Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Henrique Bolzan Quaioti (USP)

Minicurrículo

    Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo (USP) e Mestre em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM, 2021). Membro no grupo de pesquisa “Inovações e Rupturas na Ficção Televisiva” (UAM/CNPq). Autor de artigos e capítulos de livros, com ênfase em Cinema e Televisão.

Ficha do Trabalho

Título

    Análise comparativa entre a obra de Howard Hawks e Wes Anderson

Formato

    Presencial

Resumo

    O objetivo deste trabalho é mostrar o impacto das obras de Howard Hawks na cinematografia do diretor estadunidense Wes Anderson. Para isso, faz-se uma análise comparativa entre os filmes de Hawks – com especial atenção às comédias – e os de Anderson, sobretudo no que diz respeito à temática de seus filmes e à forma como são filmadas as ações e os diálogos.

Resumo expandido

    Cineasta (e cinéfilo) apaixonado como Truffaut, o diretor estadunidense Wes Anderson sempre admitiu seu interesse em assimilar influências de inúmeros cineastas e artistas. Críticos e estudiosos assinalam os vários traços característicos e distintivos dos filmes de Anderson, mas muitas vezes sem esclarecer que eles não são totalmente originais e inéditos, ou mesmo sem apontar as várias influências que Anderson utiliza, brinca e reinventa em seu trabalho. Este fato é ainda mais surpreendente pela disposição de Anderson, desde suas entrevistas de início de carreira, em reconhecer seus antepassados cinematográficos, incluindo Louis Malle, François Truffaut, Jean-Pierre Melville, Maurice Pialat, Michael Powell e Emeric Pressburger, Jean Renoir, Satyajit Ray, John Cassavetes, Alfred Hitchcock, Luis Buñuel, Stanley Kubrick, Ken Loach, Ernst Lubitsch, Leo McCarey, entre outros.

    O objetivo desta comunicação é mostrar o impacto das obras de Howard Hawks, com especial atenção às comédias, na obra cinematográfica de Wes Anderson. Para isso, portanto, faz-se uma análise comparativa entre os filmes de Hawks e os de Anderson, sobretudo no que diz respeito à temática de seus filmes e à forma como são filmadas as ações e diálogos.

    Os conteúdos trabalhados por Hawks são recorrentes também na filmografia de Anderson. Talvez a conexão mais evidente seja a fusão entre comédia e drama que se aguçam reciprocamente como a inevitabilidade da responsabilidade de seus personagens, deslocando a atenção dos grandes arcos dramáticos para uma sucessão de encontros, de relações entre homens e homens, preferencialmente, conforme apontam as análises de Rivette (2013), Andrade (2013) e Wood (2006) a respeito de Hawks. Estas relações em ambos os cineastas surgem de aventuras de grupo buscando levar a cabo uma tarefa, onde a virilidade, certo infantilismo ou emburrecimento, e a forte competitividade masculina surgem como fonte de diversão. Rivette aponta que “a conquista do universo não se faz sem conflitos, e este é o meio natural dos heróis de Hawks: lutas corporais, calorosas, qual contato mais apertado se pode desejar com um outro ser?”. Esta ideia se liga integralmente à dualidade típica das comédias de Hawks entre civilização versus barbárie, como apontam Reis (2013) e Wood (2006), e que se apresenta vivamente nos filmes de Anderson.

    Já em questões formais, ambos os cineastas empregam um estilo caracterizado pela presença e o uso da velocidade. Tal ritmo rápido não é conseguido através do corte e montagem, como geralmente acontece, mas no aparelho de filmagem. A ação é mantida no centro do quadro, geralmente em planos principalmente médios ou abertos. Os diálogos excessivos, sagazes, espirituosos e altamente acelerados das comédias de Hawks e filmes de Anderson – que neste sentido é também um grande devedor de Preston Sturges – contribuem para este ritmo veloz. Mais do que simples diálogos replicados das screwball comedies, seus diálogos, ricos em ideias, vocabulários e piadas, entregam energia fonética às atuações, graças às brincadeiras com a língua inglesa, como malapropismo, aliteração, assonância, entre outras. Em um cinema narrativo onde na maioria dos filmes o diálogo só existe para avançar a história e transmitir realismo, as comédias de Hawks e os filmes de Anderson mostram que o som não é apenas uma ferramenta informativa, mas que pode fazer parte da construção rítmica e cômica de uma obra.

Bibliografia

    ANDRADE, F. “Herança da virilidade”. In: CICCARINI, R. (Org.). Howard Hawks Integral. Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado, 2013. p. 55-58.
    BRODY, R. Wild, Wild Wes: a master of high style goes looking for adventure. In: The New Yorker. 2 nov. 2009.
    CAVELL, S. Pursuits of Happiness: The Hollywood Comedy of Remarriage. Massachusetts: Harvard University Press, 1981.
    JONES, K. The Royal Tenenbaums: Faded Glories. Criterion Collection’s edition of The Royal Tenenbaums, 2012.
    KAUFMAN, S. M. Wes Anderson. Londres: William Collins, 2018.
    REIS, F. V. “Algumas questões acerca do Problema Hawks ”. In: CICCARINI, R. (Org.). Howard Hawks Integral. Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado, 2013. p. 25-30.
    RIVETTE, J. “Gênio de Howard Hawks”. In: CICCARINI, R. (Org.). Howard Hawks Integral. Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado, 2013. p. 119-124.
    SEITZ, M. Z. The Wes Anderson Collection. Nova York: ABRAMS, 2013.
    WOOD, R. Howard Hawks: new edition. Detroit: Wayne State University Press, 2006.