Ficha do Proponente
Proponente
- Demian Albuquerque Garcia (UPJV – UNESPAR)
Minicurrículo
- Demian Garcia é doutorando em Cinema na UPJV, professor do curso de Cinema e Audiovisual da UNESPAR. Sua pesquisa se concentra na construção de emoções através do som no cinema japonês. Seus centros de interesse são: a escritura sonora, cinema de horror e cinema japonês. Integra o Laboratório de Pesquisa CRAE, UPJV, França; e o grupo de pesquisa LAPIS – Laboratório de Pesquisa de Imagens e Sons (UFPE/CNPq). www.demiangarcia.com
Ficha do Trabalho
Título
- O “Ma”, e os silêncios absolutos nos filmes japoneses de fantasmas
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- O compositor Toru Takemitsu incorporpou a importância dos silêncios em seu trabalho, aproximando essa ideia ao “Ma” – conceito japonês que pode significar “entre-espaços” ou “interstício”. O cinema japonês, principalmente o de fantasmas, nunca se constrangeu de utilizar o silêncio absoluto em seus filmes, o que geralmente é pouco aceito no cinema ocidental. As peculiaridades desse e de outros silêncios, assim como seu papel na construção de emoções, serão exploradas nesta comunicação.
Resumo expandido
- O conceito japonês “Ma” pode-se explicar, em termos ocidentais, como uma espécie de “espaço intermediário, “entre-espaços”, “interstício”, que está muito presente no cotidiano da cultura japonesa. “O Ma, enquanto possibilidade, associa-se ao “vazio”, que, distinto de uma concepção ocidental cujo significado é o nada, é visto como algo do nível da potencialidade, que tudo pode conter, e, portanto, da possibilidade de geração do novo.” (OKANO, 2014)
O compositor Toru Takemitsu, muito influenciado por John Cage, incorporpou a importância dos silêncios em seu trabalho, aproximando essa ideia ao conceito de “Ma”. Observamos uma grande utilização de silêncios no cinema japonês, que se produzem de maneiras diferentes: enquanto alguns se traduzem por pausas entre diálogos, trazendo frequentemente a sensação de invadir a diegése, outros são percebidos a partir da reverberação de sons ou à ênfase dada aos sons da natureza; outros ainda correspondem à silêncios absolutos, quer dizer, um vazio sonoro. O cinema japonês nunca se constrangeu de utilizar esse tipo de silêncio em seus filmes. No entanto, o silêncio absoluto do dispositivo, esta supressão total do som da trilha sonora, não é geralmente aceita no cinema ocidental. Se nos anos 1950/1960 ele era parcialmente mascarado pelo ruído película que preenchia o espaço sonoro, ele é, ao contrário, trazido à tona no cinema contemporâneo no Japão após a chegada da tecnologia digital.
Não é surpreendente encontrar silêncios substanciais nos filmes de Hirokazu Koreeda, Naomi Kawase, Ryusuke Hamaguchi, etc. Entretanto, nos filmes de fantasmas, estes silêncios causam desconforto e um mal-estar no espectador que, em vez de pensar em uma falha técnica vê no vazio sonoro um caminho para uma manifestação fantasmagórica. As peculiaridades desse e outros silêncios, e seu papel na construção de emoções nos filmes, pegando como exemplo obras de Kiyoshi Kurosawa, Hideo Nakata e Takashi Miike, serão exploradas nesta comunicação.
Bibliografia
- BROWN, Steven T. Japanese Horror and the Transnational Cinema of Sensations. New York, NY: Palgrave MacMillan, 2018.
CHION, Michel. L’audio-vision : son et image au cinéma. 2. ed. Paris: Colin, 2008. (Armand Colin cinéma).
OKANO, Michiko. Ma – a estética do “entre”. Revista USP, No. 100, p. 150–164, 2014.
OKANO, Michiko. Ma – Entre Espaço da Arte e Comunicação no Japão. 1ª edição. São Paulo: Annablume, 2012.
TAKEMITSU, Tōru. Confronting silence: selected writings. Berkeley, Calif: Fallen Leaf Press, 1995.
YUASA, Joji. Music as a Reflection of a Composer’s Cosmology. Perspectives of New Music, Vol. 27, No. 2, 1989.