Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Marta Cardoso Guedes (SME)

Minicurrículo

    Doutora Educação UFRJ. Mestre Educação UFRJ. Especialista Psicomotricidade UNIIBMR. Professora Educação Física UGF. Atriz (DRT 20.318). Professora Educação Física Rede Municipal do Rio de Janeiro (SME). Professora responsável pelo Projeto Cinema para Aprender e Desaprender (CINEAD/LECAV/UFRJ) na Escola Municipal Prefeito Djalma Maranhão no Rio de Janeiro.
    Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/7776876291421009

Ficha do Trabalho

Título

    O AUDIOVISUAL NA ESCOLA DA FAVELA DIANTE DE UM CENÁRIO DE INCERTEZAS

Formato

    Remoto

Resumo

    Desde 2015, a Escola de Cinema do Djalma (CINEAD) pesquisa a história da favela do Vidigal. Restauramos, em parceria com a Cinemateca do MAM-Rio, imagens Super-8, fotografias e fitas cassete sobre a luta dos moradores da favela contra sua remoção para Santa Cruz/Antares em 1977/78. Em 2019, realizamos as gravações de Morro do Vidigal pelo confronto das imagens de arquivo com as testemunhas da história. Como retomar esse trabalho interrompido pela pandemia do Covid-19 em um cenário de incertezas?

Resumo expandido

    A favela do Vidigal sofreu diversas ameaças de remoção. Em 1977/78, ocorreu a maior delas. Parte da favela seria removida para o Conjunto habitacional de Antares/Santa Cruz. Na época um grupo de dirigentes da Associação dos Moradores da Vila do Vidigal com o apoio da Pastoral das Favelas, de artistas da comunidade e simpatizantes da causa impediu a remoção. Em 2015, a partir da aposta da Escola de Cinema do Djalma com a investigação da história da favela, foi possível realizar o documentário Paraíso Tropical Vidigal, todo gravado por estudantes de 09/13 anos de idade. A partir de então, muitos e valiosos encontros se deram, e com eles, a descoberta e a restauração em parceria com a Cinemateca do MAM-Rio, de filmes super-8, negativos de fotografias e fitas cassete com entrevistas da época. Em 2019, com todo esse material recuperado, realizamos as gravações de Morro do Vidigal. Os arquivos funcionaram como dispositivo de acionamento de lembranças, pretexto para as falas dos ex-presidentes da Associação dos Moradores da Vila do Vidigal (LEANDRO, 2018). É necessário o conhecimento do passado para o enfrentamento do presente – esse foi o mote do projeto de cinema da nossa escola desde o seu início (BENJAMIN, 2009).
    2020 seria o ano reservado para a montagem do filme documentário. Porém, o mundo hiperglobalizado viu explodir a pandemia da Covid-19. Com ela, vimos como a necropolítica (MBEMBE, 2019), escolhe quem vai viver ou morrer! Necropolítica, como um conceito acadêmico, ajuda-nos a pensar como o Estado se omite da sua função de proteger vidas. Justamente as vidas que geram riquezas pelo fruto do trabalho ou pelos impostos pagos, como a vida de nossos estudantes da classe trabalhadora e de suas famílias. Ao contrário do que deveria fazer – devolver essa riqueza para a população em bem estar social – a necropolítica envolve a precarização do serviço público, da saúde, do saneamento básico, do acesso à água, etc. Também investe em setores cuja finalidade é matar, como por exemplo, a Polícia Militar. Matar algumas pessoas de determinados grupos específicos, matar localizadamente e aos poucos. Desde a ruptura democrática de 2016, está em curso no Brasil um crescente estado de exceção. A política de Jair Bolsonaro é repleta de darwinismo social ao banalizar mortes que conseguiriam ser evitadas (LEHER, 2020).
    Nossos estudantes habitam moradias com mais de três pessoas por cômodo, muitas vezes inclusive uma família inteira divide um único cômodo. Quanto à telefonia celular, em geral essa é pré-paga e um único aparelho móvel é compartilhado pelas famílias dos nossos jovens da favela. Destarte, sem reabertura física das escolas e com dificuldades de ordem prática quanto às condições de moradia, alimentação, equipamentos necessários para as atividades de ensino remotas, acesso à internet, mortes de familiares (tanto por Covid-19, quanto pela violência policial rotineira); o ano letivo de 2020 ficou seriamente comprometido na rede pública estadual e municipal do Rio de Janeiro. No período de 2020/21, não foi possível contato presencial ou virtual com os estudantes da Escola de Cinema do Djalma. Nossa escola retornou presencialmente em julho de 2021, porém com os estudantes divididos em grupos A e B frequentando aulas presenciais em semanas alternadas. Somente em fevereiro de 2022 retomamos as atividades presenciais de forma integral.
    A produção do nosso documentário tem um propósito historiográfico, memorialístico e político. Buscamos a elaboração de uma memória, o reconhecimento da história de lutas da favela do Vidigal tendo em vista a projeção de futuros plurais, diversos e livres dos nossos estudantes da classe trabalhadora.
    Como montar um filme, todo pensado e construído com a escola e com moradores da favela do Vidigal com tantas incertezas? O que pode ser feito a partir desse retorno presencial precário e duvidoso? Os projetos de extensão universitária podem colaborar com essa retomada do cinema na escola da favela?

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: editora da Universidade Federal de Minas Gerais. 2009.

    LEANDRO, Anita. Testemunho filmado e montagem direta dos documentos. In. DELLAMORE, Carolina; AMATO, Gabriel; e BATISTA, Natália, orgs. A ditadura na tela. Questões conceituais. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – UFMG, 2018, pp. 219-232.

    LEHER, Roberto. Reabertura das escolas defendida pelo presidente e seu ministro da educação é política de morte. Publicado no Portal Carta Maior em 22 de abril de 2020. Disponível em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Reabertura-das-escolas-defendida-pelo-presidente-e-seu-ministro-da-educacao-e-politica-de-morte/4/47256
    Link acessado em 29 de maio de 2020.

    MBEMBE, Achille. Necropolítica. n-1edições, São Paulo, 2019.