Ficha do Proponente
Proponente
- Edileuza Penha de Souza (UnB)
Minicurrículo
- Professora, Documentarista e Pesquisadora, dirigiu: Filhas de Lavadeiras (Brasil, 2019 – 22min). Foi estudante da EICTV – Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Banõs – República de Cuba, onde participou como Produtora, diretora de artes, roteirista e atriz do premiado curta Teresa (Brasil/Cuba/ México/Venezuela, 2014). Organizou a Coleção: “Negritude Cinema e Educação – Caminhos para implementação da lei 10.639/2003”, editado pela Mazza Edições, Belo Horizonte, aprovada no PNL
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema Negro no Feminino –fundamentos a partir de Café com Canela
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Formato
- Presencial
Resumo
- O artigo discute o conceito de Cinema Negro no Feminino (CNF), a partir dos aspectos de identidade, memória e amor no filme Café com Canela, dirigido por Glenda Nicácio e Ary Rosa (Brasil, 2017). Analisa as narrativas cinematográficas, sonoras e visuais de cuidado e afeto e como esses sentimentos estruturam o conceito de CNF. Concluiu-se que as histórias sobre afeto, amizade e cuidado de e com pessoas negras permitem reflexões sobre vidas a partir dos verbos: Acreditar, Viver e Compartilhar.
Resumo expandido
- Minha escolha por “Café com canela” também está conectada com dar visibilidade estética, política e geográfica a um cinema que se constitui fora da estereotipia, um cinema que possibilita descortinar novas visões de mundo. Noutras palavras, minha opção pelo Cinema Negro Feminino passa por edificar um debate sobre cinema como espaço de identidades, territorialidade e afetos; busca propiciar uma filmografia negra brasileira que tem privilegiado de forma positiva a formação da identidade, do pertencimento, e conduzir essa discussão como categoria acadêmica que se contraponha à naturalização do racismo e do sexismo no cinema e reflita sobre histórias de amor, paixões, desejos, ancestralidade e memória.
Acreditar, viver e repartir, esses verbos sintetizam a esperança como processos afetivos, capazes de constituir novas imagens da população negra. Neste sentido, quando homens e mulheres negras fazem cinema, estão rompendo com o racismo estrutural e criando outras possibilidades, novos olhares e perspectivas. São cineastas negros (as) que têm pautado o amor e a afetividade negra como condição básica para criar e recriar a diversidade e a pluralidade nas pesquisas, no cinema e na vida.
Pensar o cinema como estratégia de acesso à informação e construção de identidade nos possibilita refletir sobre a necessidade urgente de pensarmos um conceito de “Cinema Negro no Feminino”. Essa terminologia vem sendo usada no Brasil e no mundo como um cinema arquitetado por cineastas negras que, além de Glenda Nicácio, podemos citar Mariana Campos; Viviane Ferreira; Juliana Vicente; Renata Martins; Larissa Fulana de Tal; Jamile Coelho; Urânia Muzanzu; Flora Egécia; Mariana Luiza, Everlane Moraes e tantas outras, entre as quais também me incluo.
Essas cineastas são mulheres negras e militantes que encontraram no audiovisual possibilidades concretas de denunciar e combater o racismo, o machismo, a homofobia e as múltiplas formas e especificidades de discriminações e preconceito tão arraigadas na sociedade. A participação dessas Mulheres na indústria cinematográfica ainda é negligenciada e abafada, a exemplo dos trabalhos de Adelia Sampaio e de outras, como o da atriz e diretora Maria Dealves.
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O cinema produzido por mulheres negras tem marcado uma territorialidade sedimentada no desenvolvimento humano, criando e recriando mundos e possibilidades, onde o fazer cinema se impõe também como principal possibilidade na constituição do indivíduo enquanto parte de um coletivo e de uma territorialidade que permite a recriação do mundo e a elaboração de um cinema engajado na luta por uma sociedade mais justa e igualitária (SOUZA, 2008).
Diretoras negras têm feito de seus filmes verdadeiros manifestos de denúncia da violência contra mulheres e LGBTQIA+, tratam de temas ligados à juventude negra, retratam como a intolerância e o preconceito podem modificar os caminhos de um(a) jovem negro(a). São filmes que falam de sexualidade, gênero, com a mesma maestria que trazem para as telas o amor e o afeto.
Essas cineastas e tantas outras são responsáveis por construírem um cinema de identidade, entendido como espaço de pertencimento e, assim, são agentes recriadoras de mundos e de possibilidades de amor e afetos. Ao produzir e dirigir seus filmes, cineastas negras brasileiras têm consolidado um modo de fazer cinema que tem como referência a história e a cultura negras.
Bibliografia
- Bamba, Mahomed (Org.). Teorias da recepção cinematográfica ou teorias da espectatorialidade fílmica? In: BAMBA, Mahomed. A recepção cinematográfica: teoria e estudos de casos. Salvador: Edufba, 2013. p. 19-66.
Ferreira, Ceiça; Souza, Edileuza Penha de. Formas de visibilidade e (re) existência no cinema de mulheres negras. In: Karla Holanda; Marina Cavalcanti Tedesco. (Org.). Feminismo e plural: mulheres no cinema brasileiro. 1. ed. São Paulo: Papirus, 2018, v. 1,
Silva, Conceição de Maria Ferreira. Mulheres negras e (in)visibilidade: imaginários sobre a intersecção de raça e gênero no cinema brasileiro (1999-2009). 2016. 297 f., il. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Programa de Pós Graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, UnB. Brasília, 2016.
Souza, Edileuza Penha de. Cinema na panela de barro: mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade, 2013. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de Brasília (UnB). Brasília, 2013