Ficha do Proponente
Proponente
- Rafael Garcia Madalen Eiras (UFF)
Minicurrículo
- Rafael Garcia Madalen Eiras é doutorando pelo PPGCine/UFF; mestre em Humanidades, Culturas e Artes pela UNIGRANRIO (2020); graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2007), e em História pela Universidade Cândido Mendes (2015). Além de uma especialização em Fotografia e Imagem pela Universidade Cândido Mendes (2009). Rafael tem uma larga experiência como freelance no mercado audiovisual e no momento Professor do Município do Rio de Janeiro.
Ficha do Trabalho
Título
- Trajetórias utópicas no cinema de Cacá Diegues dos anos oitenta.
Seminário
- Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho faz uma análise de como a utopia se apresenta em dois filmes do diretor Carlos Diegues: Quilombo (1984) e Um Trem Para As Estrelas (1987). Obras que são produzidas em um período de redemocratização e apresentam a passagem do diretor de um cinema moderno brasileiro, para uma estética que assume a cultura pós-moderna na cinematografia nacional.
Resumo expandido
- Este trabalho faz uma análise de como a utopia se apresenta em dois filmes do diretor Carlos Diegues: Quilombo (1984) e Um Trem Para As Estrelas (1987). Obras que são produzidas em um período de redemocratização e apresentam a passagem do diretor de um cinema moderno brasileiro, para uma estética que assume a cultura pós-moderna na cinematografia nacional.
Se entende o termo Utopia tendo origem grega: “topos” significa lugar, e seu prefixo “u” tem significado negativo, ou seja, seria um lugar que não existe, um “não lugar” ou “lugar nenhum”. Quando chegou o século XIX, a utopia deixou de ser somente um gênero literário, “um jogo intelectual, para tornar-se um projeto político no qual o possível está inscrito na história” (CHAUÍ, 2008, p. 11).
Já o conceito de pós-modernidade é pensdo atravpé de Fredric Jamson (2006) com prognósticos catastróficos e reducionistas a respeito do futuro. Mas também uma quebra radical que emerge do fim dos anos 50 e anos 60. O que ele vai ligar diretamente a um terceiro estágio do capitalismo. A estética pós-moderna surge com para uma estética urbana, rodeada de clichês, de fragmentações, de hibridismos e hipertextualidades, como a releitura de códigos já utilizados em vários momentos da história do cinema
O primeiro filme, Quilombo, trabalha uma imagem social e política do Brasil. Um filme histórico, mas descomprometido com o passado. Em um “quadro em que se fala da morte do cinema e da necessária reformulação da Embrafilme” (XAVIER, 2001, p.52): partindo para um debate de contexto pós-moderno, mas que ainda trazia uma articulação potente com o Cinema Novo. Traços que estão presentes nas perspectivas utópicas de Quilombo ao propor uma espécie de “Democracia Cordial” na experiência do presente, em que o passado não seria mais referência para um futuro fechado e certo. (GUMBRECH, 2011).
Já Um Trem Para As Estrelas se assume um frenesi urbano ambientado em torno de um presente em deslumbre, o próprio simulacro —“a cópia idêntica de algo que cujo original jamais existiu” (JAMESON, 2006, p.45). —Fazendo um profundo “mergulho no jogo de espelhos no qual a retificação da mercadoria é estampada em espetáculo” (RAMOS, 2016, p. 456). Lugar em que as utopias parecem enfraquecidas. No entanto, segundo Jameson (2006) seria na impossibilidade que residiria o poder transformador da utopia.
Duas cenas, uma em cada obra, são marcantes neste sentido, ao permitir uma comparação estética apontando paras os elementos estéticos dos filmes como propôs Xavier (1984). Por exemplo, em Quilombo, em um plano fechado,Zumbi, um Jovem negro, olha um cometa passar pelos céus. Ele fecha os olhos se transportando mentalmente através do corte seco para a festa carnavalesca em Palmares . Um lugar utópico no sentido de enquadrar o Palmares como um reflexo político, social e cultural do presente.
No segundo filme, vemos em um plano fechado a imagem de um jovem músico branco, que de olhos fechados faz barulhos do ambiente urbano com a boca, imitando o som do saxofone. No plano anterior a esse vimos a cidade à noite com seus prédios repletos acessos. É diante desta imagem deslumbrante que o personagem está. Em determinado momento ele abre os olhos, e adimira a presença da imencidão da cidade, sem o sentido de olhar para o futuro, como acontece no filme anterior, mas para vivenciar o presente. O que se assemelha a uma proposta pós-moderna, em que o futuro é presentificado, e o simulacro cinematográfico se revela distante das representações históricas de um cinema moderno. Alertando o espectador a impossibilidade, da falta da própria utopia.
Bibliografia
- CHAUÍ, M. Notas sobre utopia. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 60, n. 1 – Especial, p. 7-12, 2008.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Depois de “Depois de aprender com a história”, o que fazer com o passado agora? In: NICOLAZZI, Fernando; MOLLO, Helena Miranda; ARAUJO, Valdei Lopes de (Orgs.). Aprender com a história? O passado e o futuro de uma questão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011. p. 25-42.
JAMESON, F. Pós-Modernismo: A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio. São Paulo: Ática, 2006.
RAMOS, Fernão Pessoa. A Grande Crise: pós-moderno, fim da Embrafilme e da Pornochanchada in: RAMOS, Fernão Pessoa.; SCHVARZMAN, Sheila (Orgs.). Nova história do cinema brasileiro. vol. 2. e-book. São Paulo: Edições Sesc, 2016.
XAVIER, Ismail (Org.) O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
XAVIER, Ismail. Cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.