Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Francisco Gabriel Garcia (UAM)

Minicurrículo

    Francisco Gabriel Garcia é mestrando pelo Programa de Pós Graduação em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi. É graduado em Comunicação e Artes pela Universidade Mackenzie, possui Licenciatura em Artes Visuais pela Faculdade de Educação Paulistana e é pós-graduado (lato sensu) em Design de Hipermídia, também pela UAM. Atua, há 23 anos, na área das ilustrações editoriais, artes gráficas, design, animação, histórias em quadrinhos e oficinas criativas.

Ficha do Trabalho

Título

    A Aposta de Elaine Benes

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho apresenta uma reflexão sobre a forma como a personagem Elaine Benes, da sitcom Seinfeld, comédia televisiva americana dos anos 1990, articula representações da mulher que destoam de uma cultura humorística em que predominam representações machistas. Considerando o contexto tanto de produção da série quanto de sua recente disponibilização na plataforma de streaming Netflix, são analisadas passagens importantes da personagem e textos que integram a circulação midiática da produção.

Resumo expandido

    Como se dá a construção narrativa de Elaine Benes em Seinfeld e como seu comportamento, ao discutir com seus amigos homens sobre sexo, métodos contraceptivos, masturbação etc., articula representações da mulher? Como essas representações se colocam em relação à predominância de imagens machistas da mulher na cultura humorística audiovisual e, sobretudo, televisiva? E, ainda, como essas representações contribuem para as leituras presentes em “textos secundários” (SILVERSTONE, 2002) que integram a circulação da série?
    Para desenvolver estas questões e tentar responder a elas, o trabalho toma como ponto de partida a cena de abertura do episódio “The Contest”, da sitcom Seinfeld, que foi ao ar de 1989 a 1998, pelo canal americano NBC. A única mulher do grupo de amigos, a personagem Elaine Marie Benes, representada na série pela atriz Julia Louis-Dreyfus, entrou em uma aposta sobre masturbação – mas não ganhou. Ao menos, não ganhou essa aposta. Há outras duas apostas que Elaine Benes representa: uma por parte da NBC, ao emitir uma nota, após a exibição do piloto, de que a série carecia de uma presença feminina (ainda que não ficasse claro que tipo de representação feminina os executivos tivessem em mente); e a aposta da própria construção de Elaine em nove temporadas, em que ela contrasta modelos femininos domesticados ou sexistas.
    Dessa forma, propõe-se, neste trabalho: traçar uma reflexão sobre as representações da mulher na comédia televisiva dos anos 90; analisar passagens narrativas específicas de Elaine; identificar a forma como ela mobiliza a representação feminina; compreender o modo como ela é lida na circulação da série, através de textos midiáticos, sobretudo com a integração recente de Seinfeld ao acervo da Netflix; e discutir como essas representações são percebidas entre parte da recepção crítica da produção. Assim, a sitcom é contextualizada quanto à época em que foi ao ar; quanto ao local onde se passa (a cidade de Nova York); quanto à forma como (e por quem) foi criada; quanto ao bordão que a rotula como “uma série sobre nada”; e, finalmente, quanto aos personagens.
    O quadro teórico-metodológico do artigo se baseia nas perspectivas de Stuart Hall (2016), sobre cultura e representação, e Kathryn Woodward (2014), sobre identidade e diferença. Ainda, embasam o trabalho reflexões de Roger Silverstone (2005), a propósito das mediações na cultura midiática, e Jesús Martín-Barbero (2003) e Itânia Gomes (2011), sobre o gênero televisivo como mediação. O corpus da pesquisa abarca tanto textos midiáticos que evidenciam sentidos marcantes na circulação da série quanto episódios que contribuem para o que entendemos como um processo de relativo rompimento quanto a sentidos machistas na representação feminina na comédia dos anos 1990. Dos seis primeiros episódios, destacam-se passagens de Elaine em que ela: exige direitos iguais para poder falar dos seus casos (“The Stake Out”); participa de uma aposta sobre masturbação (“The Contest”); rompe um namoro porque o rapaz é antiaborto (“The Couch”); entrevista o namorado para saber se ele é merecedor do uso do seu produto contraceptivo favorito (“The Sponge”); é chamada de uma “mulher dos homens” e tensiona definições de diferenciação (“The Pool Guy”); e tem papel definitivo na sitcom metalinguística, ao recuperar os negócios, através de sua sexualidade, e ainda ajudar seus amigos a escrever o roteiro (“The Shoes”).
    A partir desse percurso reflexivo, observa-se que Elaine, desde sua primeira aparição: sempre teria algo a falar e não fugiria de assuntos polêmicos; romperia tabus; jamais seria personagem secundária; seria presença feminista na comédia; seria bem-sucedida, independente, politizada e engajada; não seria uma “mulher dos homens”, e sim, a mulher que deseja ser. Assim, a personagem tensiona estereótipos e atualiza a comédia ao antecipar a representação feminina dignificante, vencendo sua maior aposta: a de ser um modelo para as gerações seguintes de mulheres comediantes.

Bibliografia

    GOMES, Itania M. M. Gênero televisivo como categoria cultural: um lugar no centro do mapa das mediações de Jesús Martín-Barbero. Famecos, v. 18, n. 1, p. 111-130, 2011.

    HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Apicuri, 2014.

    MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.

    SCABIN, Nara Lya Cabral. Politicamente Incorreto, Uma Categoria em Disputa. Curitiba: Appris Editora, 2018.

    SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Edições Loyola, 2002.

    WORTH, Sarah E. Elaine Benes: ícone feminista ou apenas um dos rapazes. In: IRWIN, William. Seinfeld e a Filosofia, Um Livro Sobre Tudo e Nada. São Paulo: Madras Editora, 2004.

    WOODWARD, Kathryn. Identidade e Diferença: Uma Introdução Teórica e Conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e Diferença – A Perspectiva dos Estudos Culturais. São Paulo: Editora Vozes, 2014.