Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Debora Regina Taño (UFSCar)

Minicurrículo

    Doutoranda em Engenharia de Produção (PPGEP) pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mestre e graduada em Imagem e Som pela mesma universidade. É professora de audiovisual no Centro Universitário Central Paulista (Unicep) e atua como produtora executiva, montadora e editora de áudio. Suas pesquisas são nas áreas de som no cinema, cinema argentino contemporâneo e redes de produção e distribuição na indústria cinematográfica brasileira.

Ficha do Trabalho

Título

    A frustração do cinema nacional e o modelo industrial norte-americano

Formato

    Presencial

Resumo

    As discussões acerca de como e o que seria o cinema brasileiro por excelência, a partir da década de 1920, encontraram no modelo norte-americano o ideal de indústria. A partir disso, propõem-se examinar as chamadas tentativas de industrialização do cinema brasileiro por meio das teorias institucionais, identificando as práticas de legitimação do cinema nacional diante de um modelo artístico e de produção institucionalmente mimetizado do contexto hollywoodiano clássico.

Resumo expandido

    A afirmação da não existência de indústria de cinema no Brasil surge de pesquisadores, intelectuais e profissionais de cinema que defendem a impossibilidade de o país ter uma indústria de filmes e segue sendo consolidada por estudos acadêmicos da área. Tal afirmação, no entanto, pressupõe um conceito de indústria bastante idealizado e de forma geral associado a um tipo específico de arranjo produtivo. No entanto, assim que uma forma produtiva específica é definida como a correta, qualquer outra atividade, por mais ou menos efetiva que seja, é deslegitimada e, portanto, entendida como inválida.
    A construção de tal referência de estruturas tem início a partir da década de 1910, quando a indústria cinematográfica norte-americana se consolidou não apenas no mercado interno, mas também como referência estética e produtiva pelo mundo. O domínio da forma narrativa coesa e transparente e da produção praticamente ininterrupta, além da exibição doméstica garantida pela verticalização das companhias fez do cinema dos Estados Unidos, concentrado então em Hollywood, a principal referência de cinema no mundo após a Primeira Guerra Mundial (COSTA, 2005).
    No Brasil, a partir dos anos 1920, a ideia da industrialização do cinema passou a ser pauta constante tanto de críticos quanto de realizadores. As discussões acerca do que deveria ser feito, qual tipo de filme, o que seria o cinema brasileiro por excelência e como fazê-lo sempre acabavam por ter o modelo norte-americano como referência. Algumas tentativas de verticalização da produção ocorreram, variando o seu tempo de existência e as temáticas dos filmes. Todas elas, no entanto, não satisfizeram a vontade de ver o Brasil com uma indústria consolidada, que garantisse a produção constante de filmes e o alcance ao menos do público doméstico (GALVÃO; SOUZA, 1987). O foco na estrutura física dos estúdios
    e no modelo hollywoodiano não considerou as características da economia e da indústria nacional, nem o público e como chegar até ele.
    A partir disso, a proposta do presente trabalho é discutir a possibilidade de que a questão da industrialização do cinema no país não seja apenas uma falta de organização dos realizadores, a incipiente participação do Estado ou o mercado ocupado pelo filme estrangeiro (AUTRAN, 2004), mas uma questão de adoção de um modelo advindo de contexto completamente diverso. Por mais oscilante que fosse, a produção de filmes no país seguiu uma trajetória considerável, sobretudo no período aqui analisado, de 1920 a 1960. Produção essa que em alguns momentos foi feita por estúdios e em outros por realizadores independentes com seus próprios recursos ou com apoio de empresários. A discussão sobre o que deveria ser o cinema e como ele seria feito, no entanto, acabou por focar os esforços para a produção, deixando de lado a parte da distribuição e exibição no modelo hierárquico adotado.
    A tentativa de seguir o modelo norte-americano, no entanto, não abriu espaço para a adoção de outras lógicas e estruturas de governança que existiam mas não eram valorizadas pelo meio. As teorias institucionais explicam tal comportamento por meio do isomorfismo e da necessidade das organizações em se legitimarem em seu campo (DIMAGGIO; POWELL, 2005). Tal legitimidade muitas vezes se dá pela imitação de práticas que são entendidas como corretas, mesmo que não tenham sido pensadas para aquele contexto no qual estão sendo aplicadas. Ocorre assim um descolamento entre a prática institucionalizada e as atividades reais, entre a legitimação no campo e a eficiência da organização (MEYER; ROWAN, 1977).

Bibliografia

    AUTRAN, A. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. 2004. Tese, Unicamp, Campinas, 2004.
    COSTA, F. C. O Primeiro Cinema: espetáculo, narração, domesticação Rio de Janeiro:
    Azougue Editorial, 2005.
    DIMAGGIO, P. J.; POWELL, W. A gaiola de ferro revisitada: isomorfismo institucional e racionalidade coletiva nos campos organizacionais. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 45, n. 2, p. 74-89, 2005.
    FLIGSTEIN, N. The Transformation of Corporate Control. Cambridge: Harvard University Press, 1990.
    GALVÃO, M. R. E.; SOUZA, C. R. Cinema brasileiro: 1930/1960. Lisboa: Cinemateca
    Portuguesa; 1987.
    MEYER, J. W.; ROWAN, B. Institutionalized Organizations: Formal Structure as Myth
    and Ceremony. American Journal of Sociology, v. 83, n. 2, p. 340-363, 1977.
    TAÑO, D. R.; TORKOMIAN, A. L. V. Isomorfismo mimético no cinema brasileiro: o modelo norte-
    americano de governança e a frustração da indústria nacional. Comunicação Mídia e Consumo, v.17, n.49, p. 367–388, 2020.