Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Paula Málaga Carreiro (UNESPAR)

Minicurrículo

    Ana Paula Málaga Carreiro é formada em Publicidade e Propaganda (PUCPR), em Cinema (UNESPAR), pós-graduada em Comunicação Audiovisual (PUCPR) e atualmente é mestranda no PPG-CineAv da UNESPAR (Orientadora: Rosane Kaminski). Desde 2009 desenvolve trabalhos autorais de fotografia e desde 2007 trabalha como produtora cultural, tendo produzido filmes, mostras e festivais de cinema. Em sua pesquisa de mestrado investiga relações entre cinema, fotografia e memória em curtas documentais brasileiros.

Ficha do Trabalho

Título

    Acervos fotográficos familiares na criação de narrativas audiovisuais

Seminário

    Outros Filmes

Formato

    Presencial

Resumo

    A presente comunicação analisará três curtas-metragens documentais brasileiros que fazem usos de fotografias analógicas produzidas na esfera familiar para refletir sobre a transmissão e ressignificação de memórias a partir de acervos particulares. Partindo dos filmes “Vó Maria” (Tomás von der Osten, 2011), “Inconfissões” (Ana Galizia, 2018) e “Antes de ontem” (Caio Franco, 2019), será discutida a forma como os curtas reformulam histórias contadas pela família a partir de imagens de arquivo.

Resumo expandido

    Muitas famílias brasileiras mantêm vivas suas memórias através de álbuns ou caixas repletos de fotografias analógicas. Segundo Ana Maria Mauad, “o ato fotográfico arraigou-se de maneira tal na construção das memórias familiares, na sociedade ocidental, que é impossível falar sobre o passado sem ter como incentivo de rememoração as imagens fotográficas” (2001, p.158). Mas não basta apenas armazenar esses arquivos, as histórias dos personagens e paisagens contidos neles também precisam ser guardados e passados para outras gerações. Através da conservação e armazenamento dessas fotografias, algumas pessoas se tornam os “guardiões de memórias”, indivíduos que organizam as imagens familiares em álbuns, caixas e também carregam consigo histórias orais da família (MAUAD, 2001, p.158).
    Alguns curtas-metragens documentais brasileiros lançados a partir de 2010 e que circularam por festivais de cinema nacionais e internacionais, fazem uso de imagens fotográficas analógicas scaneadas para revisitar memórias de membros das famílias dos diretores. Os acervos particulares de tios, pais, mães, bisavós e também da infância dos próprios realizadores servem como ponto de partida para a criação de materiais audiovisuais que têm como objetivos rever as histórias contadas pelos guardiões das memórias desses álbuns. Será que as histórias que ouvimos até hoje são as únicas narrativas que essas imagens podem contar?
    A presente comunicação pretende analisar três curtas-metragens documentais brasileiros que fazem usos de fotografias analógicas produzidas na esfera familiar para refletir sobre a transmissão e ressignificação de memórias a partir de acervos particulares. Partindo dos filmes “Vó Maria” (Tomás von der Osten, 2011), “Inconfissões” (Ana Galizia, 2018) e “Antes de ontem” (Caio Franco, 2019), analisaremos a forma como os realizadores revisitam e reformulam as história contidas nessas imagens que são, mesmo tempo, tão familiares e tão distantes para eles.
    Na construção do roteiro e na direção desses curtas, através da montagem e da construção sonora, realizadores jovens – alguns deles inclusive produziram os filmes em contextos universitários – questionam memórias que suas famílias contaram e criam novas histórias sobre seus parentes e sobre si mesmos.
    Por se tratar de materiais audiovisuais que nascem de imagens de arquivo, é preciso levar em conta que nesse contato com fotografias guardadas pela família, nem todas as informações são dadas de maneira direta e clara. Ao nos depararmos com esses álbuns encontramos fragmentos, fotos que não sabemos de onde foram tiradas, cartas sem remente, filmes sem autor ou locação definida. Há a imagem, há informações e, junto com elas, há dúvidas. Como afirma Didi-Huberman, “o próprio do arquivo é a lacuna, sua natureza lacunar” (2012, p.210).
    Nos filmes aqui analisados, os três realizadores encaram essas lacunas e refletem sobre memória e esquecimento pelos olhos de três gerações de mulheres de uma mesma família (no caso de “Vó Maria”, de Osten); sobre as ficções e narrativas escondidas nas histórias contadas por uma família brasileira de classe média, branca e heteronormativa (em “Inconfissões, de Galizia); e também como o revisitar desses álbuns fotográficos de infância podem suscitar questionamentos sobre a forma como nós mesmos nos vemos (no caso de “Antes de ontem”, de Caio Franco).
    Partindo de acervos fotográficos familiares, essa comunicação busca refletir sobre as diversas camadas que esse encontro entre cinema e fotografia podem apresentar quando refletimos sobre memória. Mesmo tratando de documentários, as ficções se tornam presentes a partir do momento em que as informações fornecidas por outros familiares passam a ser revistas e recontadas pelos realizadores desses títulos. Afinal, como afirma Dubois, “uma foto esconde sempre (pelo menos) uma outra, embaixo dela, atrás dela, em torno dela.” (2021, p.35)

Bibliografia

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tocam o real. In: Revista Pós. Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.
    DUBOIS, Philippe. A imagem-memória ou a mise-en-film da fotografia no cinema autobiográfico moderno. Revista Laika, USP, 2012.
    LINS, Consuelo; BLANK, Thais. Filmes de família, cinema amador e a memória do mundo. Significação-Revista de Cultura Audiovisual, v. 39, p. 52-74, 2012.
    LINS, Consuelo.; MENEZES, Adriana Cursino. O tempo do olhar: arquivo em documentários de observação e autobiográficos. Conexão (UCS), v. 9, p. 87-99, 2010.
    MAUAD, Ana Maria. Fragmentos de memória: oralidade e visualidade na construção das trajetórias familiares. Projeto História (PUCSP), São Paulo, v. 22, junho, p. 157-169, 2001.
    SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
    VALE, Glaura Cardoso. A mise-en-film da fotografia no documentário brasileiro e um ensaio avulso. – 2. Ed – Belo Horizonte (MG): Relicário Edições/Filmes de Quintal, 2020.