Ficha do Proponente
Proponente
- Luiz Fernando Wlian (UNESP)
Minicurrículo
- Pesquisador e professor doutorando em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente pesquisa poéticas e estéticas queer no cinema e audiovisual contemporâneo, bem como suas possíveis relações com fenômenos sociais, tecnológicos e estéticos do capitalismo tardio.
Ficha do Trabalho
Título
- Alegres, apesar de tudo: estéticas queer no audiovisual contemporâneo
Formato
- Presencial
Resumo
- O audiovisual queer demonstra profícua ascensão no cenário artístico brasileiro, bem como experiências estéticas críticas à sociedade contemporânea. Que espectros de sensibilidade podemos observar nessa produção? Partindo de teorias queer (EDELMAN, 2004; HALBERSTAM, 2011; MUÑOZ, 2009), propomos uma análise de filmes do realizador Sosha para empreender uma possível chave de leitura estética baseada na ideia de “alegria”. Inspiramo-nos, sobretudo, na “regência da alegria” em Muniz Sodré (2006).
Resumo expandido
- “A alegria é autopotenciadora. Não é uma experiência, mas é certamente o que a possibilita, por ser um evento da espontaneidade. Por isto, não existe propriamente o sujeito da alegria. Há, sim, o sujeito da emoção, o objeto da sensação, mas alegria é regência, algo que possibilita experiências e sujeitos” (SODRÉ, 2006, p. 218-219). Ao partirmos da ideia de alegria como regência, a trazemos para refletir sobre nosso tema: a produção audiovisual queer contemporânea no Brasil, e suas estratégias de engajamento pelo sensível.
O cinema e audiovisual com poéticas queer demonstra profícua ascensão no cenário artístico brasileiro recente, bem como bastante fôlego para promover experiências estéticas inventivas e críticas à sociedade contemporânea. Nesse ínterim, pensamos que espectros de sensibilidade podemos observar nessa recente produção. Diversos conceitos e chaves de leitura estética podem ser tomados de empréstimo das teorias queer (EDELMAN, 2004; HALBERSTAM, 2011; MUÑOZ, 2009, etc.) para pensar esse audiovisual, da mesma forma que parte dele parece ser informada por tais conceitos e chaves de leitura. Contudo, diante da diversidade temática, poética e estética que esse cinema tem apresentado, interessa-nos investigar que outros regimes estéticos podem ser mobilizados nele, bem como quais as potencialidades e limites das chaves de leitura que já conhecemos. Que novas ideias podemos propor para analisar o cinema queer contemporâneo? Que formas de sensibilidade podem ser performadas por esse cinema?
Norteados por essas questões, debruçamo-nos sobre parte da produção audiovisual queer recente no Brasil, aqui encarnada por curtas-metragens do realizador recifense Sosha. Os filmes “Recife XXI” (2014), “Metrópole” (2013) e “A Lenda do Galeto Vegano” (2016). Filmes irreverentes que não apenas demonstram prolíficas marcas de estilo do realizador, como encarnam de forma proeminente aspectos amplamente compartilhados em poéticas e estéticas queer contemporâneas no Brasil. Filmes que se valem da precariedade para estetizar a dissidência dos corpos em cena e imprimi-la na própria linguagem cinematográfica.
Por meio da análise, buscamos enunciar uma possível “alegria queer” como chave de leitura estética, ao identificarmos nos filmes uma potência afetiva atualizada em um aqui e agora intenso que, mesmo diante das opressões e controvérsias do “mundo real”, traz prazer e potência de vida mobilizados nos corpos, nos gestos, nas performances, nas propostas cênicas. Para pensar tal ideia de alegria, apropriamo-nos do conceito de afeto, como partilhado por teóricos herdeiros do pensamento espinosano e da “virada afetiva” (DELEUZE, 2002; DEL RÍO, 2008; CLOUGH, 2008; SHAVIRO, 2006; MASSUMI, 2015), bem como da fenomenologia queer em Sara Ahmed (2006) e, de forma preponderante, do conceito de regência da alegria em Muniz Sodré (2006).
Acreditamos que o cinema e audiovisual queer contemporâneo no Brasil, em sua inventividade e diversidade poética e estética, para além de dialogar em maior e menor grau com conceitos e chaves de leitura já bastante difundidos nos estudos queer, pode também compor uma “mimese da alegria”. Mimese, aqui, não como em seu entendimento platônico de “cópia”, mas em seu entendimento aristotélico de “jogo”. Um “jogo de alegria” baseado em eventos afetivo-performativos que, construídos da dissidência e da precariedade, sinalizam novas formas de sentir e de pensar em experiências estéticas dissidentes na contemporaneidade.
Bibliografia
- AHMED, Sara. Queer phenomenology: orientations, objects, others. Durham: Duke University Press, 2006.
CLOUGH, Patricia. The affective turn: political economy, biomedia and bodies. Theory Culture Society, v. 25, n. 1. 2008.
DELEUZE, Gilles. Espinosa: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.
DEL RÍO, Elena. Deleuze and the cinemas of performance: powers of affection. Edinburg: Edinburg University Press, 2008.
EDELMAN, Lee. No future: queer theory and the death drive. Dunham and London: Duke University Press, 2004.
HALBERSTAM, J. The queer art of failure. Durham and London: Duke University Press, 2011.
MASSUMI, Brian. Politics of affects. Cambridge: Polity Press, 2015.
MUÑOZ, José Esteban. Cruising utopia: the then and there of queer futurity. New York: New York University, 2009.
SHAVIRO, Steven. The cinematic body. Minneapolis and London: University of Minnesota Press, 2006.
SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Petrópolis: Vozes, 2006.