Ficha do Proponente
Proponente
- Wilson Oliveira da Silva Filho (PPGCINE/UFF e UNESA)
Minicurrículo
- Doutor em memória Social (PPGMS/UNIRIO). Em 2018, concluiu pesquisa de pós-doutorado na ECO/UFRJ. Professor auxiliar II e Pesquisador do programa Pesquisa produtividade na UNESA. Docente credenciado do PPGCINE/UFF. Artista multimídia no DUO2x4, criado em 2012 com Márcia Bessa.
Ficha do Trabalho
Título
- “Melting movie places”: Um remix de salas de cinema do Instagram à VR
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Formato
- Presencial
Resumo
- As imagens de fachadas e outros espaços das salas de cinema de rua são fenômenos da rede. A partir de fotos e vídeos do verdadeiro lócus da exibição de filmes e da leitura trabalhos desse seminário, o DUO2x4 concebeu “Melting movie places”, gifs, glitches e anamorfoses em vídeo. Esse trabalho é uma análise dessa obra criada como webart para o Instagram e adaptada para a realidade virtual e nos convida a pensar temas como diferentes espectatorialidades e as possibilidades de artísticas do remix.
Resumo expandido
- Em uma análise de uma fotografia de duas moças na entrada do Cine Palácio na antiga Cinelândia, João Luiz Vieira apresentou no Encontro da Socine no ano passado um dos mais belos trabalhos da história desse seminário temático. O autor interrogava quantas histórias seriam possíveis de imaginar e qual seria a verdadeira história por trás daquela imagem; lembrava com Barthes o potencial icônico desse tipo de fotografia, suas ambiguidades, ambivalências e ressiginificações (VIEIRA, 2021). Através do olhar atento do mestre João Luiz não percebi naquele momento, talvez tragado por sua fascinante fala, que o trabalho que desenvolvo no DUO2X4 há algum tempo no Instagram se tratava mais do que uma ressignificação de imagens, mas das possibilidades mnemônicas, ou melhor com um neologismo “mnemocinemáticas”, de cada um que entra em contato com a obra. Essa série “Melting movie places” (2020 – ), diferente do olhar minucioso para as fotografias do cinema de rua analisado por Vieira, experimenta e ressignifica imagens em sua grande parte já existentes, remixando-as como um Vj e recriando com efeitos de aplicativos diferentes como glitch app, gif criador/editor, picmorph, reverse e seus filtros e outras possibilidades de alteração de imagens para assim criar outras visualidades. Vale destacar que essa obra no Instagram tem poucos exemplos sonorizados e na realidade virtual, por conta da necessidade própria da imersão, foi construída uma parte sonora usando recursos do chamado audio 3d ou binaural.
Ao adotar a hashtag antes do nome da obra nossa intenção era evidentemente manter o projeto na rede. Tratava-se de uma obra de webart, mas como quase todo projeto do DUO2x4, devido sua influência experimental, mcluhaniana, portanto exploratória, converge para outras mídias, a obra foi exibida como parte do projeto de extensão da extinta sala de cinema no campus João Uchoa da UNESA e se tornou em parceria com outros artistas (mantendo uma tradição do DUO) um projeto de realidade virtual. Essa trajetória da rede ao VR tendo como conteúdo a sala de cinema evoca conceitos como intermidialidade e remediação, dialogando com a teoria tetrádica elaborada por Eric e Marshall McLuhan. Nas “leis da mídia” que derivam desse teoria quatro formulações são feitas. Lembramos aqui: O que uma tecnologia aperfeiçoa (enhance), o que ela torna obsoleto (obsolesce) o que ela recupera (retrieve), e em que um meio se reverte (reverse) quando atinge seu extremo? Essas indagações foram ponto de partida da obra e se fizeram mister na adaptação para a realidade virtual. Nessa transformação ficou claro que o espectador de cinema, de obras na rede e imerso nos gadgets da realidade virtual se transforma. Assim como se tranforma a arte da projeção (DOUGLAS, EAMON, 2009). Ver as imagens projetadas, e depois na tela dos dispositivos móveis e dos óculos de realidade virtual nos leva a considerar novos paradigmas para a própria projeção. Como Gunning já observava tal paradigma, afirmando que novos artistas “exploram as possibilidades da projeção de imagens advindas do filme, vídeo ou fontes computacionais fora dos contextos usuais do experimentalismo do cinema e do vídeo” permitindo-se lidar com as ambiguidades do espaço, do movimento e da ontologia (GUNNINNG, 2009, p.34), nossa obra pensa que em qualquer suporte uma espécie de projeção se consolida. Gunning considera que um novo espectador e que temas mais estruturais como enquadramento e tela não são mais as principias questões para a projeção enquanto arte. “Melting movie places” tenta sintetizar essa abertura proposta por Tom Gunning entendendo que hoje e sempre novos ambientes midiáticos trazem novas percepções. Para tal uma compreensão ecológica do meio (BRAGA, LEVINSON, STRATE, 2019) cinema se faz mais e mais necessária, assim como para inventar futuros talvez seja também uma demanda reinventar o que pensamos e criamos sobre salas de cinema para além dos lindos filmes que possuem elas como tema.
Bibliografia
- BRAGA, Adriana, LEVINSON, Paul; STRATE. Lance. Introdução à ecologia das mídias. Rio de Janeiro: Edições Loyola, 2019.
DOUGLAS, Stan; EAMON (eds.) Art of projection. Ostfieldern: Hatje Kantz, 2009.
GUNNING, Tom. The long and the short of it: Centuries of projecting shadows, form natural magic to the avant-garde. In: DOUGLAS, Stan; EAMON (eds.) Art of projection. Ostfieldern: Hatje Kantz, 2009.
MCLUHAN, Eric; MCLUHAN, Marshall. The laws of media: The new Science. Toronto: The University of Toronto press, 2000.
VIEIRA, João Luiz. Ressignificando fotografias de idas ao cinema: dois exemplos. Anais digitais do XXIV Encontro da Socine. Disponível em: https://associado.socine.org.br/anais/2021/21345/joao_luiz_vieira/ressignificando_fotografias_de_idas_ao_cinema_dois_exemplos Acesso em 16 de maio de 2022.