Ficha do Proponente
Proponente
- Lorena da Silva Figueiredo (UnB)
Minicurrículo
- Lorena Figueiredo: mestre em Comunicação pelo PPGCOM/UNB na Linha de Imagem,
Estética e Cultura Contemporânea e realizadora audiovisual há 10 anos no mercado
cinematográfico atuando nas funções de assistência de direção e produção. Além disso,
dirigiu os filmes, A cidade que afeta e Intervenções Urbanas. Como pesquisadora, estuda as
relações de afetos entre o cinema latino-americano e as cidades pelo grupo de pesquisa GECAE.
Ficha do Trabalho
Título
- Entre experimentalismos: a imagem afetiva no documentário Passarinhos
Formato
- Presencial
Resumo
- O artigo tem o intuito de realizar uma reflexão sobre as relações afetivas entre um morador de rua e o seu cachorro através do seu deslocamento pela cidade do Rio de Janeiro. Movidos pelas subjetividades, o experimentalismo fotográfico da diretora Heloísa Passos nos revelam medos, opressões e modos de serem visto e não visto por que habita este espaço urbano. Através da cartografia social como ferramenta metodológica propomos uma análise fílmica na composição desta narrativa.
Resumo expandido
- O presente artigo busca realizar uma reflexão a partir das subjetividades emergentes de um morador de rua chamado Anderson Bernardes Carneiro, Passarinho, e o seu cachorro pela cidade do Rio de Janeiro no curta-metragem de Heloísa Passos. Ao estabelecermos, a câmera como elemento propulsor das relações afetivas. Observamos a criação de um dispositivo que afeta e é afetado desde a maneira experimental que a câmera se revela para o espectador até a construção de devires em que habita este espaço urbano através de um experimentalismo na produção de imagens.
Nesta perspectiva corpo-cidade, partimos do uso da cartografia social proposta por Deleuze Guattari e os desdobramentos desta ideia com as corpografias urbanas, conceito aprofundado pela pesquisadora Paola Jacques Bernstein como ferramenta metodológica para entendermos os percursos e caminhos vivenciados por estes personagens. A partir do movimento de câmera e a definição dos planos, a estética criada pela diretora Heloisa Passos se vincula por passagens entre linhas visíveis e invisíveis no desenvolvimento desta imagem afetiva. O desvelar de camadas atravessadas entre o político e o social com o intuito de ampliar a presença deste morador de rua à tela grande, gera um novo movimento variável ao proporcionar a visibilidade diante a opressão social.
Jacques Aumont nos diz que:
O cinema, uma máquina simbólica de produzir ponto de vista. Gostaríamos de poder aclimatar o intraduzível noção inglês de vantage point, que qualifica os “bons” pontos de vista, os pontos de vista eficazes, aqueles que mostram e traduzem um controle da situação visual. “Pontos vantajosos”, é isso que se trata de produzir, no cinema, a cada instante […]. A divisa, paradoxal, o olho variável. (AUMONT, 2012, p.77)
A partir de deslocamentos tanto físicos quanto mentais, as imagens produzidas pelo curta-metragem se relacionam de forma afetiva com o espectador e promovem novas percepções de mundo. Passos nos dá as pistas sobre os personagens que, ao mesmo tempo, são desvendados pelos olhares de quem está diante deles. “O espectador é também um sujeito com afetos, pulsões e emoções, que intervêm consideravelmente na sua relação com a imagem.” (AUMONT, 2012, p. 114). A cada movimento realizado, as escolhas dos planos se unem à apresentação deste personagem empurrando o seu carrinho de frutas à paisagem em transformação e compõe um desvelar para novas perspectivas que se agregam a análise fílmica ao qual o artigo se propõe a realizar pelas teorias do cinema. Pelo ponto de vista do cachorro, a escolha estética nos permite ver os medos, as angústias e o afeto de não-pertencimento criado entre a cidade do Rio de Janeiro e o seu dono Passarinho.
O caminhar, mesmo não sendo uma construção física de um espaço, implica uma transformação do lugar e dos seus significados. A presença física do homem num espaço não mapeado – e o variar das percepções que daí ele recebe ao atravessá-lo – é uma forma de transformação da paisagem que, embora não deixe sinais tangíveis, modifica culturalmente o significado do espaço e, consequentemente, o espaço em si, transformando em lugar. O caminhar produz lugares. (CARERI, 2013, p. 51)
Acreditamos que esta obra cinematográfica constitui-se em um mapa aberto de relações estabelecidas pelo poder das imagens afetivas criadas com a estética experimental. As subjetividades sugeridas para a análise fílmica se associam a elementos da cartografia social atrelados a conceitos estabelecidos nas teorias da imagem de Jacques Aumont e Gilles Deleuze. Sendo assim, as trocas estabelecidas pelos deslocamentos visam apresentar novas reflexões através da estética e plasticidade das imagens experimentais desenvolvidas neste documentário.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. A imagem. São Paulo. Editora Papirus, 2012
BALÁZS, Béla. A face do homem. In: XAVIER, Ismail (ORG.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Graal, 1983, p. 92-96.
BELLOUR, Raymond. Pensar, contar: o cinema de Gilles Deleuze. In: RAMOS, Fernão Pessoa (org.). Teoria contemporânea do cinema: pós-estruturalismo e filosofia analítica – volume 1. São Paulo: Editora SENAC SP, 2005. p. 233-252.
CARERI, Francesco. Walkscapes: caminhar como prática estética; [tradução Frederico Bonaldo].1a ed. São Paulo: Editora G. Gili, 2013.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. I. São Paulo: Ed.34, 1995.
DELEUZE, Gilles. Cinema 2: a imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2009.
JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Vitruvius. Arquitextos 8, 2008.
LOMBARDI, Kátia Hallak. Documentário Imaginário: reflexões sobre a fotografia documental contemporânea. Revista Discursos Fotográficos, UEL, Londrina, v.4, n.4, 2008.