Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Noel dos Santos Carvalho (UNICAMP)

Minicurrículo

    Noel dos Santos Carvalho é professor de cinema no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É doutor em sociologia (USP). Realiza pesquisas no campo da sociologia do cinema. Nos anos 1990 integrou o grupo de cineastas que criou o manifesto Dogma Feijoada – Gênese do Cinema Negro Brasileiro.

Coautor

    Teresa Cristina Furtado Matos (UFPB)

Ficha do Trabalho

Título

    Sobre as propostas para o cinema negro brasileiro

Mesa

    Cinema negro brasileiro – concepções nativas, demandas locais

Formato

    Presencial

Resumo

    Nossa proposta é fazer uma reflexão crítica sobre os usos do termo cinema negro brasileiro. Para tanto faz uma breve passagem sobre as suas diversas concepções e em seguida procura reter algumas recorrências e dissonâncias.

Resumo expandido

    O termo cinema negro designa os filmes escritos, produzidos e (ou) dirigidos por artistas negros (as). Suas diferentes concepções atendem aos interesses dos seus praticantes: produtores, cineastas e curadores.
    Durante o cinema novo, por exemplo, o cinema negro foi utilizado para designar os filmes dos jovens cineastas de esquerda interessados em retratar as condições, sociais, políticas e culturais do que entendiam ser o homem brasileiro. O cineasta David Neves escreveu o texto, “O cinema de assunto e autor negros no Brasil”, no qual identificou uma “modesta fenomenologia” do cinema negro brasileiro.
    Nos anos 1970, ainda que sob forte censura e repressão política, versões da cultura negra vazaram através da indústria cultural incluídas ai o disco, o rádio, a televisão e o cinema.
    É desse período duas publicações que colocaram a questão racial no cinema em primeiro plano. Em 1976 a ativista Beatriz Nascimento publicou o artigo “A senzala vista da casa-grande” que faz uma dura crítica às representações raciais encenadas no filme Xica da Silva (1976), de Carlos Diégues. O texto tem como pano de fundo às reivindicações de representações cinematográficas antirracistas propostas movimento negro da época.
    Em 1979 o diretor Orlando Senna foi mais direto e incisivo no seu texto “Preto-e-branco ou colorido (O negro e o cinema brasileiro)” em que afirmou a necessidade de um cinema feito por diretores negros para expressar com autenticidade a cultura e a experiência negras.
    Um terceiro momento ocorreu em 1998 quando um grupo de jovens realizadores de curtas-metragens se organizou em torno do manifesto “Dogma Feijoada – Gênese do Cinema Negro Brasileiro”. Em tom de provocação o manifesto propôs sete mandamentos para a fundação de um cinema negro brasileiro: 1) O filme tem que ser dirigido por um realizador negro; 2) o protagonista deve ser negro; 3) a temática do filme tem que estar relacionada com a cultura negra brasileira; 4) o filme tem que ter um cronograma exequível; 5) personagens estereotipados, negros ou não, estão proibidos; 6) o roteiro deverá privilegiar o negro comum brasileiro; 7) super-heróis ou bandidos deverão ser evitados.
    Em 2001, durante o 5º Festival de Cinema do Recife, outro grupo de artistas – formado por veteranos das telas e palcos – publicou o Manifesto do Recife. Ele fez uma dura crítica às representações estereotipadas do negro e reivindicou ações afirmativas em toda a cadeia produtiva do audiovisual.
    Embora tenham tido divulgação na época do lançamento, a sobrevida dos dois manifestos veio, principalmente, do reconhecimento e premiação dos filmes de longa-metragem lançados pelos principais cineastas dos dois grupos.
    Uma quarta fase ocorreu a partir de 2010 quando uma nova geração de realizadores (as) oriundos de escolas de cinema privadas, públicas e cursos livres ministrados em comunidades reivindicou um cinema negro.
    Aos filmes e realizadores se somaram grupos de curadores e produtores de mostras e festivais que se dedicaram a selecionar filmes e cineastas e terminam por construir sentidos diversos para as suas escolhas. Afinal, toda seleção encerra conceitos e definições.
    Desde então o termo cinema negro se difundiu com sentidos alinhados aos seus usos nativos. Essa mesa procura refletir criticamente sobre as diversas manifestações dos cinemas negros.

Bibliografia

    Bibliografia
    CARVALHO, Noel dos Santos; DOMINGUES, Petrônio. Dogma Feijoada: a invenção do Cinema Negro brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 33, n° 96, 2018.
    CARVALHO, Noel dos Santos. Cinema e representação racial: o cinema negro de Zózimo Bulbul. Tese de doutorado, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH-USP, São Paulo, 2006.
    NEVES, David. O cinema de assunto e autor negros no Brasil. In: Cadernos Brasileiros: 80 anos de abolição. Rio de Janeiro, Editora Cadernos Brasileiros, ano 10, n. 47, p. 75-81, 1968.
    NASCIMENTO, Beatriz. A senzala vista da casa-grande. Opinião, Rio de Janeiro, p. 20-1, 15 out. 1976.
    NASCIMENTO, Maria Beatriz. Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual: possibilidade nos dias da destruição. São Paulo, Editora Filhos da África, 2018.
    SENNA, Orlando. Preto-e-branco ou colorido: o negro e o cinema brasileiro. In: Revista de Cultura Vozes, ano 73, v. LXXIII, n. 3, 1979. p. 211-26.