Ficha do Proponente
Proponente
- Viviane de Carvalho Cid (PPGCINE)
Minicurrículo
- Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual – PPGCine/UFF, pesquisadora no Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Imagem e Som (Kumã – UFF). Mestre em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA-UFRJ. Professora de Sociologia no Estado do Rio de Janeiro e Orientadora Educacional na Prefeitura de Maricá (Rio de Janeiro).
Ficha do Trabalho
Título
- Corpo, improvisação e desvio no cinema de grupo com professores
Formato
- Remoto
Resumo
- Desde 2018, o Laboratório Kumã (UFF) desenvolve o projeto de extensão Cinema de Grupo com professores. Dinamizado pela pedagogia do dispositivo, este projeto recebe docentes de educação básica de diversas áreas, profissionais de saúde e do cinema. Trago reflexões sobre processo inventivo disparado pelo cinema de grupo que se faz na indiscernibilidade entre cinema, clínica e educação.
Resumo expandido
- Proponho reflexões sobre processo inventivo disparado pelo Cinema de Grupo que desde 2018 é alimentado como projeto de extensão pelo Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Imagem e Som (Kumã/UFF) e que se volta aos docentes da educação básica, assim como membros diversos.
Com a experiência do projeto Inventar com a Diferença, percebemos a importância do dispositivo como disparadores de criações em grupo, caminho que nos levou até a Pedagogia do Dispositivo como base para o Cinema de Grupo. Seguimos hoje desenvolvendo as potencialidades desse cinema que não exige saber técnico, nem tem pretensão formativa, apenas a construção de um território por onde é possível criar pelo encontro e pelas singularidades do fazer-cinema.
Um dispositivo é um exercício de regras básicas que mobiliza a linguagem mais simples cinematográfica e nos dá uma linha limite para que todos partam da mesma condição, ao mesmo tempo em que tira a imposição autoral de controle, abrindo brechas para afetação do encontro com o mundo (Migliorin, 2020). O cinema de grupo é composto por dois movimentos: fazer os dispositivos (fazer junto) e ver juntos os dispositivos sem revelar as autorias. Através desse momento de assistir junto, fervilham trocas que levam ao próximo gesto de criação.
Compartilho as experiências dos grupos que participei entre os anos de 2019 e 2022 de formatos presenciais e virtuais. Foco nas experiências de improvisações a partir de dois dispositivos: brincadeira de recreio (presencial – 2019) e um corpo para entrevista (virtual – 2021). Os exemplos de dispositivos do grupo presencial de 2019 foram propostos e realizados na hora do encontro. O que chamo de dispositivos no ato são marcados pela improvisação a partir do outro e contrastam com a temporalidade dos dispositivos semanais em que o professor leva o desafio para a sua rotina, retornando com sua criação no encontro seguinte. O dispositivo realizado no ano de 2021 via plataforma virtual mescla tanto dispositivos semanais como no ato.
O dispositivo brincadeira de recreio foi marcado pela negociação e fragmentação de corpos. Tendo como proposta: dividir-se em trio; enlaçar-se de costas aos braços de um dos membros do trio; com o celular na altura do peito, tentar se deslocar por no mínimo um minuto; o terceiro membro acompanhará a dupla também registrando com o celular; trocar de posição com os outros membros após um minuto (até que todos passem por todas as posições). Depois juntamos as imagens e sons dos celulares para serem assistidas de forma simultânea.
Um corpo para entrevista foi um processo de quatro encontros. Primeiro combinamos de produzir sons verbais e não verbais para fabular um personagem. Até que decidimos trazer esse personagem em composição para nosso encontro. Para isso, combinamos que cada participante teria que compor duas perguntas para esse personagem, fazer uma foto do local onde esta entrevista seria realizada e trazer um objeto motivado pelos sons que escutamos. Por fim, trouxemos nossos corpos para tela em atos coletivos de improvisação. Tínhamos que improvisar dentro do mosaico do Google Meet a partir do que o outro fazia e disparados pela exibição de nosso próprio repertório construído ou trazido para o momento.
A partir desses exemplos, podemos sentir como os dispositivos de imagens e sons nos lançam em improvisações, disparando processos criativos em grupo que provocam sensibilizações e desvios do corpo docente. Assim, emerge um corpo que passa a existir no delírio. O delírio que desestabiliza os significantes, provoca rupturas de ordens e cria uma “linguagem poética” autônoma e subversiva ao sentido usual (Polack; Sivadon, 2013). Percebemos, então, que o cinema de grupo pode esbarrar em certa dimensão desviante devido a sua potencialidade clínica, possibilitando a construção de um corpo que existe no ato de desviar-se e, por isso, produz qualquer coisa de inesperado.
Bibliografia
- MIGLIORIN, Cezar. Cinema e clínica: notas com uma prática. Revista Metamorfose, v.4, n.4, p.31-46, 2020
MIGLIORIN, Cezar. et al. Cadernos do Inventar: cinema, educação e direitos humanos. Niterói (RJ): EDG, 2016.
_______ et al. Cinema de grupo: notas de uma prática entre educação e cuidado. Revista GEMInIS, v.11, n.2, p.159-164, dez, 2020.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. 28 de novembro de 1947 – Como criar para si um Corpo sem Órgãos. In: Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. vol 3. São Paulo: Edt. 34, 2012.
POLACK, Jean-Claude e SIVADON, Danielle. A íntima utopia: trabalho analítico e processos psicóticos. São Paulo: n.1, 2013.