Ficha do Proponente
Proponente
- Vinicius Augusto Carvalho (UFF)
Minicurrículo
- Doutorando em Cinema e Audiovisual (PPGCine | UFF) com Mestrado em Gestão da Economia Criativa (ESPM). Especialista em TV Digital, Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica (UFF) e graduado em Jornalismo (UFSC). Atua como professor na ESPM-Rio nos cursos de Cinema e Audiovisual, Jornalismo e Design e coordena o Portal de Jornalismo da instituição. Montador freelancer com experiência de 13 anos na TV Globo com edição e finalização de audiovisuais jornalísticos e de entretenimento.
Ficha do Trabalho
Título
- Bacurau fragmentado: transições visíveis como pontuadores da narrativa
Seminário
- Montagem Audiovisual: Reflexões e Experiências
Formato
- Presencial
Resumo
- A comunicação analisa as transições visíveis na montagem de Bacurau (2019). A busca por materialidades estéticas e estruturais na obra de Kleber Mendonça Filho é conduzida por meio de técnicas computacionais de “Visualização da Informação” (MANOVICH, 2013). O debate sobre relações morfológicas e cognitivas no uso das pontuações imagéticas emerge da aplicação do método “TEP” de fragmentação da narrativa de Cutting (2019) e do conceito de “enunciado” e junções “super significantes” de Metz (2014).
Resumo expandido
- A obra cinematográfica tem significado porque atribuímos significado a ela e, da mesma forma, às pontuações. David Bordwell (2008) descreve que planos, cenas e sequências são conectados por meio de dispositivos de narração que ele chama de ganchos (hooks) para gerar coesão entre os segmentos. O pesquisador destaca que “como um dispositivo de contar histórias, o gancho afeta tanto o design narrativo quanto o padrão estilístico.” (BORDWELL, 2008). Arijon (1976, p. 946) acrescenta que “a pontuação do filme – separações entre sequências, pausas na narração, ênfase de uma passagem – é obtida por meio da edição” e o montador tem a possibilidade de inserir em um filme elementos “virtuais” capazes de sensibilizar o espectador, sem que para isso o diretor e sua equipe precisem se deslocar para captar novas imagens, produzir simulações ou desenhar animações. Os efeitos de transição são elementos que se destacam na imagem e projetam suas próprias características na tela: oníricas, ideológicas, sintáticas, sensoriais, rítmicas. A busca de transições é conduzida por meio de duas técnicas usadas por Lev Manovich (2013) em The Eleventh Year (1927) do cineasta Dziga Vertov. A primeira foi batizada de “Planos em uma única visualização” e consiste na compilação de um quadro de cada plano do filme em uma única imagem a partir de uma segmentação semântica, visual e cronológica: a sequência dos planos. A segunda técnica decorre da primeira, recebe o nome de “Frame a frame: anatomia de um plano” e propõe um mergulho na imagem total, uma espécie de zoom in na tela única. “Podemos pensar nesta visualização como um storyboard imaginário do filme construído ao contrário – um mapa reconstruído de sua cinematografia, edição e narrativa.” (MANOVICH, 2013, p. 15). A estratégia de Manovich estrutura a análise e sugere uma continuidade na qual as cenas se destacam como unidades com começo, meio e fim e são organizadas e consolidadas em torno de três parâmetros propostos por Cutting (2014): tempo, espaço e personagens. Mudanças em uma ou mais destas características criam uma movimentação para uma nova cena e surgem fronteiras que podem ser identificadas: [T] para uma mudança temporal, [E] para alterações no espaço, de local, e [P] para uma mudança que envolva personagens principais. Assim, obtemos as seguintes configurações de mudanças narrativas: [T], [E] ou [P], para modificação de apenas uma variável, [TE], [TP], [EP], no caso de duas variáveis sofrerem alteração e [TEP] em uma situação em que a nova imagem apresente outra personagem, em outro tempo e espaço (CUTTING, 2019). Existe a possibilidade de um oitavo tipo [-] e representa “nenhuma alteração” (mudança nula) ou a justaposição de planos dentro da cena. Metz (2014) classifica esses momentos de “hiatos insignificantes” por considerar que as elipses espaço-temporais no interior da cena são “hiatos de câmera, não hiatos diegéticos” e, portanto, irrelevantes para a progressão do enredo. Ao contrário da sequência, a cena é o lugar onde coincidem, pelo menos em princípio, o tempo fílmico e o tempo diegético. A sequência, por sua vez, se baseia na unidade de uma ação mais complexa que “passa por cima” de partes julgadas desnecessárias podendo, portanto, omiti-las (METZ, 2014). A junção de sequências, segundo Metz, historicamente é sinalizada por fades, fusões ou outros efeitos óticos para “enunciar” a transição que passa a ser considerada “super significante”, no sentido de que realça os trechos omitidos “como tendo influenciado a evolução dos acontecimentos narrados pelo filme, e como sendo de algum modo necessários, apesar de sua ausência, à compreensão literal do que se segue.” (METZ, 2014, p. 155). A soma das estratégias de segmentação, visualização, identificação e análise de Manovich, Cutting e Metz, aplicadas em Bacurau (2019), busca revelar as peculiaridades das transições visíveis no longa-metragem e a existência de diferentes enunciados e estilos de montagem na obra de Kleber Mendonça Filho.
Bibliografia
- ARIJON, Daniel. Film punctuation. In: Grammar of the film language. Los Angeles: Silman-James Press, 1976. E-book. BORDWELL, David. The Hook: Scene Transitions in Classical Cinema. David Bordwell’s website on cinema, 2008. Disponível em: https://www.davidbordwell.net/essays/hook.php. Acesso em: 11 mai. 2022. CUTTING, James E. Event segmentation and seven types of narrative discontinuity in popular movies. Acta Psychologica, Volume 149, 2014, pp. 69-77. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2014.03.003. Acesso em: 11 mai. 2022. CUTTING, James E. Sequences in popular cinema generate inconsistent event segmentation. Atten Percept Psychophys 81, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.3758/s13414-019-01757-w. Acesso em: 11 mai. 2022. MANOVICH, LEV. Visualizing Vertov. Cultural Analytics Lab., 2013. Disponível em: . Acesso em: 11 mai. 2022. METZ, Christian. A significação no cinema. São Paulo: Perspectiva, 2014.