Ficha do Proponente
Proponente
- Fernanda Bastos Braga Marques (UFRJ)
Minicurrículo
- Fernanda Bastos é editora audiovisual desde 1997 e doutora pelo PPGCOM de Comunicação e Cultura da Escola de Comunicação da UFRJ, onde desenvolveu a tese POR UMA MONTAGEM DA SENSAÇÃO: OS VÍDEOS DE BRÍGIDA BALTAR, em que analisa pela perspectiva teórica a experiência prática como editora audiovisual na recuperação, organização e em edições inéditas dos vídeos da artista em 2018 – 2019.
Ficha do Trabalho
Título
- Vídeos-cor: a tela monocromática na videografia de Brígida Baltar
Seminário
- Montagem Audiovisual: Reflexões e Experiências
Formato
- Presencial
Resumo
- Nesse artigo analisamos seis dos mais de 50 vídeos da artista brasileira Brígida Baltar. Eles formam o grupo dos vídeos-cor, obras em que a ela utiliza a tela monocromática gerada eletronicamente como elemento estrutural da narrativa e da ambiência, uma vez que a luz emitida transborda a tela refletindo-se no espaço expositivo e no espectador. Em busca dessa sensorialidade, combinam-se diversos recursos da montagem, como as fusões longuíssimas e o slow-motion.
Resumo expandido
- A videografia da artista Brígida Baltar conta com mais de 50 peças audiovisuais, entre as quais identificamos a família dos vídeos-cor composta por: Em uma árvore, em uma tarde, A pergunta de Simone, Lentos frames de maio, Os mergulhos de, Segredos e O azul profundo e a música que o Mathias fez com a Camille. Com temáticas bastante variadas, como corpo, paisagem, feminismo, memória e devir, os seis vídeos se aproximam pela presença da tela monocromática como elemento estrutural.
Baltar não é muito afeita à utilização de efeitos eletrônicos que gerem imagem, ou que alterem sua naturalidade. Em geral, aceita recursos de limpeza ou melhoramento da imagem gravada, mas sempre sem exagero, nada que mude a sua verdade original. É uma espécie de lealdade, de valorização da singularidade do acontecimento, da experiência, da vivência. Mas nos vídeos-cor, ela lança mão da tela colorida eletrônica, de alteração da velocidade da imagem que desnaturaliza movimentos e de fusões bem longas, mais características do vídeo do que do cinema analógico, por facilidade de realização.
Nesse grupo de trabalhos, destaca-se a montagem vertical descrita por Eisenstein (2002), tão antiga quanto indispensável, pois se cinema e vídeo são artes do tempo, aquilo que ocorre simultaneamente é tão importante quanto o que se desenrola sequencialmente, na montagem horizontal. As telas coloridas trazem a renovação tecnológica que permite gerar imagens e misturá-las a imagens gravadas.
O uso da cor sólida como imagem, bem como sua transição feita em longas fusões, buscam outras sensorialidades pela via do olhar. A cor dominante de cada vídeo é determinada por um elemento da imagem gravada. Em Em uma árvore, em uma tarde, o rosa das flores transborda para a tela, em A pergunta de Simone, o vermelho combina, ao mesmo tempo, com o figurino da artista e com o sofrimento de Justine, a protagonista das histórias de Sade. Em Lentos frames de maio e Os mergulhos de, o azul combina, respectivamente, com as asas da borboleta e com o mar.
A cor que vibra no monitor de exibição se reflete no corpo do espectador, que mergulha, junto com artista, na tonalidade de cada obra. Esse efeito nos remete aos Núcleos de cor, de Helio Oiticica, labirintos de quadros monocromáticos, que expandem a cor ao ambiente, a ponto de envolver o espectador.
Essa família de vídeos tem outra particularidade: o fato de começarem e terminarem na tela monocromática permite o loop perfeito, imperceptível, principalmente em O azul profundo e a música que o Mathias fez com a Camille, em que só o áudio varia a cada 10 minutos. E a artista os exibe assim, outra característica rara nas exposições de Baltar, que prefere delimitar o intervalo entre o fim e o recomeço de seus vídeos. Só a emenda diluída na cor traz a circularidade do loop (de exposição) para sua obra.
O loop é um gesto importantíssimo da montagem de videoarte que, livre do compromisso com a verossimilhança, incorporou, como recurso narrativo e estético, aquilo que inicialmente era apenas um comando do tocador de DVD. Assim, a repetição e a continuidade penetram o conceito, gerando obras que são, de fato, circulares.
Bibliografia
- BACHELARD, Gaston. A Poética do espaço. Rio de Janeiro: Livraria Eldorado Tijuca, sem data.
CASTRO, Teresa. The mediated plant. E-flux Journal, Nova York, n. 102, 2019. Disponível em: . Acesso em: 30 set. 2021.
DEREN, Maya. Cinema: o uso criativo da realidade, In: Revista Devires, Belo Horizonte, v. 9, n.1, jan-jun /2012, p. 128-149.
DOCTORS, Márcio (Org.). Brígida Baltar: passagem secreta. Rio de Janeiro: Circuito, 2010.
DUARTE, Luísa. Utopias possíveis. In: DOCTORS, Márcio (Org.). Brígida Baltar: passagem secreta. Rio de Janeiro: Circuito, 2010. p. 109-112.
EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
MACIEL, Katia (Org.). Cinema Sim: Narrativas e Projeções: Ensaios e Reflexões. São Paulo: Itaú Cultural, 2008. (Catálogo).
______. Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009.
OLIVEIRA, Jocelino. (Org.). Brígida Baltar: filmes. Rio de Janeiro: V Arte, 2021.