência de fruição dos filmes analisados nesta comunicação explora toda a superfície sensória do corpo do espectador, criando experiências cinematográficas multissensoriais nas quais a percepção do corpo humano atua de forma complexa e simbiótica, com diversas modalidades de percepção fisiológica trabalhando em conjunto, e se influenciando mutuamente.
Luis Rocha Antunes (2016) advoga que o aparelho sensório humano do espectador reage de forma sofisticada a estímulos ópticos, auditivos e narrativos enviados pelos filmes, constituindo uma rede sensória complexa e multifacetada, que envolve o corpo inteiro dos membros da plateia, durante o ato de assistir a um filme.
Border, Lamb e The Innocents são longas-metragens que dificilmente se enquadrariam nas convenções do horror tradicional, ainda que venham chamando a atenção em festivais e prêmios importantes do cinema internacional: Border venceu a mestra Um Certain Regard do Festival de Cannes; The Innocents ganhou o prêmio do Cinema Europeu de melhor som; e Lamb repetiu o feito de Border.
Nos três filmes, o elemento insólito (a existência de trolls) ou sobrenatural (poderes telecinéticos desenvolvidos por crianças) são catalisadores de narrativas que levantam questões biopolíticas, sociais e históricas, enfrentando dilemas e tabus como a imigração, a maternidade, a sexualidade e os limites morais do ser humano através de convenções narrativas típicas do cinema de horror, ainda que em chave lacônica.
Consideramos que a experiência de fruição desses filmes – que nos parecerem formular um recorte relevante da forma como o gênero horror articula ideias, valores e tensões sociais dentro da produção audiovisual contemporânea – explora o corpo do espectador, em consonância com exibições cinematográficas que valorizam experiências hápticas e multissensoriais.
Os neurologistas há muito reconhecem que os humanos possuem mais do que os cinco sentidos aristotélicos (…). Esses sentidos interagem entre si, contribuindo para uma percepção multissensorial de um ambiente. Não vemos e ouvimos um filme, mas o percebemos com todos os nossos sentidos trabalhando em uma relação ecológica. (GRABOWSKI in ANTUNES, 2016, xi-xii).
Trata-se de um certo tipo cinema de horror que, em vez de carregar nos momentos de choque e repulsa (embora os tenha), busca na maior parte do tempo fazer ao espectador um convite a um tipo de contemplação que direciona o olhar a novos modelos de sensação de medo, tensão e angústia, apelando a tempos mortos e valorizando menos a causalidade narrativa do que o envolvimento corporal do espectador com o filme, através de certas combinações de imagens e sons que estimulam uma especiais de insegurança perceptual.
Bibliografia
- Cherry, Brigid. Horror. London: Routledge, 2009.
Church, David. Post-Horror: Art, Genre and Cultural Elevation. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2020.
Elsaesser, Thomas. “World Cinema: Realism, Evidence, Presence”, p. 3 -19. In: NAGIB, Lucia. Realism and the audiovisual media. London: Palgrave Macmillan, 2009.
Gelder, Ken. “Introduction: The field of horror”, p. 1-7. In: The horror reader (org. Ken Gelder). London: Routledge, 2000.
Lowenstein, Adam. Shocking representation: historical trauma, national cinema, and the modern horror film. New York: Columbia University Press, 2005.
Morgan, Jack. The biology of horror: gothic literature and film. Southern Illinois Press, 2002.
Ndalianis, Angela. The horror sensorium: media and the senses. Jefferson: McFarland, 2012.
Santos, Fernanda. Atmosferas do medo: filmes brasileiros e argentinos do início do século XXI. Thesis: Universidade de São Paulo, 2018.