Ficha do Proponente
Proponente
- Helio Ricardo Sauthier (Unespar)
Minicurrículo
- Mestre em Cinema e Artes do Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar). Membro do Grupo de Pesquisa Arte, Cultura e Subjetividades (GPACs) da Unespar, onde atua como Técnico em Assuntos Universitários e Diretor de Comunicação Institucional. Realiza pesquisas sobre imaginário e memória especialmente no entrelaçamento entre os campos discursivos do cinema e da moda.
Ficha do Trabalho
Título
- CINEMA, MODA E PINTURA: DISCURSO E INTERICONICIDADE EM BELA DA TARDE
Mesa
- Como pensam as imagens no cinema? Exercícios de cruzamento de imagens
Formato
- Remoto
Resumo
- O trabalho proposto objetiva investigar o processo de intericonicidade, ou seja, a “rede de reminiscências pessoais e de memórias coletivas que religam as imagens umas às outras” (Courtine, 2013, p. 157), a partir do cruzamento de imagens do filme A Bela da Tarde (Luis Buñuel, 1967), de imagens da pintura renascentista e de revistas contemporâneas de moda. A partir de tal cruzamento, buscarei discutir o funcionamento discursivo das imagens e evidenciar a construção icônica advinda das representa
Resumo expandido
- Em A Bela da Tarde, filme dirigido por Luis Buñuel em 1967, Séverine Serizy (Catherine Deneuve) é jovem e rica, casada com um cirurgião de sucesso. Para saciar suas fantasias sexuais, ela procura um discreto bordel em busca de novos prazeres e para realizar seus desejos mais secretos, criando uma vida dupla, mantendo-se como a esposa do cirurgião na maior parte do tempo, mas sendo a Bela da Tarde (Belle de Jour), poderosa e sensual, durante algumas tardes da semana. Os figurinos de Séverine foram criados especialmente para a personagem pelo estilista Yves Saint Laurent afim de ocultar/revelar sua ambiguidade.
Neste estudo, realizo uma análise icônica da visualidade de Séverine, com foco em um dos elementos formais da mise en scène: o figurino. A fim de discutir os discursos que se apresentam na visualidade da personagem, dialogo com as representações da mulher casta e da mulher profana ao longo da história da arte ocidental, a partir do Renascimento, afim de revelar sua genealogia. Quais são as condições de exercício da função enunciativa das imagens de mulheres na arte? Que tipos de práticas se estabeleceram, neste campo do saber, que determinam os modos de se “dizer” ou de se ver a mulher neste campo? São estas as questões que desejo debater, enquanto práticas discursivas, na análise da visualidade de Séverine em A Bela da Tarde.
No que tange a dicotomia entre as representações artísticas da mulher, dialogo com as considerações de Umberto Eco (2013) acerca da iconografia da Vênus Casta e da Vênus Profana na pintura europeia.
Para discutir o cinema e a moda enquanto campos de discursos que produzem sentidos e movimentam o imaginário, trago como referência concepções de discurso desenvolvidas na perspectiva da Análise de Discurso Francesa (AD), especialmente num viés foucaultiano, no sentido de investigar a memória discursiva e a intericonicidade materializadas em Séverine e que compõem seus sentidos. Busco, assim, realizar uma leitura da visualidade dessa personagem icônica, entendendo tal visualidade enquanto um discurso que atualiza representações da mulher casta e da mulher profana na iconografia da história da arte ocidental.
Adoto o método de análise fílmica fundamentado em fotogramas, tal como proposto por Manuela Penafria (2009), aliado ao cruzamento de imagens proposto por Etienne Samain (2009), para pensar Séverine na contemporaneidade, considerando as formações discursivas, a memória discursiva e a intericonicidade que inscrevem formações imaginárias no corpo da mulher e interagem no processo de (re)-produção de identidades. O dispositivo analítico do cruzamento de imagens, evidenciará o funcionamento discursivo das imagens, bem como a operação da intericonicidade que consiste na “rede de reminiscências pessoais e de memórias coletivas que religam as imagens umas às outras” (COURTINE, 2013, p. 157).
A memória discursiva das imagens, agente da repetição dos discursos, é materializada nos discursos de produção iconográfica que compõem a rede mnemônica, a qual, por sua vez, é ampliada e recriada constantemente, produzindo um efeito de atualidade e novas materialidades discursivas e os sentidos que elas provocam. Evidenciar a ligação e a relação de imagens na perspectiva da intericonicidade possibilitará, neste estudo, a (re) leitura e investigar como se constroem as formações imaginárias que alimentam o imaginário cultural.
Bibliografia
- A BELA DA TARDE. Roteiro: Luis Buñuel e Jean-Claude Carrière. Direção: Luiz Buñuel. 1967. 1 filme; 101 min.; Son.; Color.; (1DVD).
COURTINE, Jean-Jacques. Decifrar o corpo: pensar com Foucault. Tradução de Francisco Morás. Petrópolis – RJ: Vozes, 2013.
ECO, Humberto. História da Beleza. Rio de Janeiro: Record, 2013.
PENAFRIA, Manuela. Análise de filmes – conceitos e metodologia (s). IV Congresso SOPCOM, abr. 2009. Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-penafria-analise.pdf. Acesso em 24 de março de 2019.
SAMAIN, Etienne. Como pensam as imagens. Campinas – SP: Editora Unicamp, 2012.