Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    GIOVANA VERNILO MENDES (UAM)

Minicurrículo

    Mestranda em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi (bolsista CAPES). Pesquisadora de horror no audiovisual e as representações femininas no gênero. Graduada em Comunicação Social – Rádio, TV e Internet pela mesma universidade. Produtora de TV, roteirista e diretora de cinema independente.

Ficha do Trabalho

Título

    Papéis de Gênero em A Maldição da Residência Hill e seus contextos.

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho se dispõe a analisar as representações de papéis de gênero, da família nuclear e das estruturas patriarcais em A Maldição da Residência Hill. Entendendo como a série se constrói dentro do contexto histórico e cultural em que foi criada, levando com consideração o declínio do patriarcado e o estado cultural americano pós atentado do 11 de setembro. A pesquisa é baseada em uma análise narrativa usando como corpus os personagens Hugh, Olivia, Steven e Nell.

Resumo expandido

    A pesquisa analisa a série A Maldição da Residência Hill (2018), escrita e dirigida por Mike Flanagan, entendendo o ciclo de horror ao qual ela se encaixa, e o que suas representações nos mostram sobre o período em que foi produzida, vendo a série como uma amostra de uma nova tendência no horror. Apesar de ser comum que filmes de horror se passem em casas de família, os filmes de horror do século XXI e mais especificamente os de 2008 para frente trazem uma nova abordagem para a família e os papéis de gênero. Com uma intensificação da experiência familiar feminina e que retratam o declínio da família nuclear e o declínio patriarcal de forma diferente.
    A cultura contemporânea se encontra atualmente em um estado pós-patriarcal. Isso não significa que o patriarcado não existe mais, mas que ele não é um modelo totalmente funcional para as relações sociais e que ainda não há uma alternativa evidente. As produções da última década representam esse sentimento de estagnação cultural, onde não há um vislumbre do futuro, mas não se pode mais voltar ao passado.
    A crise patriarcal é presente no horror desde os anos 1960. Em filmes como Psicose (Alfred Hitchcock, 1960) e Iluminado (Stanley Kubrick, 1980), há uma busca pela resolução ou absolvição da família burguesa. Na década de 1960 os filmes apresentavam mulheres, mães e seus filhos, muitas vezes retratadas como figuras demoníacas, como responsáveis pelos desafios à estrutura tradicional da família nuclear. Em 1970 as crianças passam a ser vistas de uma forma menos assustadora ou ameaçadora e nos anos 1980 as crianças passam a ser vistas como vítimas e a culpa começa a recair sobre os pais. Os filmes do século XXI retomam essas temáticas e abordagens a respeito da experiência familiar. São filmes como O Babadook (Jennifer Kent, Austrália, 2014), A Bruxa (Robert Eggers, EUA, 2015), Nós (Jordan Peele, 2019), que sugerem que a vida familiar burguesa, que antes era vista como concretização da cultura patriarcal, agora se tornou sufocante e insatisfatória. Nas obras dos últimos 13 anos, é comum que as figuras paternas morram ou se tornem completamente incapazes de ajudar e a autoridade patriarcal é comumente substituta por algo maior, muitas vezes desumano e até monstruoso. (Jackson, 2015).
    Essas mudanças teriam a ver com uma série de fatores. A pesquisa se aprofunda no pós-feminismo e na descentralização do poder patriarcal, que infelizmente não supre as necessidades das mulheres e do movimento feminista. Também é estudado as influências diretas do atentado do 11 de setembro sobre o estado cultural estado-unidense.
    A pesquisa apresenta como A Maldição da Residência Hill se relaciona diretamente com o pós 11 de setembro e analisa como as estruturas familiares se constroem na série. Analisando a jornada dos personagens Hugh, Olivia, Steven e Nell, entendemos como essa série mostra um homem (Steven) em busca pela sua masculinidade após renegar seu papel de patriarca da família pelas decepções com o pai, que fracassa em proteger seus filhos após a morte de sua esposa. Hugh é construído como pai patriarca falho, o que não é uma situação isolada no horror da última década. O pai é a âncora para a família nuclear tradicional, e quando e está louco, incapaz ou ausente ele se torna uma representação da ameaça para toda uma ordem social.
    O estudo também apresenta a diferença na retratação das personagens femininas que apesar de se mostrarem como loucas, se diferenciam da maioria de produtos de horror por não serem sexualizadas e não serem retratadas como fracas. Olivia e Nell na narrativa, mesmo quando são fantasmas e figuras de horror, se mostram como amorosas e centradas na família. Diferente dos filmes dos anos 1980, as obras de 2008 em diante mostram que a redenção do patriarca é impossível de alcançar, ficando para a mulher e as crianças a tentativa de salvar a família. (JACKSON,2015).

Bibliografia

    ARNOLD, S. Maternal Horror Film: Melodrama and motherhood. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2013.
    CARRUTHERS, E. M. Red Room, Red Womb: Phantom Feminism. In: JR, K. J. W. (ed.). Streaming of Hill House: Essays on the haunting netflix adaption. [S.l.]: McFarland & Co Inc, 2020. cap. 14, p. 155 – 165.
    CHERRY, B. Horror. [S.l.]: Routledge, 2009.
    CREED, B. Horror and the Monstrous-Feminine: An Imaginary Abjection. Screen, v. 27, n. 1, p. 44 – 71, Janeiro/Fevereiro 1986.
    HO, A. K. H. Recovery from Trauma in Post-9/11 Horror/Terror of Mike Flanagan’s Oeuvre. In: JR, K. J. W. (Ed.). Streaming of Hill House: Essays on the haunting netflix adaption. [S.l.]: McFarland & Co Inc, 2020. cap. 6, p. 74 – 84.
    JACKSON, K. Gender and the Nuclear Family in Twenty-First-Century Horror. 1. ed. [S.l.]: Palgrave MacMillan, 2015.