Ficha do Proponente
Proponente
- Adriana Mabel Fresquet (CINEAD/FE/UFRJ)
Minicurrículo
- Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordena o projeto de pesquisa Políticas e pedagogias do cinema e da educação na escola e Acervos audiovisuais e universidades na produção de conhecimento escolar e o Programa de Extensão CINEAD. Participou do grupo fundador e da coordenação da REDE KINO: Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual e do GT de CINEMA-ESCOLA que fez a proposta de regulamentação da lei 13006/14.
Ficha do Trabalho
Título
- Violeta Parra: diálogos da sua filha Carmen Luisa com Ignacio Agüero
Seminário
- Cinema e Educação
Formato
- Presencial
Resumo
- No Museu Violeta Parra, assistimos parte da obra desta artista chilena pelas lentes do documentarista Ignacio Agüero. A partir do registro de um diálogo entre ele e Carmen Luisa Arce, a filha mais velha de Violeta, aprendemos algo da sua poesia, música, pintura entre outras criações. Verdadeira embaixadora do seu país, levou suas imagens e sons para uma Europa que já estreava mini-saias ao som das música dos Beatles, criando questões com um gesto feminino e revolucionário impregnado de poesia.
Resumo expandido
- “Gracias a la vida que me ha dado tanto”
Violeta Parra
No Museu Violeta Parra, em Santiago de Chile, é possível assistir alguns registros da obra desta artista chilena, a partir de um diálogo entre Carmen Luisa Arce, filha mais velha do segundo casamento, e o documentarista Ignacio Agüero. Eles observam e tecem comentários enquanto vão mostrando imagens de pinturas, óleos, letras e músicas, máscaras, quadros em relevo em papel machê, esculturas em arame, bordados, e “arpilleras”, composições feitas a mão com fio e agulha sobre panos e tecidos, que destacam pela sua originalidade. Toda sua obra sintetiza inventividade, poesia e inconformismo. Para ela existe um tesouro oculto nas condições de pobreza e necessidade que constitui a riqueza inventiva da tradição popular cantada, recitada, dançada e tecida do povo chileno. Verdadeira embaixadora do seu país, leva suas imagens e sons para um Europa que já estreava mini-saias ao som das música dos Beatles, criando questões com um gesto feminino e revolucionário impregnado de poesia. Podemos considera-la um referência por desobstruir cada vez mais o acesso à tensa experiência do estranho-familiar (ROLNIK, 2019). Artista e autodidata, viajou pela União Soviética, Polônia, Londres e Paris onde ficou 2 anos e aonde retornou, apresentando em 1964, obras diversas no Museu de Artes Decorativas do Palácio do Louvre. Considera-se esta a primeira exposição individual de um/a artista hispano-americano/a nesse museu. A apresentação de alguns passagens de sua vida, focando sua pedagogia inventiva, serão complementados com dados do filme “Violeta se fue a los cielos” (Chile, Andrés Wood, 2011), filme realizado a partir da adaptação do livro homônimo escrito pelo seu filho, Ángel Parra.
Sua irmã e Ignacio Agüero fazem uma partilha de sensibilidades em um registro audiovisual de parte da obra de Violeta, que segundo o autor não se configura como filme. Ele é um dos documentaristas mais reconhecidos do Chile e de América Latina. Seu nome ressoa fortemente no campo de cinema e educação, pelo filme que eternizou o Taller de cine de Alicia Vega, que durante 30 anos, desenvolveu 35 oficinas de cinema em setores de muita pobreza da periferia de Santiago de Chile, para ao redor de 100 crianças entre 5 e 12 anos, sem produzir sequer um exercício de filmagem. (Uma oficina que se debruça magistralmente sobre a materialidade da luz e da mecânica do processo de produção de imagens e sons, a exibição de filmes icônicos da história do cinema chilena e mundial). Na trajetória de Ignacio como cineasta e professor universitário se destaca também a vocação para a iniciação de crianças e jovens ao cinema em escolas públicas, promovida em atividades diferenciadas do projeto “Cero de Conduta” que criou junto a uma equipe na Universidade de Chile.
Sem dúvida, há uma pedagogia que radica na obra de Violeta, sua irreverência, ousadia e coragem. De partida, pela procura da riqueza das manifestações artísticas tradicionais, de pessoas simples, que faziam arte sem tê-la aprendido formalmente, muitos analfabetos, camponeses, habitantes dos povoados próximos a Valparaíso como disparadores para seus processos de criação. Destaca-se, também, seu gesto seguro e despojado para se deslocar pelo mundo e mostrar com orgulho sua obra, plena de cores, sons e materialidades do cotidiano da vida de chilenos e chilenas trabalhadores, que pintavam e cantavam à vida, pelas suas alegrias e dores. Mas há também uma outra pedagogia que identificamos no próprio registro audiovisual do diálogo entre Carmen e Ignacio, que precisa se colocar em foco. Uma conversação que revela confiança e intimidade, por um lado; e conhecimento e um olhar atento preenchido de silêncios e cuidados, por outro. As vozes, em particular a do Ignacio, nos convidam a uma atenção aberta, ao dizer de Kastrup. A cada obra que é exibida e comentada, somos guiados a pensar o que vemos e não a ver o que pensamos, como alertara Bergson.
Bibliografia
- AAVV. Violeta Parra. Obra visual. Santiago: Ocho Libros, 2012.
LEDGARD, Melvin. Una incursión por la historia del cine latinoamericano. Lima: FDE, Departamento de Comunicaciones PUCP, 2018.
DE LOS RIOS, Valeria e DONOSO, Catalina. El cine de Ignacio Agüero. El documental como la lectura de un espacio. Santiago: Cuarto propio, 2018.
ROLNIK, Suely. Esferas da insurreição. Notas para uma vida não cafetina. SP: N-1 edições, 2018.
RUFINELLI, América Latina em 130 documentários. SP: Realizações, 2017.