Ficha do Proponente
Proponente
- Cristian Borges (USP)
Minicurrículo
- Professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA-USP, com auxílio à pesquisa FAPESP. Doutor em Cinema e Audiovisual pela Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3 (CAPES), fez pós-doutorado na Columbia/ NYU (FAPESP). Cineasta e curador de mostras, foi diretor do Cinusp e preside a Socine desde 2019. Publicou o livro EM BUSCA DE UM CINEMA EM FUGA (Perspectiva/ Fapesp, 2019), além de artigos e capítulos de livros no Brasil e na França.
Ficha do Trabalho
Título
- Dança e ritual na obra de Maya Deren
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Maya Deren explorou como poucos, no cinema, a noção de “geografia criativa” (Kulechov) e a natureza performática do transe, enfatizando seus aspectos coletivos. Afeita à psiconeurologia (Bekhterev), ela conjugará técnicas sociais e atividade mental em seus textos teóricos como em seus filmes, fazendo as sensações subjetivas das personagens corresponderem a trucagens fílmicas objetivas, com uma forma ritualística que despersonaliza o indivíduo em prol de um entendimento coletivo de transformação.
Resumo expandido
- Defensora de uma dança filmada que escapasse ao mero registro de uma performance, Maya Deren explorou como poucos, no âmbito do cinema, a noção de “geografia criativa” (Kulechov) e a natureza performática (e não patológica) do transe e da possessão, enfatizando seus aspectos coletivos, sociais. Mais afeita à psiconeurologia de Bekhterev do que à psicanálise freudiana, por influência direta de seu pai, o psiquiatra Solomon Derenkovsky, ela conjugou técnicas sociais e atividade mental tanto em suas reflexões teóricas quanto em sua prática cinematográfica, fazendo as sensações subjetivas de suas personagens corresponderem a trucagens fílmicas objetivas.
Nesse sentido, Deren propôs, em seus filmes, uma forma ritualística – fruto do período em que foi assistente da coreógrafa e antropóloga afro-americana Katherine Dunham, cujo trabalho era voltado à cultura caribenha e à mitologia do vodu haitiano –, ao estabelecer a despersonalização do indivíduo no interior de um complexo dramático em prol de um entendimento coletivo de transformação. Pois, por um lado, o que lhe interessava retratar era, muito mais do que a dança, o conjunto de movimentos corporais; e, por outro lado, o que lhe parecia mais caro era garantir a integridade, não do movimento em si, mas da imagem do movimento, através de experiências com procedimentos cinematográficos, numa deformação necessária da dança e da movimentação originais.
Ao retirar o dançarino do teatro, “oferecendo-lhe o mundo como palco”, Maya Deren explorou incansavelmente as possibilidades de um “coreocinema” (Fuller Snyder) ou de uma “dança como cinema” (Greenfield) – impossível, portanto, de ser vista ao vivo –, na ânsia, em última instância, por “criar dança a partir de materiais não dançantes”.
Bibliografia
- COHEN, Selma Jeanne; LEABO, Karl (ed.). Dance Perspectives, n. 30 – “Cine-Dance”, verão de 1967.
DEREN, Maya. Essential Deren: Collected Writings on Film. Kingston: McPherson and Company, 2005.
GREENFIELD, Amy. “Dance As Film”, in Filmmakers’ Newsletter, vol. 4, n. 1, novembro de 1970, p. 26-32.
KULECHOV, Lev. L’Art du cinéma et autres écrits. Lausanne: L’Age d’Homme, 1994.
NICHOLS, Bill (ed.). Maya Deren and the American Avant-Garde. Berkeley/ Los Angeles/ Londres: University of California Press, 2001.
ROSENBERG, Douglas (ed.). The Oxford Handbook of Screendance Studies. Oxford/ Nova York: Oxford University Press, 2016.
SNYDER, Allegra F. “Three Kinds of Dance Film: A Welcome Clarification”, in Dance Magazine, vol. 39, n. 9, setembro de 1965, p. 34-39.