Ficha do Proponente
Proponente
- Andreson Silva de Carvalho (ESPM Rio)
Minicurrículo
- Professor de cinema da ESPM Rio. Doutor em som para cinema e audiovisual pelo PPGCOM-UFF (2016). Ministrou aulas na graduação do curso de Cinema e Audiovisual da UFF (2004-2006) e Escola de Cinema Darcy Ribeiro (2005-2014). Trabalhou em alguns curtas e longas-metragens nas áreas de desenho sonoro e/ou edição de som.
Ficha do Trabalho
Título
- Sem acesso à acessibilidade nas salas de cinema
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Formato
- Presencial
Resumo
- Enquanto crescem reclamações de deficientes visuais sobre o serviço de AD prestado nas salas de cinema, um novo prazo é anunciado. 1º de janeiro de 2023 passa a ser a data limite para que 100% dos cinemas tenham condições de atender a todas as acessibilidades. Como acreditar nesta nova data se já é sua quarta prorrogação? O objetivo deste trabalho não é só o de atualizar a situação da AD no Brasil, como investigar casos que nos ajudem a entender o descaso sofrido pelos deficientes em nosso país.
Resumo expandido
- A experiência da audiodescrição no Brasil, assim como outras acessibilidades, não tem cumprido com as datas estabelecidas pela lei nº 13.146, de 6 e julho e 2015, de forma que MPs estão sendo sucessivamente criadas para prorrogar o prazo estabelecido. Atitude que demonstra o total desprezo do atual Governo com a minoria deficiente de nosso país. Segundo o último censo do IBGE, de 2010, mais de 35 milhões de brasileiros declararam ter alguma dificuldade para enxergar, ou seja, aproximadamente 19% da população. Enquanto crescem reclamações de deficientes visuais, sobre o serviço de AD prestado pelas salas de cinema, por acreditarem que já deveria estar disponível em todas as salas, um novo prazo é anunciado. 1º de janeiro de 2023 passa a ser a data limite para que 100% dos cinemas tenham condições de atender a todas as acessibilidades. Como acreditar nesta nova data se já é sua quarta prorrogação?
Preconceitos e exclusões de pessoas com características diferentes do padrão considerado comum, seja pela diferença física, intelectual ou comportamental, sempre foram um problema em nossa história. Segundo Franco e Dias, nas “sociedades primitivas, acreditava-se que as pessoas cegas eram possuídas por espíritos malignos e manter uma relação com essas pessoas significava manter uma relação com um espírito mau” (2005, 02). São estes pensamentos que contribuíram para que tais estruturas excludentes se arraigassem em nossa sociedade, tornando a reversão destes valores muito dificultosa, mesmo que fundamental.
Enquanto no Brasil a AD começa a dar seus primeiros passos, de forma bem lenta, a partir de decretos promulgados em 2008, nos EUA os primeiros movimentos que rumaram para a estruturação do que hoje conhecemos por AD aconteceram na década de 1970, através da dissertação defendida por Gregory Fraiser, professor da Universidade de São Francisco, onde ele apresentava a ideia de inserção de 34 trechos de áudio descritivos numa peça teatral adaptada para a TV: The Autobiografy of Miss Jane Pittman.
Apesar de toda a dedicação de Fraiser, que no ano seguinte a sua defesa fundara a Audio Vision – empresa sem fins lucrativos, vinculada à sua instituição de ensino e dedicada a realizar experimentos de acessibilidade para a TV –, foram necessários alguns anos, até o início da década de 1990, para que a AD se tornasse massiva nas TVs norte-americanas. Antes disso, porém, alguns experimentos também foram realizados em salas de cinema, “sendo Tucker: um homem e seu sonho (1988), dirigido por Francis Ford Coppola, o primeiro filme a apresentar algumas inserções de AD, graças a Gregory Frasier e seus alunos e ao apoio do reitor da Universidade de São Francisco, August Copolla.”(2016, 21)
Entretanto, bem antes disso, a ideia inicial de uma AD, mesmo que ainda não vinculada exclusivamente às pessoas com alguma deficiência visual, podia ser percebida nos EUA. Para auxiliar na readaptação dos soldados que haviam perdido total ou parcialmente sua visão, durante a Primeira Guerra Mundial, surgiu a ideia de se utilizar o gramofone – aparelho de gravação e reprodução sonora patenteado por Thomas Edison em 1877 – para a produção dos talking books (livros falados), permitindo o acesso a um conteúdo impresso que havia se tornado inacessível aos heróis da guerra.
O que impressiona é perceber o elitismo presente até mesmo no embrião da acessibilidade para deficientes visuais. Quantos eram os cegos que existiam mesmo antes da guerra e dos soldados feridos no campo de batalha? Por que nunca ninguém se preocupou se eles gostariam ou não de ter acesso aos livros falados? Como dito antes, o preconceito e a visão distorcida de suas deficiências os tornavam pessoas com as quais a sociedade “não precisava” se preocupar.
O objetivo deste trabalho não é só o de atualizar a situação da audiodescrição no Brasil, como investigar casos que nos ajudem a entender o descaso sofrido pelos deficientes em nosso país, o real motivo de tanto atraso e como eles se sentem diante disso.
Bibliografia
- ADERALDO, M. F., NUNES, M. da S. A audiodescrição e a acessibilidade visual: breve percurso histórico. In: ADERALDO, M. F., MASCARENHAS, R. de O., ALVES, J. F., ARAÚJO, V. L. S., SANTAS, J. F. de L. (Org.). Pesquisas Teóricas e Aplicadas em Audiodescrição. Natal: EDUFRN, 2016.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: . Acesso em: 17/05/2022.
FRANCO, J., DIAS, T. R. da S. A pessoa cega no processo histórico: um breve percurso. In: Revista Benjamin Constant, Rio de Janeiro, n. 30, abril de 2005. Disponível em: . Acesso em: 17/05/2022.
MOTTA, L. M. V. M., ROMEU FILHO, P. (Org.). Audiodescrição: transformando imagens em palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, 2010.