Trabalhos Aprovados 2022

Ficha do Proponente

Proponente

    Felipe Davson Pereira da Silva (UFF)

Minicurrículo

    Graduado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Doutorando em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi pesquisador da Cinemateca Pernambucana. Atualmente desenvolve pesquisas sobre a História do Cinema em Recife no período silencioso, com ênfase na formação de um circuito exibidor na década de 1910.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinematographo Sensual: o caso do “Cinema Alegre” em Recife (1915)

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho busca analisar as dinâmicas que envolveram uma sala de cinema dedicada a exibição de filmes adultos em Recife, no ano de 1915. Por conta do estabelecimento exibir esse tipo de fita, a imprensa pejorativamente o apelidou de “Cinema Alegre”. Tal espaço sofreu duras acusações, sendo obrigado a encerrar suas atividades por ordem judicial. Nossa metodologia será o paradigma indiciário (GINZBURG, 2007), tendo como principal fonte os jornais da época.

Resumo expandido

    Em janeiro de 1915, um estabelecimento cinematográfico abriu suas portas na Rua da Detenção, no bairro de São José, em Recife. Mas, diferente das outras salas quando inauguravam, não fora divulgado o nome do cinema, a programação, o valor do ingresso, nem os horários das exibições. Mas o que foi veiculado na imprensa sobre essa casa? Qual a importância de um espaço que não nos oferece informações suficientes sobre seu funcionamento?
    Nos anos 1910, Recife já contava com diversas salas distribuídas em vários bairros, com um circuito exibidor se constituindo. Os jornais noticiavam diariamente a programação dessas casas, bem como aberturas, reformas, fechamentos, taxas, cartas de frequentadores, anúncios de agências, venda ou aluguel de equipamentos e películas, dentre outras coisas. Dessa maneira, o cinema se inseria no tecido social da cidade.
    Mas, no começo do ano de 1915, a atenção se voltou para um episódio, noticiado como o caso do “Cinema Alegre”, ou “Cinema Livre”. Pouco tempo após sua abertura, figuras dos setores médios urbanos se pronunciaram e opinaram contra o estabelecimento, a imprensa veiculou textos e cartas de representantes da igreja, de associações, de juristas, do chefe da polícia, do prefeito e de escritores conhecidos no período. Nossa investigação se debruça nos textos produzidos pelos detratores, na medida em que passamos a conhecer essa sala pelos fragmentos deixados por eles.
    Os autores buscaram trazer questões referentes à moralidade, ao combate à pornografia, à família no que tange a honra, à justiça e à fiscalização de lugares para divertimento e lazer pelos agentes públicos, focados na Prefeitura e na Polícia, na tentativa de estabelecer uma opinião que fosse contra o “Cinema Alegre”. Com a pressão exercida por frações da sociedade recifense, o estabelecimento fecha suas portas, devido à cassação da licença pelo prefeito e, dessa forma, se inicia uma batalha judicial entre a manutenção e fechamento do espaço, que vai culminar no seu encerramento, com suas peças indo a leilão.
    A principal acusação seria referente à questão da honra e da moral, sobretudo ligado às figuras da mulher e da criança. Ao se frequentar esse tipo de estabelecimento, proliferaria entre os lares e os jovens a mais perversa promiscuidade. O debate em torno da honra na Primeira República era relevante, assim como a representação que a mulher adquire nesse período como o símbolo da família. Fugir desses padrões era corromper o bem estar social vigente.
    Também podemos observar como a imprensa acabava por ajudar os leitores a figurar um lado dessa situação, a partir do momento em que praticamente só divulgava textos contra a sala. Notamos o papel “civilizador” que os jornais se atribuíam, e como se projetavam como representantes da ordem moral e dos valores familiares e nacionais.
    Nesse sentido, buscaremos, a partir das informações mencionadas acima, entre outras, verificar como o caso do “Cinema Alegre” se insere no âmbito de um processo em formação na Primeira República, que buscava combater, dentre outras coisas, a “degeneração” dos costumes, e para isso criava mecanismos de vigilância e controle contra hábitos que fossem considerados imorais e “ferissem” a honra da população.
    Além de, perceber quais conexões eram estabelecidas entre o circuito exibidor, à imprensa e os setores médios urbanos para a criação de uma cultura cinematográfica distinta e controlada. Como o caso do “Cinema Alegre” desempenha um papel importante para compreendermos essa dinâmica social.
    A metodologia ficará a cargo do paradigma indiciário proposto por Carlo Ginzburg (2007). Método de critica textual que a partir dos vestígios deixados pelo tempo nos propicia a inferir conjecturas sobre a inserção do cinema na sociedade recifense nos anos de 1910. Consideramos fontes em torno de 50 veiculações sobre este cinema, publicadas pelos principais jornais em circulação da época: A Província, Diário de Pernambuco, Jornal do Recife e o Jornal Pequeno.

Bibliografia

    CLAIZONI, Débora Halide. A ordem pelo avesso: criminalidade e condição feminina no Recife (1890-1920). Dissertação (Mestrado em História) Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013.
    GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
    LAPERA, Pedro Vinicius Asterito. Entre “alegres” e “livres”! Prazer e repressão à pornografia nos cinemas do Rio de Janeiro (1907-1916). E-compós (Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação), v. 22, jan–dez, publicação contínua, 2019, p. 1–24.
    SANTOS, Katharine Nataly Trajano. “Afinal, uma semana sem kung-fu, mas com muito palavrão e mulher pelada”: pornochanchadas e recepção no recife (1975-1980). Dissertação (Mestrado em História) Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2021.