Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Liana Lobo Baptista (UFMG)

Minicurrículo

    Educadora Audiovisual no Núcleo de Arte do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Graduada em Cinema e Audiovisual – Licenciatura na Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente, no Mestrado Profissional Educação e Docência (Promestre) da UFMG, pesquisa a Educação Audiovisual dentro da Escola.

Ficha do Trabalho

Título

    Educação Audiovisual na Escola: O que podemos aprender com crianças?

Seminário

    Cinema e Educação

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta pesquisa-ensino cartografa encontros de uma turma de crianças do CP/UFMG com a Educação Audiovisual. A partir das interações nas aulas de Arte, a professora-pesquisadora busca escutar e evidenciar o que as crianças propõem, inventam e tensionam como Educação Audiovisual. Nos processos de criação e apreciação, as falas e envolvimento das crianças sugerem um espaço-tempo do estar juntos, do perguntar e perceber possibilidades, do dar risada, e do compartilhar.

Resumo expandido

    No Centro Pedagógico (CP) – escola de Educação Básica que ministra o Ensino Fundamental na Universidade Federal de Minas Gerais – o Audiovisual é uma das linguagens ofertadas na disciplina Arte. Esta ‘pesquisa-ensino’ (ZAIDAN et al, 2018) cartografa aulas de Audiovisual no CP gravadas em 2021 em ensino remoto, registrando onze encontros entre a professora-pesquisadora e uma turma de crianças de 7 a 8 anos. A partir das interações em sala de aula, e dos processos das crianças com o audiovisual, esta pesquisa busca escutar e evidenciar o que as crianças propõem, inventam e tensionam como Educação Audiovisual. As crianças podem nos ajudar a imaginar como o Audiovisual pode ocupar as escolas?
    Em muitas publicações no campo Cinema-Educação, encontramos uma desconfiança com o Audiovisual ocupando o espaço de disciplina curricular na Escola. Bergala (2008) ressaltou que toda forma de enclausuramento na lógica disciplinar reduziria a potência do Audiovisual enquanto arte. Como resposta, Fresquet estabeleceu como princípio manter as práticas com cinema “fora da grade curricular, isto é, como atividade optativa, sem nota, preferencialmente” (FRESQUET, 2017). Talvez o argumento seja, no cerne, uma crítica à própria instituição Escola. Por um lado, querem proteger as potências do Audiovisual da lógica disciplinar pois entendem que é construída de forma a padronizar as experiências. Por outro lado, entendem que se o encontro das crianças com o Audiovisual como arte não acontecer na escola, ele corre o risco de não acontecer em lugar nenhum.
    Nessa pesquisa-ensino há encontros entre educandos e Audiovisual dentro da disciplina Arte. Estes encontros são registrados buscando observar aberturas de mundos possíveis que podem surgir com a Educação Audiovisual como arte, acolhimento, coletividade, e criação. Pode a Educação Audiovisual inventar um espaço nas escolas para experiências múltiplas, sensíveis e criativas? Podem as perspectivas e saberes do Audiovisual serem suspensos de seus usos da sociedade capitalista, tencionando o que é público e possível?
    Há também um encontro com as infâncias. Não a infância como território de projeto de futuro, em nome de heróis como o Progresso, o Desenvolvimento e a Tecnologia. E sim, como propõe Larrosa, um encontro com as infâncias que não seja nem de apropriação nem de re-conhecimento do que já se sabe, e sim a experiência de “colocar-nos à escuta da verdade que aquele que nasce traz consigo” (LARROSA, 1998).
    Junto à autora Ursula K. Le Guin (1986), refletimos que as narrativas que permeiam nosso imaginário estruturam-se como uma flecha – que começa aqui e vai direto pra lá para atingir um alvo. Essa é a narrativa do Herói e suas armas para bater, perfurar e matar. Aquele indivíduo que se lança em aventuras importantes para conquistar terras, mulheres e glória. Le Guin chama esta de A História da Ascensão do Homem. A história que não queremos mais fazer parte. Qual é então a história que não é a do Herói? Qual é o processo que não é o de conquista de territórios?
    Essa outra história parece ser mais fácil de ser inventada pelas crianças de 7 anos do CP no encontro com os processos audiovisuais. Criam primeiramente pelo próprio gosto do ato de desenhar, escutar, olhar, manusear – sem preocupar-se com os conflitos que as histórias devem conter, ou com a resolução que os processos precisam chegar. Criam também para poder compartilhar. Questionar uns aos outros e perceber possibilidades. Essas crianças parecem querer, em especial, estar juntas, ver juntas, entender juntas, criar juntas. E querem se divertir no processo.

Bibliografia

    BERGALA, Alain. A Hipótese-Cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: CINEAD/UFRJ, 2008.
    FRESQUET, Adriana. Cinema e Educação: reflexões e experiências com professores e estudantes da educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
    LARROSA, Jorge. O Enigma da infância ou o que vai do impossível ao verdadeiro. Em: Imagens do outro. Petrópolis: Vozes, p. 67-86, 1998.
    LE GUIN, Ursula K. A Ficção como Cesta: Uma Teoria / The Carrier Bag Theory of Fiction (1986). In: Dancing at the Edge of The World – Thoughts on Words, Women, Places. Tradução: Priscilla Mello. Ed. Grove Press, 1989.
    MASSCHELEIN, J.; SIMONS, M. Em defesa da escola: uma questão pública. Trad. Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
    ZAIDAN, S. et al. A Pesquisa da Própria Prática no Mestrado Profissional. Revista Multidisciplinar Plurais. Salvador, v.3, n. 1, p. 88-103, jan./abr. 2018.