Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Alexandre Figueirôa Ferreira (Unicap)

Minicurrículo

    Alexandre Figueirôa é Mestre em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e Doutor em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Universidade Paris 3, com pós-doutorado em Cinema pela Universidade de Reading (UK). É professor da Universidade Católica de Pernambuco, cineasta, crítico e pesquisador. Autor, entre outros, de Cinema Pernambucano: uma História em Ciclos (FCCR, 2000) e Cinema Novo, a Onda do Jovem Cinema e sua Recepção na França (Papirus, 2004).

Ficha do Trabalho

Título

    Fernando Spencer: um crítico em defesa do cinema pernambucano

Formato

    Presencial

Resumo

    Durante os 40 anos de atividades como crítico do Diario de Pernambuco (1958-1998), o jornalista e cineasta Fernando Spencer lutou de forma incansável para Pernambuco se tornar um polo de produção cinematográfica. Desde o início de sua carreira apoiou e incentivou os realizadores pernambucanos, divulgando os seus projetos e apontando as possibilidades para eles conseguirem ter êxito nas suas empreitadas, além de cobrar, constantemente, do poder público, apoio para a produção local.

Resumo expandido

    Nos 40 anos de atividades como crítico do Diario de Pernambuco (1958-1998), o jornalista e cineasta Fernando Spencer lutou de forma incansável para Pernambuco se tornar um polo de produção cinematográfica. Desde o início de sua carreira apoiou e incentivou os realizadores pernambucanos, divulgando os seus projetos e apontando as possibilidades para eles conseguirem ter êxito nas suas empreitadas, assim como noticiou e acompanhou de perto as produções de cineastas que vinham filmar no estado, na esperança destas produções incluírem mão de obra local e estimularem os artistas da terra a fazerem filmes.

    Os filmes concluídos, fossem eles em super-8, 16 ou 35 mm, ficção ou documentário, recebiam sempre de Spencer alguma atenção. Nestes momentos, o crítico rigoroso, que militava de forma ferrenha por um cinema de qualidade, dava lugar a um cronista que, mesmo reconhecendo a fragilidade de algumas obras, tinha palavras generosas de modo a não desestimular os realizadores.

    No final dos anos 1950, quando Spencer começou a atuar como o titular da página de cinema do DP, a produção cinematográfica pernambucana estava quase estagnada. O último grande acontecimento a mobilizar o estado fora a passagem de Alberto Cavalcanti, em 1952, quando realizou no Recife o longa de ficção O Canto do Mar. As poucas realizações eram curtas documentais como O Mundo do Mestre Vitalino, do francês Armando Laroche, sobre o ceramista pernambucano Vitalino Pereira dos Santos, lançado em 1953, o documentário Bumba-meu-boi, dirigido por outro francês, Romain Lesage, no mesmo ano, ambos realizados com apoio do então Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJNPS), e os oito cinejornais rodados por Firmo Neto, patrocinados pelo jornal Folha da Manhã, o Folha da Manhã na Tela.

    A repercussão do documentário paraibano Aruanda (1961), de Linduarte Noronha, com direção de fotografia do pernambucano Rucker Vieira e o apoio do IJNPS, juntamente com a movimentação cinematográfica na Bahia conhecida como Ciclo Baiano de Cinema, com os filmes Bahia de Todos os Santos (1960), de Trigueirinho Neto, A Grande Feira (1961), de Roberto Pires, e Barravento (1961), de Glauber Rocha, entre outros, levou Spencer a clamar nas páginas do DP, a necessidade de Pernambuco também produzir filmes seguindo o modelo de produção baiano. No artigo “Vamos fazer cinema: Bahia já deu sinal”, fez a convocação:

    “O exemplo que a Bahia vem dando, em matéria de cinema feito com dedicação e carinho, deve ser imitado por todos os grandes centros brasileiros, mormente o Nordeste e, particularmente, Pernambuco que tem chance para abrir novos caminhos no campo da indústria de filmes. A Bahia está revolucionando, de uns meses para cá, os círculos cinematográficos do país, inclusive fora de nossas fronteiras, pois já se fala que um produtor francês irá realizar ali, filme orçado em 500 milhões de cruzeiros.
    (…) Esperamos que Pernambuco também possa fazer o mesmo. Temos gente de valor, capaz e, antes de tudo, idealista e que acredita nas nossas possiblidades”. (SPENCER, 1962)

    A esperança de Pernambuco voltar à cena cinematográfica brasileira como ocorrera na década de 1920 com o Ciclo do Recife foi acesa quando o ator e produtor pernambucano Wilson Afonso Valença Filho anunciou, no início de 1962, que filmaria no estado o longa-metragem Terra sem Deus. Spencer abraçou com entusiasmo o projeto, acompanhando e noticiando, durante meses, todas as etapas da realização, da elaboração do roteiro a estreia do filme. A partir daí, os realizadores pernambucanos encontraram um aliado fiel que, além de divulgar seus projetos, participou de ações visando agregar em associações de cineastas, tanto realizadores amadores quanto profissionais; e cobrou, constantemente, do poder público, formas de apoio à produção.

Bibliografia

    ARAUJO, Luciana. A crônica de cinema do Recife nos anos 50. Recife: CEPE, 1997.
    DIB, André e JOAQUIM, Luiz. Às palavras, às imagens: a crítica em Pernambuco. In: SILVA, Paulo Henrique (org.). Trajetória da crítica de cinema no Brasil. Belo Horizonte: Letramento, Abraccine, 2019. p. 264-286.
    FIGUEIRÔA, Alexandre. Cinema pernambucano: uma história em ciclos. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2000.
    FIGUEIRÔA, Alexandre e BEZERRA, Claudio. O documentário em Pernambuco no século XX. Recife:Fasa, MXM Gáfica e Editora, 2016.
    MOTA, Luiz H.. Um Olhar Sobre o Olhar: duas décadas de crítica cinematográfica nos jornais pernambucanos (1950-1970). Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1995.
    SPENCER, Fernando. Vamos fazer cinema: Bahia já deu sinal. Diario de Pernambuco, Recife, 25 de fevereiro 1962.