Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    NICOLE DONATO PINTO MACHADO (UFS)

Minicurrículo

    Mestranda em Cinema e Narrativas Sociais pelo PPGCINE-UFS, pesquisando Maya Deren e o cinema coreográfico. Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe (2021). Durante a graduação, participei do PIBIC “Cinema, cidade e produção de subjetividade”. Atuando principalmente em estudos de cinema e corpo. Diretora dos videoclipes “Tudo”, de Alex Sant’anna, e “Preciso Ir Embora”, de Taia. Montadora dos videoclipes “A.Lago”, “Ser” e “Dose de Amor”, de Taia.

Ficha do Trabalho

Título

    O coreocinema de Maya Deren e de Beau Travail

Seminário

    Cinema Comparado

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho propõe traçar encontros entre o cinema de Maya Deren e o filme “Beau Travail”, da cineasta francesa Claire Denis, através de suas abordagens formais dos corpos. Fundamentada nos conceitos de metadança audiovisual e cinedança, a análise da forma fílmica consolidada por Deren e das imagens realizadas pela coreografia corpo-câmera no filme de Denis encaminham este estudo para a compreensão das obras como Coreocinema, uma forma de arte em que Cinema e Dança colaboram singularmente.

Resumo expandido

    Através de teorias de cinema propostas por Maya Deren (1946, 1953), e de comentários sobre seus estudos e práticas cinematográficas em livro organizado por Bill Nichols (2001), encontramos na análise e decupagem de cenas de “At Land”(1944), “A Study in Choreography for Camera” (1945) e “Ritual in Transfigured Time” (1946) elementos do que Perez (2006) trata por cinedança. Em “Beau Travail” (1999), filme da cineasta francesa Claire Denis, é no conceito de imagens do corpo de Jean-Luc Nancy trazido por Morrey (2008), nos estudos de dança de Lepecki (2006) e Perez (2006), e na visão coreográfica de Denis que ancoramos as análises da coreografia corpo-câmera que permeia a obra. A partir disso, traçamos encontros entre os cinemas de Deren e Denis pela forma como os corpos neles aparecem, fundamentados nos conceitos de metadança audiovisual e do coreocinema, uma forma de arte que acreditamos que contempla as obras aqui estudadas.

    Sobre a forma fílmica de Deren, pudemos observar que seus pilares são a concepção de cinema vertical e da forma de arte ritual. Por cinema vertical, entendemos o construto poético de filmes que buscam operar por uma lógica de emoções ou de uma ideia central, ao invés de uma lógica de ações que move o cinema horizontal, narrativo, lírico. A verticalidade é, então, a sobreposição de camadas de sentido e significado que nos dão a profundidade emocional de um momento, mais do que apenas nos mostrar o que nele acontece. Para criar esses filmes, Maya Deren propõe uma forma de arte ritualística, em que os realizadores efetivem uma ideia pela manipulação consciente dos instrumentos à disposição – câmera e montagem – e assim possam criar uma realidade própria à obra. Essa ritualidade tem conexões com a antropologia e a dança moderna afroamericana de que Deren era próxima, particularmente através de Katherine Dunham.

    Em Beau Travail, encontramos uma direção singular de Claire Denis a respeito da visão coreográfica da relação entre os corpos e a câmera, construindo imagens dos corpos bem referenciadas no conceito abstrato do toque de Jean-Luc Nancy que revela uma aproximação e um recuo, uma subjetividade aberta ao mundo e ao outro. Assim, Denis coreografa com a câmera os corpos dos seus legionários: seja em sequências de treinamento que ilustram a relação exército e dança trazida por Perez (2006), ao mesmo tempo que desfazem a expectativa que o cinema tradicional poderia ter sobre subjetividade de militares, o que Lepecki (2006) atribui à superação da modernidade pela dança, trazendo novas interpretações e usos do movimento, seja em momentos de solidão dos personagens, em especial na dança final de Galoup, interpretada pelo viés do dançarino solitário de Lepecki (2006).

    Pudemos prosseguir, então, sugerindo contatos entre Maya Deren e Claire Denis, justamente no cruzamento das análises que fizemos sobre ambas isoladamente: a forma como constroem poeticamente seus filmes se efetiva por meio das coreografias corpo-câmera e da maneira como essa dança fílmica é finalizada na montagem. Para tanto, lançamos mão do conceito de metadança audiovisual de Perez (2006), que vê na fragmentação o cerne da composição coreográfica, seja ela na dança ou no cinema. Por isso, entende que os filmes onde a câmera e a montagem têm uma coreografia paralela à dos movimentos que apresentam obedecem a uma metadança audiovisual.

    Entendendo a metadança audiovisual como um método de construção e análise, partimos ao arremate deste estudo situando os filmes analisados como integrantes de uma forma de arte denominada como coreocinema. Nela, o corpo coreografado diante ou pela câmera é o elemento central da criação. Esse coreocinema informa cinematografias conectadas às possibilidades do corpo em movimento, das suas subjetividades, da criação artística como forma de realizar outros reais. É uma forma de arte mobilizadora de potentes criações imagéticas, cinematográficas, e mesmo acadêmicas.

Bibliografia

    CLEGHORN, Elinor. ‘One must at least begin with the body feeling’: Dance as filmmaking in Maya Deren’s choreocinema. Cinema Comparat/ive Cinema, vol 4, nº8: p. 36-42, 2016.

    DEREN, Maya. An anagram of ideas on art, form and film. New York: The Alicat Book Shop Press, 1946.

    ______. Palestra proferida no simpósio Poetry and the Film, 1953. Disponível em: .

    LEPECKI, André. Exhausting Dance: Performance and the politics of movement. Nova
    Iorque: Taylor & Francis e-Library, 2006.

    MORREY, Douglas. Open wounds: body and image in Jean-Luc Nancy and Claire Denis.
    Film-Philosophy, vol. 12, nº1: p. 10-30, 2008.

    NICHOLS, Bill (ed). Maya Deren and the american avant-garde. Los Angeles: University
    of California Press, 2001.

    PEREZ, Juan B.P. El coreógrafo-realizador y la fragmentación del cuerpo en movimiento
    dentro del film de acción y el film de danza. Orientador: Gema Hoyas Frontera. Tese
    (Doutorado). Universidade Politécnica de Valencia, Espanha