Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Rogério Luiz Silva de Oliveira (UESB)

Minicurrículo

    Realizador audiovisual e professor de Direção de Fotografia do Curso de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Concluiu mestrado e doutorado com estudos dedicados à imagem técnica e desenvolve pesquisas sobre a relação entre imagem e memória. É membro da Associação Brasileira de Cinematografia e integrante do grupo de pesquisa “Cinematografia, Expressão e Pensamento” (CNPq/UFF).

Ficha do Trabalho

Título

    A cinematografia como refutação do inimaginável

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho propõe um estudo sobre a presença da direção de fotografia no documentário A Cordilheira dos Sonhos (2019), de Patrício Guzmán. O objetivo é promover uma análise sobre a experiência imagética, guiada pela ideia de que a cinematografia procede contra uma “política da desimaginação”, ideia proposta por Georges Didi-Huberman. A intenção é verificar o modo como a cinematografia do documentário configura uma ato de refutação contra a Ditadura Militar Chilena.

Resumo expandido

    O objetivo do trabalho é compartilhar resultados do projeto de pesquisa “Imagem e memória: a técnica, o vestígio e a ruína”, desenvolvido no Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB. Nessa investigação, interessa realizar um levantamento, seguido de análise e criação artística, de obras que recorrem à imagem técnica como recurso de construção narrativa a partir de ruínas. Esta proposta, particularmente, propõe uma análise acerca da direção de fotografia em um dos filmes estudados na pesquisa.
    A Cordilheira dos Sonhos (2019) é um documentário construído em torno das reflexões do seu diretor Patrício Guzmán mas que, no plano de fundo, trata dos dilemas políticos de um país. A narrativa é construída em torno de uma temática imprescindível ao povo chileno e à América Latina: a Ditadura Militar e seu regime autoritário liderado por Augusto Pinochet, entre 1873 e 1990. A partir desse acontecimento trágico e intragável, o filme aqui em destaque reúne um conjunto de fragmentos sonoros e imagéticos que, metafórica ou explicitamente, oferece condições para profundas ponderações acerca do período violento e seus desdobramentos após o fim da Ditadura. Dentre os recursos narrativos, esse trabalho quer tratar sobre a cinematografia. Interessa analisar o filme em busca dos diferentes modos como a direção de fotografia oferece instrumentos técnicos e plásticos auxiliares da criação de sentidos, sensações e entendimentos a respeito do regime militar e suas reverberações no desenvolvimento sócio-cultural-político do Chile.
    Ao estabelecer essa meta, convém evocar uma concepção do próprio diretor Patrício Guzmán: “Há, em cada lugar da cidade, nas ruas, nas casas, em todas as partes, em todas as horas, inumeráveis átomos dramáticos que refletem um pedaço da vida, uma cena microscópica da existência humana” (GUZMÁN, 2017, p. 19). No desdobramento dessa elaboração, o cineasta entende que o papel de um/uma realizador/realizadora está justamente na fabricação de histórias com esses “átomos que voam pelo ar” (idem). E mais. Sabe que, para reuni-los, é urgente a adoção de um ponto de vista manifestado, cinematograficamente, por meio de recursos particulares da direção de fotografia como os “enquadramentos, a luz adequada para filmar ou gravar essa realidade. O chamado ‘ponto de vista’ contribui para anular o caos” (GUZMÁN, 2017, p. 21).
    O extrato tomado de empréstimo do diretor Patrício Guzmán, na organização teórica aqui proposta, é somada ao pensamento de Georges Didi-Huberman. Com este, é cabível compartilhar uma lógica: “Para saber é preciso imaginar-se” (DIDI-HUBERMAN, 2020, p. 11). A busca nessa reflexão é por salientar os diferentes modos como a cinematografia plasma as imagens e dá forma ao inimaginável. Interessa, nesse caso, compreender o modo como a cinematografia é mobilizada, enquanto eixo narrativo, a partir de duas perspectivas.
    Na primeira delas, cabe perceber a potência metafórica das imagens. Seja no sobrevoo sobre a Cordilheira dos Andes, no enquadramento das nuvens ou da fumaça da Batalha do Chile, nos planos detalhe dos paralelepípedos das ruas de Santiago, a cinematografia figura aqui como instrumento da constituição dramática de átomos imagéticos. Já na segunda, a partir da experiência de um “camarógrafo editor”, Pablo Salas – personagem estratégico do documentário -, a cinematografia de A Cordilheira do sonhos, para dialogar com Didi-Huberman, promove o encontro com algo “precioso para a memória: o seu possível imaginável” (Didi-Huberman, 2020, p. 39).
    A proposta parte do pressuposto de que o documentário em questão oferece a possibilidade de elaboração de uma investida teórica sobre cinematografia. Nesse caso, o repertório das imagens em movimento são recursos de refutação contra um regime que não economizou esforços em tornar os crimes como algo inimaginável, por meio de iniciativas violentas que queriam dar fim à memória dos desaparecimentos.

Bibliografia

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens apesar de tudo. São Paulo: Editora 34: 2020 (1ª Edição). Coleção TRANS.

    GUZMÁN, Patricio. Filmar o que não se vê: um modo de fazer documentários. São Paulo: Edições Sesc São Paulo: 2017.