Ficha do Proponente
Proponente
- Marcia Antabi (PUC-Rio)
Minicurrículo
- Doutoranda em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Mestre em Fotografia e Mídias pela School of Visual Arts de Nova Iorque (1997). É professora de Edição em Cinema e Audiovisual do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio desde 2001. Diretora premiada, editora de vídeos, fotógrafa e jornalista.
Ficha do Trabalho
Título
- Trajetória do fragmento e remontagem do arquivo yiddish: Mir Kumen On
Seminário
- Outros Filmes
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir do movimento de resgate de contextos e histórias de fundo das produções do cinema yiddish no entreguerras na Polônia, olhamos para esta cinematografia como um cinema-passaporte. São filmes que servem como um passe, pelas imagens, para nos ajudar a transpor os limites do inimaginável. O objetivo é transmitir a importância da preservação da memória da cultura yiddish por meio do cinema. Desenterramos o documentário Mir Kumen On (Estamos Chegando, 1936) do diretor polonês Aleksander Ford.
Resumo expandido
- A questão da transmissão e da preservação da memória é, decerto, um dos imperativos éticos do século XXI. Vários filmes do cinema yiddish desapareceram durante a Shoah. Da mesma forma, muitos diretores, atores e equipe envolvida nas produções cinematográficas foram assassinados. Em vista de uma urgência no desenterramento desta cinematografia, é imprescindível o movimento de resgate de contextos e histórias de fundo das produções do cinema yiddish. Nesse sentido, olhamos para este cinema como um cinema-passaporte. São filmes que servem como um passe, pelas imagens do cinema, para nos ajudar a transpor os limites do inimaginável. É necessário imaginar para transmitir: ativar a memória, provocar o pensamento por meio das imagens, dos testemunhos e da cultura.
A partir do encontro com a cinematografia yiddish e da possibilidade destes filmes tornarem-se novamente visíveis, o desenterramento do cinema-passaporte significa um duplo interesse: o desejo de transmissão e de resistência ao total apagamento da cultura yiddish (presente-futuro) e a viagem entre mundos, temporalidades, espaços e línguas (passado-presente). O gesto de busca nos arquivos remanescentes de imagens sobre o cotidiano da comunidade judaica no entreguerras da Polônia contribui para a continuidade do revigoramento da cultura yiddish no Brasil e no mundo.
Na condução da discussão para o âmbito da cinematografia, unimos o conceito de língua-passaporte (1996, p. 33), do especialista em língua yiddish no Brasil e professor emérito de estética e crítica teatral da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Jacó Guinsburg (1921-2018), para avistar o filme apresentado como páginas de um cinema-passaporte.
O cinema funciona, portanto, como um passe para a conexão com a cultura, com a língua e com a história – inclusive com a história do próprio cinema. Viajar com o cinema yiddish é olhar para além de uma fresta e observar o horizonte da língua, atravessar outras línguas – polonês, russo, hebraico, aramaico, alemão –, outras geografias, aprender sobre as transformações modernas e sobre a história judaica. No processo de imersão na língua e na história por meio do cinema, cruzamos os espaços humanos que construíram estas narrativas ficcionais e documentais.
Mir Kumen On, um dos poucos documentários que remanescem sobre a vida judaica na Polônia antes da Segunda Guerra Mundial, transporta o espectador para o tempo e entre lugares onde o maior núcleo social e cultural judaico da Europa vivia em 1935.O filme é uma prova de como a arte é política quando nos ajuda a redefinir a nossa forma de olhar e até de sentir. Chamamos a atenção aqui para a urgência daquele momento ao resgatarmos hoje tanto a narrativa do filme quanto a trajetória do cineasta. São camadas que surgem no documentário e que, na época, encontravam-se na ordem do impensado, do inimaginado, da atrocidade. A partir da produção e da montagem de Mir Kumen On, Aleksander Ford realizou um canto pela luta contra a tirania.
No documentário de Ford, a teia tecida pelo cinema entre o teatro, a literatura e a música caracteriza um passaporte para a bagagem yiddish, transmitida de geração a geração.Ao gravar o documentário em 1935, o diretor e sua equipe não poderiam imaginar que, em seis anos, aquelas imagens tornar-se-iam evidências do genocídio. Ao produzir um arquivo do presente, o cineasta nos fornece hoje um fragmento da memória e da história. O que queremos ver com estas imagens é, de fato, uma questão que atravessa esta pesquisa em andamento.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. Escavar e Recordar. In:__Imagens de Pensamento: Sobre o haxixe e outras drogas. Ed. e Trad.: João Barrento. 1. ed.; 2. reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
DIDI-HUBERMAN. Imagens apesar de tudo. Trad.: Vanessa Brito e João Pedro Cachopo. São Paulo: Editora 34, 2020.
FRANÇA, Andréa Martins. Terras e Fronteiras no Cinema político contemporâneo. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003.
GOLDMAN, Eric A. Visions, Images and Dreams: Yiddish films, past and present. Teaneck, New Jersey: Holmes & Meyer Publishers, Inc., 2011.
GUINSBURG, Jacó. Aventuras de uma Língua Errante: ensaios de literatura e teatro Ídiche. São Paulo: Perspectiva, 1996.
HOBERMAN, J. Bridge of Light: Yiddish Film between two Worlds. Waltham, Massachusetts: Brandeis University Press of New England, 2010.
LINDEPERG, Sylvie. Noche y Niebla: Un film en la Historia. Tradução: Natalia Taccetta. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2016.