Ficha do Proponente
Proponente
- Filipe Brito Gama (UFF/UESB)
Minicurrículo
- Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCINE) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e Realizador audiovisual independente.
Ficha do Trabalho
Título
- Os cinemas pela Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Formato
- Presencial
Resumo
- A presente comunicação busca analisar a exibição cinematográfica nas três primeiras décadas do século XX nas principais cidades da rota da Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, que ligava Salvador ao Norte do estado. Observando a bibliografia existente e analisando alguns jornais locais, pretende-se apresentar os cinemas do referido período nas cidades de Alagoinhas, Serrinha, Senhor do Bonfim e Juazeiro, bem como na vizinha Petrolina, em Pernambuco.
Resumo expandido
- Nas últimas décadas do século XIX, a cidade de Salvador passou por transformações importantes no campo das diversões, com a presença constante de atrações visuais diversas, bem como novos dispositivos e máquinas relacionados a reprodução de imagens e sons, circulando também pelo interior (GAMA, 2021). O kinetoscópio, juntamente com um fonógrafo, foi apresentado na capital do estado em 1895, pelo professor Kij, e em 1897 foi a vez da estreia do cinematógrafo como atração principal (FONSECA, 2002).
Mas o processo de interiorização da exibição cinematográfica na Bahia ainda é pouco pesquisado, constituindo-se como um campo fértil, mas desafiador, para realização de novos trabalhos. O deslocamento de exibidores ambulantes da capital para o interior nos últimos anos do século XIX já é apontado na obra pioneira de Boccanera Júnior (2007), ao tratar da partida de Antonio de Oliveira Brancão e João Capistrano de Sousa de Salvador para Cachoeira e Nazaré em 1899 e de um italiano, que ele não cita o nome, para Alagoinhas, após a exibição no Teatro São João no mesmo ano.
No fim do século XIX e início do século XX, o deslocamento para algumas cidades mais distantes podia ser feito por via férrea ou por transportes hidroviários, em rotas marítimas ou fluviais, especialmente para cidades que já possuíam portos. As primeiras mobilizações para construção da Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco datam de 1852, chegando ao ponto final em 1896. Para o presente trabalho, nos interessa analisar a exibição cinematográfica nas três primeiras décadas do século XX nas principais cidades dessa ferrovia, que são: Alagoinhas, Serrinha, Senhor do Bonfim e Juazeiro, incluindo também Petrolina.
Ainda há poucas informações sobre a década de 1900, provavelmente um período com atividades dos exibidores ambulantes nessas cidades. A primeira menção à atividade desses exibidores encontrada até agora foi com a empresa Cinema Brasil, dos Irmãos Castro, que atuou em Bonfim e Serrinha no final de 1912 (SILVA, 2018), e depois esteve em novembro de 1916 em Petrolina, de acordo com as publicações do jornal O Pharol.
Na cidade de Alagoinhas, mais próxima a Salvador, tem-se uma referência a dois espaços de exibição existentes já na década de 1910, quando Harry A. Frank (1921, p. 373) comenta sobre “dois grandes e bem montados cinemas”, entre eles o Cinema Popular. Nos anos 1920, de acordo com Lizandra Lima (2018), a única menção é ao mesmo Popular Cinema, de propriedade de João Caldeira, que funcionava as quintas e domingos. Em Serrinha, de acordo com Franco (1996) os espaços de exibição se estabeleceram ainda na década de 1910, citando os cineteatros Capitólio e Glória, e em 1918 o Íris, que segundo o autor era “mais organizado”. Na década seguinte surgem o Leobino e o Confiança, este último mudando de nome para Pérola em 1926 (SILVA, 2018).
Sobre Bonfim, Silva (2018) indica que a primeira sala de projeção com atividades regulares foi o Cinema Royal, exibindo fitas já em 1913, e destaca também a presença de um “cinema falante” em 1917. Ainda nos anos 1910, surge o Cine Confiança, que na década seguinte se torna Cine Bonfim, além do Cine Popular, que teve curta duração. Juazeiro foi a cidade com menor presença de espaços regularmente voltados à atividade cinematográfica na década de 1910, ainda cabendo maiores investigações. No jornal O Pharol de 24 de setembro de 1922, há o anúncio de dois cinemas: em Juazeiro, o Cinema União, de Damazio & Irmão, funcionando no Teatro Santana, posteriormente dando lugar ao Cine Theatro Ideal; em Petrolina o Cinema Íris, do Sr. Andry, que teve curta atividade e passa a se chamar Cine 21. A partir de 1924 iniciava a atividade do Cine Theatro Independência.
Assim como em outras atividades artísticas, como o teatro e o circo (SILVA, 2018), a presença da estrada de ferro teve forte impacto no comércio cinematográfico da região. Os cinemas, mesmo com operações precárias e irregulares, foram espaços importantes de lazer nessas cidades.
Bibliografia
- BOCCANERA JÚNIOR, Silio. Os cinemas da Bahia, 1897-1918. Salvador: EDUNEB/EDUFBA, 2007.
GAMA, Filipe Brito. Dispositivos, máquinas e cinematógrafos na Bahia do Século XIX. Vivomatografías, n. 7, diciembre de 2021, pp. 71-97.
FRANCO, Tasso. Serrinha: A colonização portuguesa numa cidade de sertão da Bahia. Salvador: EGBA/Assembleia Legislativa, 1996.
FRANK, Harry A. Working North from Patagonia: Being the Narrative of a Journey Earned on the Way, Through Southern and Eastern South America. Nova York: The Century, 1921.
FONSECA, Raimundo Nonato da Silva. “Fazendo fita”: cinematógrafos, cotidiano e imaginário em Salvador, 1897-1930. Salvador: EDUFBA/Centro de Estudos Baianos, 2002.
LIMA, Lizandra de Souza. Percepções históricas sobre o lazer e a educação nas práticas de sociabilidade em Alagoinhas-BA. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal da Bahia, 2018.
SILVA, Reginaldo Carvalho da. Dionísio pelos trilhos do trem: circo e teatro no sertão da Bahia. Curitiba: CRV, 2018.