Ficha do Proponente
Proponente
- Mauro Luciano Souza de Araújo (USP/UFS)
Minicurrículo
- Doutorando pelo programa de Meios e Processos Audiovisuais da ECA-USP, mestre em Imagem e Som pela UFSCar, especialização em Ética e Epistemologia e professor auxiliar pela Universidade Federal de Sergipe.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema e imagem por Henri Bergson – ótica, tempo e ética
Formato
- Remoto
Resumo
- Em Evolução Criadora, livro de 1908, Bergson inicia um debate que seria alongado nas artes em desenvolvimento de sua época, no impacto com as então novas mídias e técnicas – na fotografia e no cinema. Uma pergunta implícita é feita e desata uma série de elaborações teórico-críticas no início do século na França: O que é o Cinema? O principal, ali, passava por uma descoberta de processos singulares na relação entre tela de cinema e o sujeito, indivíduo moderno. Essa pergunta, afinal, persiste?
Resumo expandido
- A filosofia e a psicologia em processo de desenvolvimento como campos de estudos encaram algo como uma intensa discussão moral sobre o cinema, no início do século XX. Onde chegaríamos com tantas telas, tantas mídias óticas, tanta intervenção em públicos imensos? Diante de todos os ensaios de Henri Bergson, não se encontra nenhuma outra digressão sobre o cinema, tal como se vê em Evolução Criadora (1908). O porquê do interesse único neste livro, talvez possa ser investigado, e é a isso que nos propomos. Aqui procuramos algumas pistas.
Bergson teria um empenho no processo de criação de imagens que faria parte e uma criatividade universal (em uma noção muito próxima do espírito absoluto, ainda que em revisão), uma novidade que trazia tanto a fotografia quanto o cinema para o núcleo central de discussões artísticas e científicas no início do século XX. O principal, ali, passava por uma descoberta de processos singulares na relação entre tela de cinema e o público moderno entreguerras. Tanto o processo de significação possível nesse jogo de trocas, quanto o poder que sentimentos novos aparentemente escondidos em outras artes exerciam a partir de então. Parte-se do pressuposto que o cinema se tornava um artifício de compreensão que não se utilizava apenas de imagens, mas de processos cognitivos proporcionados por essas imagens. Bergson parece, sobretudo, situar uma discussão anterior a esse interesse da significação de uma possível linguagem do meio técnico, que se debruçava em um processo de usos de ferramentas puramente racionais (razão pura interna), e, também, funcionais. O filósofo procura, neste e em outros ensaios, estabelecer o tempo como uma variável física – tal como nas ciências duras, ainda que no uso em uma discussão estético-filosófica. Dentro do espaço funcional cartesiano o corte do tempo se apresenta – claramente como se percebeu nas meditações husserlianas acerca do cartesianismo. Mas Bergson iria além, inserindo uma noção transcendental do tempo como um elemento central da experiência dentro de uma inscrição contemporânea. Este tempo, como uma durée (duração), é percebido, notado, mas também, agora, é possível de ser anotado. Parte, portanto, de qualquer discussão sobre o que se consideraria um real, ou realidade da consciência vivida – é, também, elemento central de conceitos como a consciência e memória. A temporalidade, enfim, é possível de ser (a)notada pelo que ele chama de “duração”, em uma noção de ritmo da vida.
No seu ensaio Evolução Criadora, o autor repete desde seu início um tipo de mecanismo (uma mecânica) que aparentemente nos coloca num vetor de pensamento sobre e a partir das imagens. O que a fotografia, ou melhor, a máquina fotográfica nos faz pensar como aparato que produz com semelhança a apreensão da realidade – e em que lugar o cinema nos colocaria com suas imagens-movimento, artifícios da cognição, sejam eles puros ou impuros. Há diversas questões complicadas na leitura de um filósofo e, ou, ensaísta como Henri Bergson. Na superfície de sua escrita vê-se a multiplicidade destas questões. No fundo, uma outra multiplicação de problemas que concernem direta ou indiretamente ao que entendemos, ou podemos entender sobre a Natureza, ou, em sua terminologia, o elã vital. Fato é, Bergson teve uma forte aproximação a uma proposição futura do que viria a ser a fenomenologia francesa e do estudo em cinema que derivara desse contexto, isso pode ser visto em detalhes de todas as obras que o citam posteriormente. A volta aos dados imediatos da imagem como amálgama da experiência, portanto, como um novo campo diagramático de formas inter-relacionadas na fragmentação própria do contato moderno com o mundo. Nota-se sua influência em debates posteriores à época inicial do cinema, entre os quais pode-se trazer tanto André Malraux, Merleau-Ponty, Henri Agel, Etienne Sourieau, Jean Epstein, Gilbert Cohen-Séat, até André Bazin.
Bibliografia
- ALBERA, F, TORTAJADA, M. The 1900 episteme. In.: Cinema beyond film: media epistemology in the modern era. Amsterdam University Press, 2010.
BERGSON, H. Evolução Criadora. São Paulo: Ed. UNESP, 2010.
_________. Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. São Paulo: Edipro, 2020.
COHEN-SÉAT, Gilbert. Essai sur les príncipes d’une philosphiie du cinéma. Paris: Presses universitaires de France, 1946.
DELEUZE, G. Imagem movimento. São Paulo: Brasiliense, 1985.
EPSTEIN, J. Esprit de Cinéma. Paris Editions Jeheber, 1955.
GUNTER, P. The Crisis of Modernism: Bergson and the Vitalist Controversy, ed. R Burwick and P. Douglas. New York: Cambridge University Press, 1992.
KELLY, Michael. Bergson’s phenomenological reception: the spirit of Dialogue of self-resistance. London: Palgrave Macmillan, 2010.
LE FORRESTIER, L. Entre cineísme et filmologie: Jean Epstein, la plaque tournante. In.: Cinémas. Paris, volume 19, números 2-3, 2009.pp. 113-140